A era da medicina genômica já chegou para alguns pacientes oncológicos. A análise do DNA de determinados tumores, como o de mama, o glioblastoma e as leucemias, tem ajudado a personalizar o tratamento, ao identificar as mutações responsáveis pela replicação desordenada das células. Assim, é possível escolher o medicamento mais adequado, com maiores chances de vencer o câncer.
Contudo, esse método também pode mascarar determinadas alterações, levando o clínico a optar pela terapia errada. O alerta é de um estudo da Faculdade de Saúde Johns Hopkins, nos Estados Unidos, publicado na revista Science Translational Medicine. A solução, de acordo com os pesquisadores, é sequenciar também o tecido saudável, uma prática muito pouco usada atualmente.
Os pesquisadores analisaram o genoma tumoral de 815 pacientes com 15 diferentes tipos de câncer, incluindo os de cérebro, mama e pulmão. Eles estudaram o resultado apenas do tecido doente e, depois, compararam os dados obtidos ao sequenciamento do tecido saudável. “Nós descobrimos que as análises apenas do tumor fornecem informações imprecisas”, contou Victor Velculescu, principal autor do estudo, em uma teleconferência transmitida pela internet. “O sequenciamento somente do tumor identificou um número de mudanças nas sequências que não tinham a ver com o câncer, ou seja, eram alterações ‘falso positivas’. Algumas delas ocorrem em genes que já são alvo de terapias personalizadas e poderiam, portanto, levar os médicos a adotar tratamentos inadequados”, revelou.
A médica imunologista Angela Colmone, editora associada da revista, explicou que nem toda variante representa, de fato, um risco à saúde. “Por todo o corpo, existem mutações normais, que em nada contribuem para o crescimento do tumor. Quando se vê as variantes apenas no câncer, isso pode levar o médico a crer que elas têm responsabilidade sobre a doença e, caso existam medicamentos-alvo para atacá-las, naturalmente esse será o foco da terapia. Mas a pesquisa apresentada agora mostra que a análise apenas do tumor pode não ser suficientemente precisa porque muitas mutações identificadas no câncer também existem no tecido saudável — portanto, elas não têm de ser combatidas, já que não são elas que estão contribuindo para a doença.”
No sequenciamento do tumor, os pesquisadores identificaram, inicialmente, 382 alterações que poderiam estar relacionadas ao surgimento do câncer. Em seguida, eliminaram mutações germinativas — variações nas células germinais, que serão herdadas pela descendência e estarão presentes em cada célula do corpo sem, contudo, provocar danos. Mesmo depois desse pente-fino, quando os cientistas compararam o sequenciamento do tumor ao sequenciamento dos tecidos saudáveis, constataram que 249 mutações — 65% do total encontrado — eram falsos positivos. Elas estavam nos tumores, mas também nas células sadias e, portanto, não tinham nada a ver com o câncer.
Matéria completa publicada por Correio Brasiliense.
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/
Foto: Christoph Bock, via Wikimedia Commons