Solidão pode matar tanto quanto a obesidade
Levantamento com dados de quase 4 milhões de pessoas aponta que viver (ou se sentir) sozinho é bem mais prejudicial do que parece
Por Vand Vieira, do Saúde é Vital
Muito se fala sobre a prevalência e os prejuízos da obesidade. Mas uma análise apresentada na 125ª Convenção Anual da Associação Americana de Psicologia alerta para outro mal pra lá de nocivo: a solidão. De acordo com os condutores do trabalho — cientistas da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos —, uma das principais ameaças nesse sentido seria o aumento do risco de morte prematura.
A pesquisa ocorreu em duas partes. Na primeira, 148 estudos foram avaliados, totalizando 300 mil pessoas. Cruzando as informações dessa turma, os experts americanos concluíram que quem cultiva bons relacionamentos interpessoais tem 50% mais chances de não falecer antes da hora em comparação aos solitários.
Já a segunda etapa considerou os dados de aproximadamente 3,4 milhões de voluntários, divididos em 70 pesquisas. Como era de se esperar, também houve uma clara relação entre a solidão ou o isolamento social e o risco de morrer antes do tempo. Mas o que intrigou os experts é o fato de esses problemas, segundo o estudo, serem tão deletérios quanto a obesidade ou outras condições sérias de saúde.
O isolamento social é definido como pouco ou nenhum contato com outros indivíduos. A solidão, por sua vez, é marcada pela falta de conexão emocional com os demais. Ou seja, é possível se sentir sozinho mesmo em meio a um mar de gente.
Durante a convenção em que essa revisão foi apresentada, a professora de psicologia Julianne Holt-Lunstad, uma de suas autoras, destacou a relevância do achado para os que estão na terceira idade, quando a falta de contato social é mais comum. Para ela, tal associação reforça a importância de investirmos em iniciativas que promovem o engajamento e a interação desse público, como centros de recreação e jardins comunitários.
Ilustração: Pedro Hamdan//SAÚDE é Vital
Vegetarianismo faz bem? Depende do que você põe no lugar da carne
Batata frita, refrigerante… Não é porque o alimento vem do reino vegetal que faz bem, como mostra um novo estudo
Por Guilherme Eler (da Superinteressante)
Dá para ser vegetariano ou vegano vivendo só de batata frita – e é exatamente aí que mora o perigo. Cientistas da Universidade de Harvard descobriram que, por mais que você se esforce em ficar longe de qualquer coisa de origem animal, uma dieta vegana, por si só, não lhe tornará mais saudável.
Segundo seu novo estudo, o problema está no que vaio ao prato em vez da carne. Os grandes vilões são os alimentos superprocessados, açucarados demais ou cheios de gordura – eles podem não conter carne, mas entopem suas artérias do mesmo jeito.
Quando comparados a pessoas que evitavam os industrializados – mesmo as que comiam carne –, veganos e vegetarianos sem muitos critérios alimentares desenvolveram mais doenças do coração e tiveram aumentado o risco de morrer durante o período do estudo.
A pesquisa considerou três bancos de dados sobre saúde pública, que analisaram voluntários entre 1984 e 2012. No total, participaram mais de 210 mil norte-americanos com idade entre 25 e 75 anos e livres de doenças cardiovasculares ou histórico de problemas como diabetes. Eles voltavam a cada dois ou quatro anos para fazer uma avaliação e listar os alimentos que integravam suas dietas – além de informar com que quantidade e frequência comiam cada um.
Os relatos serviram como base para a criação de três grupos alimentares. No primeiro, estavam os que consumiam grandes quantidades de frutas e legumes, mas não abriam mão de até de seis porções de carne, leite ou derivados.
Já o segundo grupo incluía também doses fartas de elementos como grãos, nozes e castanhas – além de menos carne, gordura e açúcares. O último, por sua vez, era daqueles que não comiam carne, mas mandavam para dentro o que bem entendiam – sem olhar a procedência e muito menos as calorias.
Ao longo dos mais de 20 anos de pesquisa, 8 631 pessoas sofreram algum problema cardíaco. Mesmo que você não conheça muito sobre alimentação saudável, pode prever que o segundo grupo se manteve com o coração mais preservado. Eles tiveram 25% menos chance de doenças cardiovasculares, se comparados ao grupo que comia muitos vegetais e não controlava as quantidades de açúcar, gordura e carne.
Mas a principal surpresa foi em relação àqueles que se privavam de alimentos de origem animal, porém não prestavam atenção na dieta. Nessa turma, que se esbaldava em doces e refrigerantes, a probabilidade de infarto subiu 32% em comparação ao segundo grupo.
“É possível ser vegano e consumir alimentos de origem vegetal com baixa qualidade”, explica Ambika Satija, uma das responsáveis pelo estudo. Não que se entupir de carne vermelha faça bem – longe disso. Mas o simples fato de cortá-la da dieta não livra você de qualquer problema de saúde.
Foto: Divulgação/SAÚDE é Vital