Dormir mal pode aumentar o risco de Alzheimer
O sono inadequado parece desregular os níveis de proteínas associadas à doença que apaga as memórias
Por Vand Vieira
Do Saúde é Vital
Seria um daqueles achados de tirar o sono se o problema não fosse justamente o tempo que passamos acordados à noite. Cientistas da Universidade Stanford e da Universidade Washington, ambas nos Estados Unidos, em parceria com pesquisadores da Universidade Radboud, na Holanda, sugerem que dormir pouco ou apenas superficialmente na meia-idade aumenta o risco de Alzheimer na velhice.
A conclusão vem de um estudo conduzido por esse time internacional, que avaliou 22 pessoas saudáveis entre 35 a 65 anos — ele foi publicado no periódico científico Brain. Então vamos à investigação: na primeira etapa, que durou duas semanas, os voluntários usaram um monitor de pulso para registrar as horas em claro.
Após esse período, eles ainda passaram duas noites nas dependências de um laboratório médico, em quartos climatizados e apropriados para que dormissem como pedra. Dessa vez, a tarefa era pegar no sono com fones de ouvido e alguns eletrodos dispostos em pontos estratégicos do corpo a fim de monitorar a atividade cerebral desses homens e mulheres.
Agora vem, digamos, a parte torturante do trabalho. Em um dia, metade dos participantes foi induzida a permanecer no primeiro nível do sono, o superficial — na outra noite, os grupos se revezaram. Mas como os experts fizeram isso? Assim que aqueles eletrodos indicavam que alguém estava chegando a um estágio mais profundo de repouso, os fones de ouvido emitiam sons. Esses ruídos, embora não despertassem os indivíduos por completo, atrapalhavam o descanso.
Como resultado, todos os submetidos a essa experiência reclamaram de cansaço. E mais: amostras do líquido da medula espinhal desses participantes revelaram quantidades elevadas de beta-amiloide, substância relacionada ao surgimento e à progressão da doença de Alzheimer. A diferença em comparação aos que dormiam numa boa chegava a 10%. E isso com a privação em um único dia!
Para piorar, aqueles que costumavam dormir mal ou rolar na cama todas as noites apresentaram excesso de outra proteína no organismo, a tau — também considerada uma ameaça aos neurônios. Ou seja, o maior perigo envolveria sujeitos com sono cronicamente ruim, como os insones e os portadores de apneia obstrutiva.
A teoria dos pesquisadores é a de que, ao longo do repouso noturno, ocorre uma espécie de faxina no cérebro. As substâncias desnecessárias e potencialmente nocivas acumuladas ali ao longo do dia seriam varridas para restabelecer o bom funcionamento dos neurônios. Claro que, por se tratar de uma pesquisa pequena, ainda não dá para tirar conclusões contundentes. Mas fica o recado para valorizarmos mais a cama na busca por uma vida saudável.
Foto: Gustavo Arrais/SAÚDE é Vital
Pesquisadora desenvolve um chocolate branco funcional
Essa versão do doce sempre carregou má fama porque não tem cacau, o componente bom para a saúde. Mas uma nutricionista decidiu virar o jogo
Por Thaís Manarini
Do Saúde é Vital
Ninguém contesta que comer aqueles chocolates mais amargos (com moderação, é claro) traz benefícios. Afinal, o doce concentra cacau, que é rico em flavonoides – e esses antioxidantes são cheios de atributos, como proteger a saúde cardiovascular. A versão branca, por sua vez, nunca foi citada como benfeitora, já que não leva cacau (apenas sua gordura). Na verdade, esse tipo sempre foi o patinho feio no mundo dos chocolates. Até agora.
Em tese de doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a nutricionista Janaína Madruga Morais Ferreira resolveu criar um chocolate branco funcional. Para isso, o primeiro passo foi adicionar o prebiótico frutooligossacarídeo (mais conhecido como FOS), uma fibra que melhora o funcionamento do intestino e serve de substrato para bactérias boas presentes em nosso corpo, o que culmina em um sistema imunológico fortalecido.
A nutricionista ainda turbinou o doce com goji berry, frutinha abarrotada dos benditos antioxidantes. Em entrevista ao Jornal da Unicamp, a especialista lembrou que, apesar de ser novidade por aqui, a a goji berry é consumida há muito tempo na Ásia e já mostrou propriedades contra o diabetes e o câncer. “O objetivo do trabalho, que era chegar a uma formulação de chocolate branco mais saudável, foi alcançado”, comemorou Janaína.
Mas o importante mesmo é saber se a guloseima ficou gostosa, certo? Pois a pesquisadora conduziu testes sensoriais com 120 participantes. E as análises mostraram que o chocolate branco passou na prova do sabor – em uma escala que vai até nove, a aceitação ultrapassou a marca dos seis.
Mas e quando chega ao mercado?
Calma, essa é outra história. Para que a metodologia saia da universidade e chegue à indústria, é preciso existir interesse na comercialização do produto. Depois disso, segundo Janaína, seria necessário realizar mais avaliações – para definir tempo de prateleira, por exemplo. “Em termos tecnológicos, porém, não vejo dificuldade em promover essa transferência”, disse a expert ao Jornal da Unicamp.
Foto: Alex Silva/SAÚDE é Vital