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A embaraçosa razão pela qual os homens têm melhor senso de direção que as mulheres, segundo estudo

Pesquisa baseada na análise de dados de 2,4 milhões de pessoas sugere que a diferença em desempenho está mais associada a discriminação e oportunidades desiguais para homens e mulheres do que a habilidades inatas

Por BBC

Um estudo da University College de Londres apontou que os homens têm melhor senso de direção que as mulheres, mas que não há, necessariamente, razão para se orgulharem do resultado.

Isso porque, segundo os pesquisadores, a diferença tem mais a ver com discriminação e oportunidades desiguais do que com qualquer habilidade inata.

Os resultados vêm de uma pesquisa sobre um teste para demência – uma categoria que engloba várias doenças e transtornos que afetam a memória e o processamento do cérebro, incluindo Alzheimer – e deram uma visão sem precedentes sobre o senso de direção das pessoas ao redor do mundo.

Perder a orientação e se perder é um dos principais sintomas do mal de Alzheimer.

O experimento foi feito com o auxílio de um jogo de computador, o Sea Hero Quest, que teve mais de quatro milhões de jogadores.

Teste de demência
O jogo foi desenvolvido pelos pesquisadores que investigam a demência para, a partir dele, chegar a testes para diagnosticar precocemente doenças associadas.

Os jogadores acompanham a jornada de um marinheiro em busca de memórias perdidas de seu pai, e enfrentam criaturas marinhas fantásticas.

Tocando as telas de seu smartphone, os jogadores viajam de barco por ilhas desertas e oceanos gelados.

As rotas traçadas pelo jogadores geram “mapas de calor” globais, que permitem que os pesquisadores possam observar como as pessoas exploram ambientes 3D.

O objetivo final é desenvolver novos testes de diagnóstico que possam detectar quando as habilidades de navegação espacial de alguém estão falhando.

Homens x mulheres
O jogo registra, anonimamente, o senso de direção e a capacidade de navegação do jogador. Os cientistas analisaram dados coletados de 2,4 milhões de pessoas – que passaram algum tempo jogando o Sea Hero Quest no fim do dia ou a caminho do trabalho. Em um estudo clínico seriam necessários milhares de anos para conseguir uma quantidade de dados dessa dimensão.

E ao analisar o comportamento desses milhões de jogadores, um dos resultados que mais chamou a atenção dos pesquisadores é que os homens se mostraram muito melhores em navegar do que as mulheres. Mas por quê?

Hugo Spiers, um dos autores do estudo, acredita ter encontrado a resposta examinando dados do Índice de Diferença de Gênero do Fórum Econômico Mundial – que estuda a igualdade em áreas como educação, saúde e emprego, e política.

“Nos países onde existe uma grande igualdade entre homens e mulheres, a diferença de desempenho entre eles no nosso teste de navegação espacial é muito pequena, mas quando há alta desigualdade de gênero, essa diferença (identificada no jogo) é muito maior”, acrescenta o pesquisador, observando que “isso sugere que a cultura em que as pessoas vivem tem influência sobre suas habilidades cognitivas”.

O Sea Hero Quest produziu uma série de outras descobertas.

O jogo permitiu identificar que Dinamarca, Finlândia e Noruega têm as melhores habilidades de navegação do mundo, mas ainda não está claro por quê.

Outra constatação a partir do jogo é de que o senso de direção entra em constante declínio depois da adolescência. E, ainda, que pessoas em países mais ricos também tendem a ser melhores navegadoras.

A popularidade do jogo o transformou no maior experimento de pesquisa sobre demência no mundo.

“Os dados da Sea Hero Quest estão fornecendo uma referência incomparável sobre como a navegação humana varia e muda em função da idade, localização e outros fatores”, diz Tim Parry, diretor da Alzheimer’s Research UK, principal instituição britânica de pesquisa sobre demência.

“Este é apenas o começo do que podemos aprender sobre navegação a partir desta análise poderosa.”

O projeto foi financiado pela Deutsche Telekom, a maior companhia de telecomunicações da Alemanha e da União Europeia, e o jogo foi desenhado pela Glitchers, empresa do ramo de videogames com sede em Londres.

Foto: UCL

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