Pediatria, clínica médica, cirurgia geral e ginecologia são as áreas. Especialidades como genética e cirurgia da mão estão em escassez.
Por Michelle Barros
Do G1 São Paulo/Jornal Hoje
Segundo o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, um terço dos médicos do estado se concentra nas áreas de pediatria, clínica médica, cirurgia geral e ginecologia. Com isso, já tem paciente reclamando da falta de especialistas.
Gabrielly, de oito anos de idade, não fala, ouve com dificuldade e tem outras complicações físicas. “Quando ela nasceu, que ela foi pra UTI, a gente imaginava que era uma coisa. Quando veio pra casa, tinha uma rouquidão muito grande, a gente não sabia o que era”, relata a mãe da menina, Livia Cezar.
Há quatro anos, veio o diagnóstico: Gabrielly tem mucopolissacaridose, uma doença genética causada pela falta ou carência de enzimas e, por conta disso, precisa de acompanhamento médico especializado com um geneticista. Só que a mãe dela penou até conseguir a primeira consulta na rede pública: “Depois de descobrir a síndrome, demoramos um ano e meio. Você fica na fila, anos e anos. Eu conheço mães que têm criança com 11 anos e ainda não passou no geneticista, nunca passaram”.
No país todo há apenas 241 geneticistas. É a especialidade que tem menos profissionais trabalhando e os poucos médicos que têm se concentram no Sudeste, mais da metade deles. Por isso, pacientes de vários cantos do Brasil vão para a região em busca de tratamento.
“O curso de medicina ensina as doenças mais frequentes, mais comuns. Sobre doenças raras muitos médicos não têm noção, não tem conhecimento. E como exige muito estudo, tem que estudar, pesquisar, aí não tem tantos procedimentos, vamos dizer assim, então, a procura não é tão concorrida como nas outras especialidades. A porta é muito estreita para uma grande demanda clínica”, explica Chong Ae Kim, geneticista e professora da faculdade da Universidade de São Paulo.
Além da genética, outras especialidades vivem a escassez de médicos interessados no Brasil: cirurgia da mão, radioterapia, medicina esportiva, medicina nuclear e medicina física e reabilitação. Em São Paulo, 37,4% dos médicos se especializaram em pediatria, clínica médica, cirurgia geral e ginecologia e obstetrícia.
“Nos preocupa mais a questão que envolve a cirurgia de mãos e a gente sabe que no país e no estado é crescente a causa de morte e incapacidade das pessoas por traumas. Nos preocupa também a pouca disponibilidade para o público de radioterapeutas, porque envolve o tratamento do câncer, que é uma doença bastante prevalente nas sociedades”, explica o presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Mauro Aranha.
O Conselho Regional de Medicina ainda não tem uma explicação para essa falta de especialistas, mas em uma pesquisa recente descobriu que boa parte deles está nas regiões mais ricas. “Onde existem boas condições de trabalho, no sentido de efetividade do seu trabalho e onde a educação médica é continua. Portanto, as faculdades de medicina de boa qualidade e com residências médicas de boa qualidade se concentram nas grandes cidades do estado”, afirma Mauro.
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