A doença tem potencial para se alastrar pelo país, assim como ocorreu com o zika e a febre amarela
Por Ana Luísa Moraes, do Saúde é Vital
Dores nas articulações, na cabeça e atrás dos olhos, além de febre aguda. Os sintomas são típicos da dengue, mas não é dela que estamos falando. O problema da vez é a febre oropouche, enfermidade que também é transmitida por um mosquito – o Culicoides paraensis, mais conhecido como borrachudo. Antes encontrado principalmente em pequenos vilarejos da Amazônia, ele tem aparecido nas grandes cidades do país, situação que preocupa os especialistas.
“O oropouche tem grande potencial de emergência, porque o Culicoides paraensis está distribuído por todo o continente americano” aponta Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). “O vírus pode sair da região amazônica e do planalto central e chegar aos lugares mais povoados do Brasil”, completa.
Foram registrados mais de 500 mil casos brasileiros nas últimas duas décadas, mas a tendência é que o número aumente por aqui e em países como Peru e Caribe. Em 2002, pesquisadores identificaram o mal em 128 pessoas de Manaus. Três dos pacientes desenvolveram infecções relacionadas ao cérebro e à medula espinhal (a meningite é um exemplo).
Desses, um tinha aids e o outro era portador de neurocisticercose, condição que ataca a massa cinzenta. “Isso mostra que algumas doenças de base ou imunodepressão podem facilitar que o vírus chegue ao sistema nervoso central”, explica Figueiredo.
Cabe ressaltar que os 128 indivíduos analisados tinham diagnóstico clínico inicial de dengue. Por isso, os cientistas chamam a atenção para a possibilidade de que muitas suspeitas que recaem sobre o Aedes aegypti possam ser, na verdade, febre oropouche, resultado da picada do Culicoides paraensis.
Foto: Eduardo Svezia/SAÚDE é Vital