Estudo da USP usa quimioterapia mais intensa aliada a transplante de células-tronco para controlar diabetes

Terapia para livrar paciente do uso da insulina consiste em ‘desligar’ o sistema imunológico. Segundo pesquisadores, prática não cura diabetes tipo 1, mas preserva parte do pâncreas para produzir hormônio

 

Por Jornal da EPTV 2ª edição

 

Duas vezes por ano, o veterinário Otávio de Jesus Costa viaja de São Luiz do Maranhão (MA) até Ribeirão Preto (SP) para fazer exames no Hospital das Clínicas da USP. Em 2011, ele foi diagnosticado com diabetes tipo 1, mas graças ao tratamento com transplante de células-tronco realizado na unidade, deixou de usar insulina diariamente. “Passei a ter o controle da alimentação, a fazer exercícios físicos regulares, e isso me deu uma qualidade de vida muito melhor. A insulina, queira ou não, é um inconveniente na vida das pessoas. Então, para mim, esse tratamento ajudou demais”, diz.

A terapia consiste em “desligar” o sistema imunológico do paciente através de sessões agressivas de quimioterapia. Depois, os médicos introduzem na corrente sanguínea as células-tronco que foram retiradas, previamente, da medula óssea do próprio paciente. Costa é um dos três que participaram da primeira fase do estudo e que continuam livres das injeções de insulina até hoje. Outros 21 pacientes obtiveram resultado positivo temporário: na média, o efeito terapêutico durou três anos e meio.

“Percebemos que o problema foi a quimioterapia insuficiente. Então, nós sabemos que aqueles pacientes que voltaram a usar insulina é porque o sistema imunológico voltou a agredir o pâncreas”, explica a imunologista Maria Carolina de Oliveira Rodrigues.

 

Nova fase
O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, ou seja, o próprio sistema imunológico destrói as células do pâncreas responsáveis por produzirem insulina. A partir da primeira fase do estudo, os pesquisadores descobriram que nos pacientes que ficaram “curados” as células de imunidade foram menos ativas, ou seja, atacavam menos o pâncreas. A descoberta abre caminho para melhorar os resultados do tratamento, com a promessa de deixar todos os pacientes livres das aplicações de insulina. Por isso, na segunda fase da pesquisa, o objetivo é aumentar a dose de quimioterapia com o objetivo de “apagar” quase que completamente o sistema imunológico.

“A gente está tentando ver o que essa quimioterapia intensiva é capaz de fazer em longo prazo e o nosso grande desafio é manter o paciente sem insulina usando um protocolo de pesquisa que não seja tão agressivo”, diz o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, um dos coordenadores do estudo. Inicialmente, participaram voluntários entre 12 e 35 anos de idade. Agora, a faixa etária é a partir de 18 anos, já que a quimioterapia é mais agressiva. Além disso, são exigidos pacientes com até seis semanas de diagnóstico, porque ainda têm entre 15% e 20% do pâncreas preservado, ou seja, produzindo insulina.

A imunologista destaca ainda que o tratamento só é eficaz se for aliado à mudança de hábitos do paciente, que precisa manter uma vida saudável, com controle rigoroso do colesterol, e deve ainda monitorar a taxa de glicemia diariamente. Isso porque, apesar de regular, nunca será como a de uma pessoa sem diabetes. “Depois do transplante, até aumenta um pouco essa produção, mas não fica normal, é o suficiente para controlar o açúcar do sangue, mas fazendo regime, exercícios físicos. Não pode ter uma vida desregrada”, completa Maria Carolina.

 

Foto: Reprodução/EPTV

A ciência comprova: abstinência de internet afeta a saúde

Um novo estudo mostrou que pessoas com ‘abstinência de internet’ apresentam aumento da frequência cardíaca, da pressão sanguínea e da ansiedade

 

Por Veja Online

 

A expressão ‘abstinência de internet‘ parece exagerada? Pois saiba que não é. Um estudo publicado na quarta-feira, no periódico científico PLOS ONE, mostrou que a abstinência de internet é um problema real que causa problemas fisiológicos, como aumento dos batimentos cardíacos e da pressão sanguínea, e psicológicos, como ansiedade.

No estudo, pesquisadores e médicos da Universidade de Swansea, no Reino Unido, e da Universidade de Milão, na Itália mediram a frequência cardíaca e a pressão sanguínea de 144 pessoas com idade entre 18 e 33 anos, antes e depois de utilizarem a internet. A ansiedade e a percepção dos participantes em relação ao próprio vício em internet também foram considerados.

Os resultados mostraram que, quando o tempo de uso da internet estava chegando ao fim, os participantes que haviam relatado uso excessivo da internet apresentaram maior excitação fisiológica, caracterizada pelo aumento da pressão sanguínea e da frequência cardíaca. Segundo os autores, esse estudo é o primeiro que demonstra, de forma experimental e controlada, as alterações fisiológicas decorrentes da exposição à internet.

“Nós já sabíamos que pessoas que são super dependentes de dispositivos digitais relatam sentimentos de ansiedade quando param de usá-los, mas agora nós podemos ver que esses efeitos psicológicos são acompanhados de alterações fisiológicas”, disse Phil Reed, líder do estudo e professor da Universidade de Swansea.

 

Resposta fisiológica semelhante à abstinência

Foi observado um aumento de 3% a 4% na frequência cardíaca e pressão sanguínea, e, em alguns casos, o dobro disso, imediatamente após o fim do uso da internet, em comparação com a medição anterior, naqueles com problemas de comportamento digital. Embora esse aumento não seja suficiente para representar uma ameaça à saúde, alterações como essas podem ser associadas a sentimentos de ansiedade e alterações no sistema hormonal que podem reduzir respostas imunológicas.

O estudo também sugere que essas alterações fisiológicas, acompanhadas do aumento da ansiedade, indicam um estado semelhante ao observado em casos de abstinência de drogas “sedativas” como álcool, maconha e heroína e pode ser responsável pela necessidade das pessoas se reconectarem com seus dispositivos digitais para reduzirem esses sentimentos desagradáveis.

“Um problema em experienciar mudanças fisiológicas como aumento da frequência cardíaca é que elas podem ser mal interpretadas como algo fisicamente ameaçador, especialmente por pessoas com altos níveis de ansiedade, o que pode levar a mais ansiedade e maior necessidade de reduzir essa sensação.”, disse Lisa Osborne, coautora do estudo.

 

Alertas para o risco do uso excessivo da internet

O estudo concluiu também que os participantes passavam uma média de cinco horas por dia na internet, com 20% gastando mais de seis horas diárias online. Além disso, mais de 40% relataram algum problema relacionado ao uso excessivo da internet. De longe, os motivos mais frequentes para o envolvimento com dispositivos digitais eram as “mídias sociais” e compras online.

Estudos anteriores já haviam mostrado aumento na ansiedade de curto quando pessoas que são dependentes digitais tinham seus dispositivos removidos e, em longo prazo, isso poderia gerar depressão, solidão, mudanças estruturais no cérebro e alterações na capacidade para combater infecções.

“O crescimento dos meios de comunicação digital está alimentando o aumento do uso da internet, especialmente para as mulheres. Atualmente, há uma grande quantidade de evidências documentando os efeitos negativos do uso excessivo na psicologia, neurologia e agora, com esse estudo, na fisiologia. Dado isso, temos que ver uma atitude mais responsável com a comercialização desses produtos pelas empresas – como já vimos com o álcool e jogos de azar.”, finalizou Reed.

 

Foto: iStock/Getty Images