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MP investiga uso de próteses falsas em pacientes no Rio Grande do Sul

protese1O Ministério Público investiga a suspeita de um esquema criminoso que utiliza próteses de má qualidade e até peças falsas em cirurgias realizadas no Rio Grande do Sul. A suspeita é de que peças são clonadas, já que o número de registro que aparecem nas notas fiscais não correspondem com os cadastrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Ou é falso o sistema da Anvisa ou é falso o produto que foi vendido pela empresa pra implantação do cidadão lá no hospital”, afirma o procurador da República Pedro Antônio Roso, que investiga o caso.

Jorge Correa Paz, morador de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, realizou uma cirurgia na coluna há oito anos. Porém, o que seria a solução para as dores, se tornou um problema ainda maior. “Fiquei pior. Achei que depois da cirurgia ia conseguir fazer alguma coisa, mas… Daí ele (o médico) me disse: ‘trabalhar, não pode mais’”, relata o ex-pedreiro.

O drama de Jorge é parecido com o vivido pela aposentada Rosalina Carvalho da Rosa. Ela passou por um procedimento cirúrgico para eliminar dores na coluna. No entanto, o problema foi agravado pela prótese utilizada. Ela teve que fazer uma nova cirurgia para retirar os parafusos da coluna. “Eu fazia todo o serviço da casa. Agora, não posso fazer mais nada. Não posso me abaixar… Até para tomar banho, na hora de secar os pés, meu marido tem que vir me ajudar. Dói muito”, conta.

Especialistas da Laboratório de Metalurgia Física Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) divulgaram um estudo feito sobre a qualidade das próteses no país. Em 2013, foram encontrados problemas na fabricação de 27% de 213 implantes de quadril e joelho vendidos no Brasil. 62% das próteses nacionais de quadril, por exemplo, tinham problema no acabamento. “Se o implante não tem a qualidade desejada, uma cirurgia que é para resolver um problema pode gerar um problema maior ainda”, alerta o engenheiro metalúrgico da UFRGS Ralf Wellis de Souza.

Há 12 anos, o aposentado Aristides Monteiro Filho foi vítima de uma prótese de má qualidade. Quatro meses depois da cirurgia, o implante precisou ser retirado. Um lado feito pelo Laboratório de Metalurgia Física confirmou a suspeita. “Fiquei revoltado. Consta no laudo dessa prótese que ela tem um material impróprio para ser utilizado no corpo humano. Um material chamado ferrite, que pode causar sérios problemas, inclusive levar o paciente à morte”, indigna-se o aposentado.

Para Telmo Roberto Strohaecker, coordenador do Laboratório de Metalurgia Física da UFRGS, a Anvisa deveria fiscalizar melhoras as fábricas brasileiras. “O mercado tinha que ser melhor controlado. Tinha que ter uma exigências maiores, cobrar a maior qualidade do produto pela agência responsável”, diz. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária garante que tomou providências após a conclusão do estudo. “Das inspeções realizadas, dependendo da gravidade do problema encontrado, a Anvisa aplicou multas, fez interdição e a suspensão de produtos”, relata Jarbas Barbosa, diretor-presidente da Anvisa.

O problema não está somente na indústria nacional. Segundo o estudo da UFRGS, 47% das próteses de joelho importadas também apresentaram defeitos de microestrutura. “Essa pesquisa foi extremamente positiva porque ela propicia que muitos pontos dos produtos analisados, tanto os nacionais quanto os importados, poderão ser corrigidos no futuro”, analisa Paulo Henrique Fraccaro, superintendente Associação das Indústrias de Próteses.

O presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Marco Antônio Percope de Andrade admite que o número de problemas em próteses nacionais é elevado. “Mais de 50% das pessoas vão estar sujeitos a algum tipo de desgaste”, calcula. O aposentado Aristides Monteiro questiona a eficiência na reparação dos danos causados. “O paciente vai reclamar pra quem? É aquela história, vai entrar na Justiça e 20 anos depois sai um resultado”, lamenta.

Desde janeiro, após reportagem exibida no Fantástico, a máfia das próteses é investigada. Empresas distribuidoras de implantes foram flagradas oferecendo comissões a médicos, que muitas vezes fazem cirurgias desnecessárias e até com materiais vencidos.

Duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) foram instaladas no Congresso Nacional e uma na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Investigações foram abertas pelas polícias Federal e Civil, e o Governo Federal anunciou medidas para regular o setor. As empresas distribuidoras se comprometeram a combater os esquemas. Até um disque-denúncia foi criado, pelo telefone 0800-741-0015.

Fonte: http://g1.globo.com/

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