Como praticar exercícios durante a jornada de trabalho – e por que é importante
Atividade física. Todo mundo sabe que se deve praticar. Muita gente tem pavor. Mas a maioria tem dificuldade de encontrar tempo para isso
Por BBC
Diferentemente de dormir, praticar exercício não é algo que vai acontecer inevitavelmente todos os dias. Precisamos nos empenhar para tentar encaixar este hábito saudável na nossa rotina. Por isso, muitas pessoas estão buscando maneiras diferentes de incorporá-lo à atividade que costuma ocupar a maior parte do dia: o trabalho.
Quando você pratica exercícios, sua aparência melhora, você se sente mais disposto e até trabalha melhor. Mas isso não é novidade.
Um estudo de 2008 realizado no Reino Unido mostrou que mais de 200 profissionais que tinham acesso e usavam a academia da empresa eram mais produtivos e voltavam para casa mais satisfeitos nos dias em que se exercitavam durante o expediente.
Em 2013, outra pesquisa revelou que, independentemente da idade, as pessoas apresentam “ganhos cognitivos imediatos” após “uma única série de exercício moderado”, como 15 minutos de pedalada em uma bicicleta ergométrica.
Essas descobertas indicam que praticar exercício durante o expediente pode ser ainda melhor do que deixar a atividade física para antes ou depois do trabalho.
Isso, é claro, além de todos os benefícios conhecidos da prática de exercícios, como perda de peso, melhora da qualidade do sono, do desempenho sexual, do humor e manutenção da saúde.
‘Oportunidade de ouro’
Peter Antonio, personal trainer, instrutor fitness e nutricionista registrado do centro esportivo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, classifica como uma “oportunidade de ouro” dar uma escapada do trabalho na hora do almoço para fazer atividade física.
Não apenas ajuda a atingir as metas de condicionamento físico, como também “oferece uma sensação de realização no meio do expediente, que pode durar pelo resto do dia”.
Antonio acrescenta que seus alunos que se exercitam ao longo da jornada de trabalho descobrem que ficam mais produtivos e menos doentes. Além disso, é bom para a saúde mental, proporcionando uma fuga do estresse provocado pelo turbilhão diário de reuniões e e-mails.
Algumas pessoas usam argumento semelhante para preservar o recreio e a educação física nas escolas. As pesquisas nesta área também apontam que dar uma pausa nas tarefas repetitivas da sala de aula ajuda os alunos a prestar atenção e ter um desempenho melhor.
Mas os benefícios pessoais são apenas o começo. Praticar exercício durante a jornada de trabalho também pode ter efeitos positivos em um nível mais amplo.
Há um debate entre organizações de saúde e líderes empresariais sobre a possibilidade de tornar obrigatória a prática de atividade física durante o expediente como forma de enfrentar questões corporativas e de saúde pública.
Mais de 20 milhões de pessoas no Reino Unido, por exemplo, são fisicamente sedentárias, o que custa ao serviço nacional de saúde 1,2 bilhão de libras por ano, segundo a Fundação Britânica do Coração.
O executivo Ryan Holmes, presidente do HootSuite, plataforma de mídia social, escreveu um artigo de opinião alguns anos atrás que viralizou, intitulado “Por que é hora de pagarmos os funcionários para se exercitarem no trabalho”.
No texto, ele sugere a prática de exercícios cronometrados, implementados a partir do topo da hierarquia da empresa. Afinal, diz ele, é difícil manter uma equipe forte se as pessoas estão morrendo de doenças cardíacas que poderiam ser evitadas, câncer e problemas respiratórios porque estão fora de forma.
Como fazer isso
Christian Allen mora em Boston, nos EUA, e dirige uma startup que fornece ferramentas de atendimento ao cliente a empresas. Ele diz que sua hora preferida para fazer musculação, praticar ioga ou correr é durante o expediente. Mas ter encontrado um grupo de pessoas afins que apostam neste hábito tornou isso mais fácil.
“Posso dizer sem reservas que sempre me senti mais feliz e saudável durante meus 19 anos de profissão quando me exercitei regularmente”, diz ele.
Nos últimos seis anos, ele organizou um grupo por meio do site Meetup. Eles se reúnem todos os dias da semana ao meio-dia para jogar futebol. Ele teve a ideia no horário de almoço, ainda em seu antigo emprego, quando se deparou com um grupo jogando bola.
