Diferenças na legislação e no serviço de saúde dos dois países ajudam a explicar o ‘fenômeno’. No Reino Unido, assistência em casa por 21 dias não é só privilégio da realeza
Por Marina Pinhoni, G1
Kate Middleton deu à luz seu terceiro filho nesta segunda-feira (23). O menino, que ainda não teve o nome divulgado, nasceu às 11h01 por parto normal. Apenas sete horas depois, a duquesa de Cambridge já acenava para a imprensa ao lado do príncipe William com a criança no colo deixando o Hospital St Mary, em Londres.
A rapidez com que Kate voltou para casa chama atenção das mães brasileiras, mas não é algo incomum no Reino Unido, seja para membros da realeza, seja para plebeias. Quando não há problema na hora parto, a legislação local estipula que as mulheres já podem receber alta seis horas após dar à luz.
No Brasil, uma portaria do Ministério da Saúde diz que o prazo mínimo para liberação após o parto normal sem complicações é de 24 horas. Em caso de cesáreas, o mínimo são 48 horas, mas muitas mulheres acabam ficando por mais tempo no hospital.
Para especialistas ouvidos pelo G1, a grande diferença é que no Reino Unido existe a garantia de um serviço de atendimento em casa por um profissional de saúde (médico ou obstetriz) durante 21 dias.
“Este esquema que acontece na Inglaterra e também em outros países como Alemanha, Holanda e Nova Zelândia garante que a mãe e o bebê sejam bem assistidos. No Brasil, ainda não temos condição de fazer isso, porque não temos possibilidades no serviço público de agentes irem à casa dessas mães”, afirma o médico obstetra Jorge Kuhn.
Segundo Kuhn, as principais complicações responsáveis pela mortalidade materna no pós-parto – hemorragia, pré-eclâmpsia (hipertensão) e infecção – já podem ser descartadas nas primeiras horas. “Com 6 horas, tranquilamente é possível dar alta para a mãe”, diz.
No entanto, o médico ressalta a importância do retorno para o acompanhamento. “Não tem por que segurar uma mulher no hospital por 48 horas só para garantir o exame do pezinho no bebê. A questão é: como fazer essa mulher voltar? Há um medo muito grande, principalmente por parte dos pediatras, em relação à saúde da criança”.
Para a diretora da Clínica de Obstetrícia do Hospital das Clínicas de São Paulo, Maria Rita Bortolotto, é importante levar em conta não só o quadro clínico, mas também o contexto social e psicológico das mães.
“A realidade das minhas pacientes é outra. Uma coisa é a Kate sair do hospital, outra bem diferente é quem vai ter que subir quatro lances de escada do conjunto habitacional, chegar em casa e ainda ter que fazer comida para o marido e cuidar dos outros filhos”, afirma. “Para algumas, um descanso maior no pós-parto é realmente necessário”.
Ela lembra que ainda existe a dificuldade de adaptação da criança, que pode demorar para mamar adequadamente, por exemplo. “Existe uma resistência até das próprias pacientes, inclusive. Principalmente quando se trata do primeiro filho. Muitas entram em pânico com medo de não saber cuidar direito da criança”, diz.
De acordo com a médica, ir para casa mais cedo é melhor para ambos, mas é preciso estrutura e preparo. “Se tivéssemos médicos que acompanhassem, daria para fazer aqui também”, diz.
Foto: Henry Nicholls/Reuters