Estudo aponta que pessoas altas têm risco maior de desenvolver câncer
Chance está ligada ao fato de as pessoas com maior estatura terem mais células, dizem pesquisadores
Por France Presse
Pessoas altas têm um risco maior de desenvolver câncer, em parte porque elas têm mais células para que a doença se espalhe, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira.
Pesquisadores nos Estados Unidos analisaram a população em três continentes e descobriram que o risco de câncer em homens e mulheres é 10% maior para cada 10 cm de altura.
O câncer se desenvolve quando o controle normal pelo corpo das células deixa de funcionar, abrindo caminho para o desenvolvimento de células cancerígenas que se manifestam como tumores.
O estudo, publicado na revista “Proceedings of Royal Society B”, sugere que o risco de desenvolver diferentes tipos de câncer é mais provável em pessoas altas, simplesmente porque eles têm mais células e, portanto, maior probabilidade que essas células se tornem cancerosas.
Acredita-se que alguns mamíferos, como elefantes e girafas, cujos corpos têm mais células do que animais menores, desenvolveram defesas adicionais contra o câncer.
Mas não há evidências de que isso funcione da mesma maneira em indivíduos como seres humanos.
A altura média varia por região, mas nos Estados Unidos, a média para os homens é de 176 cm e para as mulheres de 162 cm.
Os pesquisadores já estabeleceram que pessoas altas têm um risco maior de câncer em geral. Mas o estudo de Nunney sobre populações nos Estados Unidos, Europa e Coreia do Sul mostra que esse é provavelmente o caso porque elas têm mais células onde algo pode acontecer.
Em particular, pessoas de maior estatura têm um risco maior de desenvolver melanoma porque têm uma proporção maior de células e simplesmente mais pele do que pessoas de estatura média.
No entanto, o risco de câncer de estômago, bucal ou cervical em mulheres parece não estar relacionado à altura.
A altura é largamente determinada por genes, mas Nunney argumenta que o ambiente durante a infância também tem um efeito e, portanto, um impacto associado ao risco de câncer.
A obesidade na idade adulta é conhecida por aumentar o risco individual de câncer, mas por uma razão diferente da altura.
Ao contrário da altura, a obesidade aumenta o tamanho das células, mas não cria muitas mais.
“Portanto, a causalidade de um aumento no risco de câncer relacionado à obesidade é diferente daquela do efeito da altura”, acrescenta Nunney.
O pesquisador aponta, no entanto, que pessoas altas não devem se preocupar porque a altura não é o único ou principal fator para o desenvolvimento da doença.
“Eu não acho que medidas extremas sejam necessárias em geral: o efeito é estatístico e relativamente pequeno para a maioria das pessoas”, disse ele.
Foto: ID 12019/Pixabay
Estudo mostra que podemos estar 'contaminados' por microplásticos, assim como os oceanos
Médicos confirmam que resíduos que viraram problema para a vida marinha também chegam ao intestino humano – e agora devem se debruçar para identificar os riscos à saúde, já comprovados em animais. Estas são as primeiras evidências de microplásticos em humanos
Por BBC
Você já deve ter ouvido falar em microplásticos, estes pequenos vilões do meio ambiente. São resíduos degradados de diversos tipos de plásticos, com menos de 5 milímetros de comprimento.
Originárias de fontes diversas como roupas sintéticas, pneus, tintas e escovas de dente, essas partículas estão se amontoando nos oceanos.
Um estudo inédito apresentado nesta terça-feira mostra o que muito se temia: até nós, seres humanos, podemos estar cheios desses minúsculos pedaços de plástico em nosso organismo.
O estudo, liderado pelo médico Philipp Schwabl, pesquisador da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade de Medicina de Viena, na Áustria, foi divulgado no evento UEG Week Vienna – uma semana de colóquios médicos científicos da União Europeia de Gastroenterologia. A pesquisa foi realizada em parceria com a Agência Ambiental da Áustria.
“Este é o primeiro estudo desse tipo e confirma o que há muito suspeitamos: que o plástico chega ao intestino humano”, afirmou, em comunicado à imprensa, o médico Schwabl.
O estudo foi realizado com base em coletas de fezes de oito pessoas de oito países diferentes. Em todas as amostras foram identificados microplásticos – de até nove tipos diferentes -, partículas de polipropileno (PP) e polietileno tereftalato (PET), entre outros. Os participantes são habitantes de Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Reino Unido e Áustria.
Conforme ressaltam os pesquisadores, a presença de microplásticos no organismo humano pode afetar a saúde. Acumulados no trato gastrointestinal, esses materiais têm a possibilidade de interferir na resposta imunológica do intestino – além, é claro, do risco proporcional pela absorção de produtos químicos tóxicos e patógenos pelo nosso corpo.
Em nota à BBC News Brasil, o médico ressaltou que, atualmente, “não existem estudos que respondam sobre os riscos” de tais materiais ao organismo. “De fato, é uma questão muito importante, e estamos planejando pesquisas adicionais para elucidar os efeitos dos microplásticos na saúde humana”, diz Schwabl.
“No entanto, existem estudos com animais que mostram que partículas de microplástico são capazes de entrar na corrente sanguínea, no sistema linfático e de atingir até o fígado. Além disso, estudos com animais também demonstraram que os microplásticos podem causar danos intestinais, alteração nas vilosidades intenstinais, distorção da absorção de ferro e estresse hepático.”