“Na época, eu estava correndo alguns dias por semana na hora do almoço com alguns colegas, mas gostava da ideia de misturar algo completamente diferente nessa rotina.”
Allen não está sozinho. Cada vez mais, os locais de trabalho estão se adaptando para tornar viável a prática de exercícios na hora do almoço.
Muitas companhias estão oferecendo academia para os funcionários dentro da própria empresa. Além disso, algumas academias estão anexando estações de trabalho em suas principais instalações.
A rede americana de academias de luxo Equinox é um exemplo. O estabelecimento oferece aos alunos um espaço com mesões e cafeteria, atraindo freelancers e trabalhadores remotos – com vista para esteiras e aparelhos de musculação. Algumas startups estão usando essas estações de trabalho como seu principal escritório.
Mas e se você não puder perder uma hora inteira (ou mais)? Não tem problema – os especialistas dizem que há formas mais simples de incorporar a prática de exercícios no seu dia a dia, e você também não precisa de um escritório com uma academia chique.
“Sejam cinco minutos ou uma hora de movimento, há benefícios reais para qualquer tipo de atividade realizada durante a jornada de trabalho”, diz Sandy Todd Webster, editora-chefe da IDEA Health & Fitness Association, organização com sede em San Diego, na Califórnia, que conecta mais de 14 mil personal trainers e profissionais da indústria fitness em todo o mundo.
“Se você for capaz de caminhar ou se fortalecer de alguma forma, faça isso. Você não precisa de uma academia. Oportunidades de movimento estão por toda parte.”
“Tenha um par de tênis e meias esportivas no trabalho e use para se movimentar nos intervalos ou sempre que puder escapar por cinco, 10 ou 20 minutos”, acrescenta Webster.
“Se você trabalha em um prédio com escadas, use sempre as escadas ou pegue o caminho mais longo até sua mesa. Tudo isso conta.”
Independentemente das suas metas individuais ou das circunstâncias no trabalho, os especialistas dizem que fazer uma hora de exercício por dia deve ser encarado com a mesma importância que uma reunião.
“O segredo é agendar o horário”, diz Webster. “Literalmente, marque na agenda – e, em seguida, mantenha esse compromisso como sagrado.”
‘Dar satisfação’
Ainda assim, tudo isso pode ser mais fácil na teoria do que na prática. E não apenas porque alguns chefes podem ser inflexíveis ou você pode não ter acesso a um chuveiro para tomar banho depois de se exercitar.
Em alguns empregos, é mais difícil se ausentar da mesa. Esta pode ser uma das muitas razões pelas quais o trabalho remoto está em alta nos últimos anos.
Allen diz que teve a sorte de trabalhar em empresas que promovem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas nem sempre foi fácil. Horários de trabalho irregulares podem causar um estrago na logística – fora o possível impacto na rotina dos colegas.
“Sempre trabalhei como parte de uma equipe”, diz Allen. Por isso, ele precisava ter consciência de como sua ausência para um breve exercício poderia afetar a carga de trabalho dos colegas.
“Também tive de considerar até que ponto os colegas de equipe que não usufruíam dessa política sentiam inveja ou ficavam aborrecidos por eu usufruir.”
Mas, segundo ele, isso não é motivo para você deixar de fazer da atividade física uma prioridade.
“Todos esses são apenas motivos para você se comunicar mais a respeito do que está fazendo e explicar por que isso é importante para você”, aconselha.
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Sarampo no Brasil tem avanço preocupante, alerta Unicef
País faz parte de lugares no mundo com maior contribuição para avanço global da doença; ela é especialmente grave para crianças menores de 5 anos
Por BBC
O mundo está vivendo um surto preocupante de sarampo, e o Brasil faz parte do grupo dos 10 países que são os maiores responsáveis por essa guinada de 2017 para 2018.
O alerta vem do Unicef: segundo a instituição, globalmente, 98 países registraram mais casos da doença em 2018 do que em 2017. Os 10 países com situação mais crítica são responsáveis por 74% deste aumento (além do Brasil, são eles: Ucrânia; Filipinas; Iêmen; Venezuela; Sérvia; Madagascar; Sudão; Tailandia; e França).
O Brasil vinha de uma sequência de zero casos em 2015, 2016 e 2017 — em 2016, inclusive, ganhou um certificado da OMS (Organização Mundial da Saúde) de eliminação do sarampo.
