Em entrevista exclusiva, cientista canadense aponta caminhos para as terapias que podem revolucionar a forma como essas enfermidades são combatidas
Por André Biernath, do Saúde é Vital
Hoje é o Dia Mundial do Coração, data em que se celebra a importância de cuidar bem desse órgão durante toda a vida. A prevenção, o diagnóstico e o tratamento de problemas como a hipertensão e o colesterol alto são essenciais para evitar infarto e AVC, as duas principais causas de morte no Brasil.
Para saber como estão as pesquisas de novas terapias para as doenças cardiovasculares, conversamos com o médico Duncan Stewart, presidente e diretor científico do Instituto de Medicina Regenerativa de Ontário, no Canadá. O expert já publicou mais de 200 artigos em revistas científicas e é uma das maiores autoridades mundiais sobre o endotélio, a película interna que reveste os vasos sanguíneos. Com tudo em cima: A Mongeral Aegon te mostra 7 cuidados essenciais para manter a saúde em dia Patrocinado
A ciência avançou nos últimos anos quando pensamos em doenças cardiovasculares?
Tivemos algumas conquistas, mas ainda vemos muitas oportunidades e perguntas não respondidas nessa área. Nas últimas três décadas, vimos o lançamento de novas drogas. Mas o avanço não está na velocidade que precisamos. Ainda nos deparamos com problemas substanciais em doenças como a insuficiência cardíaca e o infarto. E a farmacologia atual não está conseguindo superar essas barreiras. Claro que essa questão está muito relacionada com o avanço de doenças crônicas como a obesidade e o diabetes, o que torna nosso desafio ainda maior.
Você acha que a medicina regenerativa pode ajudar nesse sentido?
Sim, temos uma oportunidade grande aqui. Tentamos reparar os danos causados por um infarto, por exemplo. Queremos usar as células-tronco para gerar células cardíacas maduras e capazes de substituir aquelas que foram mortas no ataque cardíaco. Estamos a alguns anos conduzindo uma pesquisa com cobaias nessa área.
O endotélio vem ganhando importância nos últimos tempos?
Antigamente, se achava que ele era apenas uma camada que previne o sangue de grudar nas paredes dos vasos. Hoje sabemos que ele produz uma série de substâncias essenciais para o sistema cardiovascular. É o endotélio que define, por exemplo, o calibre e a pressão dos vasos sanguíneos. Nós estudamos, por exemplo, as células progenitoras endoteliais. Elas são uma perspectiva de reparar danos em veias e artérias no futuro.
O que está por trás da degeneração do endotélio?
O problema do endotélio é que ele não melhora com a idade. Pior, ele é lesado por fatores como o tabagismo e as altas taxas de colesterol. Isso, claro, desemboca em doenças vasculares, que vão afetar outras áreas do corpo. O envelhecimento é uma barreira. Uma coisa que tentamos atualmente é rejuvenescer essas células do endotélio para que sua atividade original seja resgatada.
Nesse contexto de perspectivas futuras, como ficam as ações preventivas?
A prevenção sempre é a melhor medicina. E os problemas no coração estão diretamente associados a fatores de risco como o cigarro, o sedentarismo e a má alimentação. No Canadá, tivemos uma grande conquista. As doenças cardiovasculares não são mais a primeira causa de morte. Obviamente, nunca vamos conseguir erradicar infarto ou AVC, até porque são eventos relacionados ao envelhecimento. Mas é possível reduzir bastante seu impacto na nossa sociedade.
E como vocês conseguiram diminuir os números de doenças cardiovasculares por aí?
Durante muitos anos temos programas e campanhas para reduzir o tabagismo e melhorar os hábitos alimentares da população. Mas ainda há muito trabalho a ser feito. Nós conseguimos reduzir as taxas de enfermidades cardíacas, mas elas ainda disputam cabeça a cabeça o primeiro lugar do ranking com o câncer.
Nos últimos anos tivemos a aprovação de novos remédios para baixar o colesterol e para controlar a insuficiência cardíaca. O que esses avanços representaram?
Você mencionou dois dos grandes avanços que tivemos na cardiologia: os inibidores de PCSK9 e o sacubitril-valsartana. Foram ganhos impressionantes. O problema é que não vemos atualmente a mesma velocidade na descoberta de novos fármacos como precisamos.
Foto: ST/Shutterstock