Método
Dos oitos participantes, três eram mulheres e cinco homens. Dois deles eram usuários diários de gomas de mascar. Seis ingeriram peixes ou frutos do mar durante o período de observação. Todos tiveram contato com alimentos embalados com plásticos. Na média, eles tomaram 750 ml de água por dia de garrafas plásticas. Nenhum dos oito participantes era vegetariano.
Todos os participantes eram adultos saudáveis, sem nenhuma dieta médica. Eles também não podiam ter tomado antibióticos nas últimas duas semanas, nem feito nenhum tratamento odontológico no mesmo período.
Cada participante do estudo ficou incumbido de manter um diário alimentar na semana anterior à coleta das fezes. As informações deste diário revelam que todos eles estiveram expostos a plásticos consumindo alimentos embrulhados e tomando água de garrafas.
No diário, eles também precisaram identificar a marca do creme dental e de todos os cosméticos utilizados. Informações sobre quantidade e marca de gomas de mascar e bebidas alcoólicas também foram solicitadas.
Os exames de fezes foram realizados em um laboratório austríaco, com tecnologia capaz de identificar dez tipos de plásticos – nove foram encontrados, sendo PP (material geralmente encontrado em tampinhas de garrafa) e PET (das garrafas plásticas) os mais comuns.
Todas as amostras tinham contaminação – de 3 a 7 tipos de plástico. Dos dez tipos identificáveis pelo método, apenas um, o PMMA (comum em para-brisas de carros) não apareceu em nenhuma amostra. Foram encontradas partículas de PP, PET, PU, PVC, PA, PC, POM, PE e PS.
Estatisticamente, o índice de confiança da pesquisa é de 68% a 100%, se aplicado em um grupo maior. O que permite que os pesquisadores digam que pelo menos 50% da população mundial teria microplásticos em suas fezes.
Em média, foram encontrados 20 partículas de microplástico a cada 10 gramas de fezes. “Nossa principal preocupação é o que isso significa para o corpo humano e, especialmente, o que pode significar para pacientes com doenças gastrointestinais”, comenta o médico.
“Enquanto as maiores concentrações de plástico em estudos com animais foram encontradas no intestinos, menores partículas são capazes de entrar na corrente sanguínea, no sistema linfático e chegar ao fígado”, prossegue.
“Estas são as primeiras evidências de microplásticos em humanos. Precisamos avançar mais nas pesquisas para entender o que isso significa para a saúde humana.”
Indústria
Os pesquisadores ressaltam que os seres humanos estão expostos a diferentes tipos de plásticos no dia a dia. E isto é decorrente do uso cada vez mais recorrente desse material na indústria, sobretudo a partir dos anos 1950. É uma produção que segue crescendo, anualmente.
“Em nível global, a produção de plástico e a poluição plástica se correlacionam fortemente. Portanto, é provável que a quantidade de contaminação plástica possa aumentar ainda mais se a humanidade não mudar a situação atual”, alerta o pesquisador.
Calcula-se que entre 2% e 5% de todo o plástico produzido por ano acabe nos mares, por conta do descarte. Ali, esse material acaba se deteriorando em partículas cada vez menores – os tais microplásticos.
Assim, são consumidos por animais marinhos, entrando na cadeia alimentar – um caminho que, em última instância, traz o plástico para o organismo humano.
Diversas pesquisas já detectaram quantidades significativas do material em atum, lagosta e camarão.
Outra maneira pela qual componentes plásticos chegam ao organismo humano seria porque, seja durante o processamento industrial, seja por conta da embalagem, alimentos também podem ser contaminados com pequenas partículas de plásticos.
De acordo com Schwabl, a pequena amostra utilizada para o estudo não permite cravar quanto ou quais tipos de plástico tiveram origem nos peixes consumidos ou das embalagens dos demais alimentos. “A maioria dos participantes bebeu líquidos a partir de garrafas plásticas, mas também foi comum a ingestão de peixes e frutos do mar”, afirma.
“Todos os participantes tinham partículas de PP e PET em suas amostras de fezes, que são os principais componentes de tampas de garrafas plásticas e de garrafas plásticas. Portanto, nenhuma conclusão exata sobre a origem pode ser feita no momento.”
“Os plásticos são difundidos na vida cotidiana e os seres humanos são expostos aos plásticos de várias maneiras”, comenta o médico. “Pessoalmente, não esperava que cada amostra fosse testada como positiva. Precisamos, no entanto, estar conscientes do pequeno tamanho da amostra do nosso estudo.”
Schwabl conta que o grupo está em fase de captação de financiamentos para novas fases do estudo.
Sal de cozinha
No início deste mês, a revista Environmental Science and Technology trouxe uma pesquisa realizada por cientistas sul-coreanos em parceria com o Greenpeace que apontou a presença de microplásticos no sal de cozinha.
Eles analisaram amostras de 39 marcas de 21 países da Europa, África, Ásia, América do Norte e América do Sul. Apenas três – uma de Taiwan, uma da China e uma da França – passaram incólumes ao teste. Os nomes das empresas não foram revelados.
Segundo o estudo, apenas considerando o sal como fonte, uma pessoa pode ingerir até 2 mil microplásticos por ano.
Foto: Julie Steinberg/University of Delaware