Mas, então, veio 2018: 10.262 casos.
Inversamente proporcional a este aumento acelerado foi a diminuição da cobertura vacinal da população. Com base em dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o Unicef aponta que, a partir de 2015, caiu a cada ano o percentual da população imunizada com a tríplice viral (para prevenir o sarampo, a caxumba e rubéola). O percentual dos brasileiros vacinados com ela saiu de 96% em 2015 para 95,4% em 2016 e 85,2% em 2017.
A OMS recomenda, em geral, que imunizações cubram ao menos 95% da população. Portanto, 2017 aparece abaixo desse limiar.
Motivos para queda na vacinação
Piora no acesso da população à saúde? Avanço de movimentos antivacina? Problemas na divulgação de campanhas de vacinação? A BBC News Brasil perguntou os motivos para a diminuição da imunização no país a Cristina Albuquerque, chefe da área de Saúde e HIV do Unicef no Brasil.
“Essa é uma pergunta que os brasileiros vão ter que responder. Sabemos que deve ser multicausal. Temos hipóteses, mas precisamos de evidências”, explicou, destacando que, com exceção da vacina BCG, normalmente aplicada em recém-nascidos ainda nas maternidades, todas as outras categorias de imunização têm visto queda no país.
“A questão dos movimentos antivacina foi algo que se apresentou nos países desenvolvidos. Aqui, não posso descartar, mas acredito que não seria o principal. (O conjunto de motivos) Pode passar pelo desfinanciamento do SUS (Sistema Único de Saúde) em geral, com a crise nos Estados e municípios, já que o PNI em si não foi desfinanciado. Pode ter a ver também com mudanças sociais, culturais e econômicas no mundo, como as dificuldades das famílias em imunizarem as crianças em horário comercial”.
“Até o êxito do nosso programa de imunização, um dos mais reconhecidos do mundo, pode ter dado segurança demais e levado à diminuição”.
Em nota à BBC News Brasil, o Ministério da Saúde apontou que “o reaparecimento do sarampo no mundo é um fenômeno global que atinge três (Europa, Ásia e América) das cinco grandes regiões mundiais de monitoramento da OMS”.
A pasta destacou também que o governo federal incluiu a vacinação e a vigilância como prioridades para os 100 primeiros dias da gestão, fomentando a intensificação de um bloqueio vacinal que já havia sido reforçado em fevereiro de 2018, quando o país reconheceu a “gravidade da situação”.
Ainda segundo o ministério, os casos notificados e confirmados de sarampo no país estão em curva decrescente, mas estão mantidas ações de investigação e controle.
Crianças correm mais riscos
O Unicef destaca especificamente o risco deste surto para as crianças – em alguns lugares do mundo, o sarampo é uma das principais causas de mortes entre os mais pequenos.
“O impacto do sarampo para a criança é maior: elas nascem com a imunidade ainda muito deficiente, e isso acontece até mais ou menos os 5 anos. Tem a ver com a maturidade do sistema imunológico”, diz Albuquerque.
O sarampo é causado por um vírus e leva a um quadro infeccioso grave. A doença é muito contagiosa – mais do que ebola, tuberculose e influenza, por exemplo – e transmitida pela fala, tosse ou espirro. Seus sintomas incluem febre alta, dor de cabeça, manchas vermelhas e brancas, tosse, coriza e conjuntivite. Segundo o Ministério da Saúde, não existe tratamento específico para a doença, mas costumam ser dados aos pacientes doses de vitamina A, hidratação e suporte nutricional.
Por isso, a vacinação é tão essencial. Ainda não há dados específicos sobre o número de casos da doença entre crianças e adultos, mas, para a representante do Unicef, seria “lógico” assumir que foram os pequenos as maiores vítimas do avanço da doença no Brasil.
“Se até 2015 estávamos com a cobertura boa, os adultos estavam imunizados. Podemos deduzir que os novos casos que vieram depois foram, na maioria, em crianças”, explica.
No mundo, conflitos civis, como no Iêmen, foram um dos motivos por trás do surto – e isto também bateu à porta do Brasil. O Unicef e o governo brasileiro reconhecem que a crise na Venezuela motivou o deslocamento de pessoas infectadas, transmitindo a doença nas áreas brasileiras próximas da fronteira. Segundo o ministério da Saúde, o quadro é mais grave nos Estados do Amazonas, Roraima e Pará.
Para o Unicef, porém, se o Brasil tivesse mantido um nível seguro de cobertura vacinal, os efeitos destes fluxos não seriam um problema.
“A vacina existe, é barata (para ser produzida) e é de graça (para a população). Tem que vacinar”, resume Cristina Albuquerque.
De acordo com o Ministério da Saúde, dados preliminares para 2018 mostram que 49% dos municípios brasileiros não conseguiram atingir a meta de cobertura vacinal de sarampo: “Os dados são ainda mais preocupantes nos Estados com surto: no Pará 83,3% dos municípios não atingiram a meta; Roraima foram 73,3% e Amazonas, a metade, 50%”.
A tríplice viral está disponível na rede pública e pode ser aplicada durante todo o ano.
Todas as pessoas com idade entre 12 meses e 49 anos devem ser vacinadas – com exceção de gestantes e aqueles com imunidade afetada.
Foto: Freepik
Orgulho das origens ajuda contra depressão no exterior, diz estudo
O esforço, por outro lado, pode trazer impactos negativos na saúde mental, como mostra um estudo recente conduzido nos Estados Unidos
Por Terra
Pesquisa mostra como jovens latinos nos Estados Unidos que mais se identificam com seu grupo étnico são menos propensos a desenvolver sintomas de depressão. Na tentativa de integrar os filhos ao novo país que escolheram viver, não é raro que imigrantes recorram a uma estratégia: fazer de tudo para parecer o máximo possível com os locais.
“Isso acarreta num estresse cultural que pode levar à depressão”, comenta Fernanda Cross, pesquisadora da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Radicada nos EUA, a cientista e psicóloga brasileira pesquisa como a identidade étnica e cultural influencia o desenvolvimento da doença. Seu trabalho foi publicado num artigo na revista científica Development and Psychopathology: os jovens latinos que mais se orgulham das suas origens estão mais protegidos contra depressão.
“Dentro da família, a conservação da cultura e a transmissão dessas raízes latinas para os filhos trazem muitos benefícios, ajuda no desempenho escolar, por exemplo”, detalha Cross.
A cientista acompanhou ao longo de três anos 148 jovens latinos menores de 18 anos – grupo que inclui brasileiros que vivem nos EUA. A pesquisa considerou os seguintes aspectos étnico-raciais: a importância da etnia para a identidade dos adolescentes, a percepção sobre ser latino e a percepção dos demais sobre essa identidade.
O estudo revelou que os jovens que mais se identificam com seu grupo étnico são menos propensos a desenvolver sintomas de depressão.
“Ficou demonstrado que a maneira como esses adolescentes desenvolvem orgulho étnico e aprendem sobre o que significa ser latino pode servir como um amortecedor contra a depressão”, afirma Cross em entrevista à DW Brasil.
Segundo os pesquisadores que participaram da análise, a adolescência é um período crítico em que o indivíduo desenvolve sua identidade étnica, reforça a sensação de pertencimento a um grupo. Essas questões têm fortes impactos na vida pessoal, como desempenho acadêmico e bem-estar geral.
Parte da população que mais cresce nos EUA, latinos menores de 18 anos são também um dos mais expostos à depressão na adolescência.
Estudos realizados no país revelaram que 17% desse grupo sofrem com sintomas da doença. A taxa é a mesma entre negros (17%) e um pouco menor entre brancos (14%).
São vários os fatores que levam esses jovens a sofrer de depressão: discriminação, estigma de pertencer a um grupo estigmatizado como “inferior”, desconexão com a cultura.
“Por conta da discriminação, jovens estão sendo cada vez mais diagnosticados com sintomas de depressão. O risco é muito alto não somente para os imigrantes, mas para os filhos deles. Apesar de serem nascidos e crescidos nos Estados Unidos, eles recebem o mesmo nível de discriminação”, comenta Cross.
A pesquisadora baiana, que chegou ao país aos 19 anos, diz que o discurso negativo se acirrou desde que Donald Trump chegou à presidência. “A toda hora se ouve sobre deportações em massa, que os imigrantes não são bons para o país, etc”, exemplifica.
Os resultados da análise científica podem ajudar os serviços de saúde e as famílias a lidarem com o problema. “É preciso rebater esses ataques oferecendo aos jovens apoio e ressaltando o lado positivo de pertencer a esse grupo étnico, as contribuições históricas que deram para a economia, o fato de falar outra língua, entre outros aspectos”, afirma Cross. “A melhor maneira de os pais ajudarem, ao contrário do que muita gente pensa, é reforçar as raízes culturais e mostrar todo o benefício que essa riqueza étnica permite”, concluí.
Foto: DW
Substâncias no ar das escolas potenciam asma e obesidade
Estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto foi iniciado em janeiro de 2016
Por Correio da Manhã
Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto concluiu que a presença no ar das salas de aula de substâncias que provocam alterações hormonais, pode originar o desenvolvimento de asma e obesidade nas crianças.
A investigadora Inês Paciência explica que o estudo, iniciado em janeiro de 2016, publicado recentemente na revista ‘Allergy’, analisou a qualidade do ar interior de 71 salas de aula de 20 escolas primárias do Porto e a prevalência de sintomas relacionados com asma e obesidade em 845 crianças.
Foto: Getty Images
Um mês sem Facebook aumenta os níveis de bem-estar, diz estudo
Sair do Facebook pode ser melhor para a saúde mental dos utilizadores, mas também os deixa menos informados, diz um estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Por Observador
Desativar a conta do Facebook traz vantagens e desvantagens: se, por um lado, nos dá mais tempo com a família e os amigos, por outro pode deixar-nos menos informados. O estudo é da Universidade de Stanford e foi feito com o objetivo de perceber que impacto o Facebook tem nas vidas das pessoas quando desativam a conta.
Matthew Gentzkow, professor de economia em Stanford e um dos responsáveis pelo estudo, disse ao Recode que a Universidade pagou 100 dólares a um grupo de pessoas para desativarem a conta durante quatro semanas. Os resultados são maioritariamente positivos, portanto, quais são as vantagens? Matthew Gentzkow garante que, ao abandonar o Facebook, ”as pessoas passam menos tempo online e nos telemóveis”, ou seja, convivem mais com a família e os amigos. Além disso, a saúde mental dos utilizadores sai reforçada. O estudo concluiu que quem saiu do Facebook teve “melhorias pequenas mas significativas no bem-estar”.
Por outro lado, o professor de Stanford conta que ”para muitas das pessoas, estar no Facebook levou-as a ler mais e a consumir mais política”, e portanto quando saem consomem menos informação.
A diferença é que, neste caso, as redes sociais ”estão muito mais segregadas por ideologia do que por qualquer outra fonte de informação […] e de alguma forma, sair do Facebook reduz a polarização política”.
A explicação para isto, segundo o estudo, é que ao consumir televisão as pessoas vão captar mais conteúdos de diversas fações políticas, enquanto que no Facebook, os utilizadores leem aquilo que os amigos, que à partida têm interesses semelhantes, partilham.
Mas o professor diz não haver assim tantas pessoas a serem influenciadas por aquilo que vêem no Facebook, mas que essa percentagem continua a ser significativa: ”Se 10% das pessoas estão convencidas de que não querem vacinar os filhos, o número ainda representa um monte de crianças que corre o risco de ficarem doentes ”.
Parece, então, que há aqui um empate. ”Eu penso que como somamos as vantagens e desvantagens depende de muita coisa, incluindo valores pessoais, aquilo que cada pessoa pensa acerca da polarização política e o valor que damos às redes sociais”, concluiu.
Foto: LUONG THAI LINH/EPA
Superbactéria circulou no Brasil antes de ser descrita pela China
Estudo foi publicado na revista científica Bone Marrow Transplantation, do grupo Nature
Por OP9
Um estudo feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina e do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) descobriu que a bactéria Klebsiella pneumoniae, super-resistente a antibióticos, já circulava pelo Brasil em 2011, quatro anos antes de ser descrita na China, em 2015.O estudo foi publicado na revista científica Bone Marrow Transplantation, do grupo Nature.
O trabalho foi conduzido pela professora doutora Silvia Figueiredo Costa, do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e diretora técnica do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (USP) e pela professora doutora Ester Sabino, também do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo.
Ele foi realizado com base no banco de dados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e apontou que, de 1.042 pacientes que se submeteram a um transplante de medula entre os anos de 2008 e 2015 nesse hospital, 12 se infectaram com a bactéria super-resistente aos antibióticos. E, deste total, 10 morreram.
A Klebsiella pneumoniae é uma bactéria presente no trato gastrointestinal de humanos e animais. Ela pode ser encontrada também no meio ambiente, na água, nos alimentos e no sistema de esgoto. Eventualmente pode ser identificada nas mãos de profissionais da saúde, em equipamentos hospitalares e no ambiente hospitalar, como na cama do paciente, por exemplo. E pode causar diferentes tipos de infecção – como infecção urinária ou no sangue – que podem levar à morte.
China
Essa resistência da bactéria pelo uso de antibióticos foi descoberta pela China em 2015. A China analisou que cepas de Klebsiella adotam um mecanismo de resistência à colistina [um antibiótico que é usado como último recurso no tratamento de infecções por bactérias], denominado MCR-1. Até então, esse mecanismo era desconhecido no mundo.
Depois que a China divulgou esse estudo, outros países começaram a investigar seus bancos de dados e, em muitos deles, foram notados a existência do mesmo mecanismo, como ocorreu com esse estudo no Brasil. Isso demonstra que os genes de resistência já circulavam no mundo antes mesmo da comunidade científica ter se disposto de ferramentas para identificá-los.
“Quando surge um novo mecanismo de resistência no mundo, nós pesquisamos em amostras que estão armazenadas no hospital”, explicou Silvia. “Quando a China verificou esse mecanismo de resistência, todos no mundo fizeram isso. Todos foram pesquisar, nas bactérias que estavam guardadas, sobre esse gene de resistência. Foram encontrados também na Ásia, na Europa, na Argentina, aqui no Brasil”, falou.
No Brasil, o estudo apontou que as cepas da bactéria continham vários genes de resistência aos antibióticos. E não só o MCR-1, como também o KPC. “Geralmente, quando a bactéria contém o MCR-1, apresenta resistência à colistina, entretanto permanece sensível aos carbapenêmicos. As bactérias do nosso estudo apresentavam os dois genes de resistência o que torna muito difícil o tratamento”, disse Silvia.
Antibiótico
O que pode ter provocado essa resistência, explica ela, é o uso indiscriminado do antibiótico colistina na veterinária e na agricultura. Em humanos, o uso de antibióticos é controlado, ou seja, só pode ser vendido sob prescrição médica. No caso específico da colistina, seu uso em humanos é ainda mais controlado: ele só ocorre em hospitais.
“Esse antibiótico é mais usado em animais de grande porte e que servem de alimentação, como suínos, do que em humanos. Mas na última década, como as bactérias foram ficando mais resistentes, começou-se a usar esse antibiótico também para humanos”, falou.
“Já existe um esforço para não usar tanto esse antibiótico na veterinária e na agricultura. Há países que proibiram o uso. Em vários países da Europa, ele só pode ser utilizado no tratamento de humanos. No Brasil, há um ano teve uma diretriz de controle de uso da colistina na veterinária. Mas não temos dados brasileiros [sobre o uso]”, falou ela, em entrevista à Agência Brasil.
“Não sabemos o quanto esse antibiótico é usado na veterinária ou na agricultura. E esse controle é o que precisa melhorar no Brasil. Mesmo em hospitais, não temos um dado brasileiro. Não sabemos qual é o consumo nos hospitais”, acrescentou.
Prevenção e cuidados
Para prevenção da bactéria, a pesquisadora diz que é importante controlar o uso de antibióticos e isolar o paciente infectado. Além disso, destacou, é preciso que os profissionais da saúde adotem hábitos como a higiene das mãos e uso de luvas e aventais no cuidado com o paciente.
“E a forma de evitar é controlando o uso do antibiótico e detectando a resistência. Porque na hora em que detecta que o paciente tem essa bactéria, ele precisa estar em um quarto, sozinho, sem ter outro paciente ao lado dele. Os profissionais também precisam usar luvas e aventais para evitar que ocorra a transmissão”, falou.
Outra questão importante, destacou, é que os hospitais de São Paulo que percebam infecção por esse tipo de bactéria, comuniquem e enviem as cepas para o Instituto Adolfo Lutz.
Outros hospitais
Segundo Silvia, o estudo ainda não está finalizado. “Encontramos o gene em outros dois hospitais de São Paulo. Estamos finalizando o estudo para mandar para publicação”, falou.
O trabalho deverá ser apresentado em um congresso na Europa, em abril.
Foto: Divulgação