Estudo contraindica uso de aspirina em tratamento de alguns problemas cardíacos

Resultado da pesquisa apontou um aumento de 89% das chances de hemorragia em pacientes específicos

Por iBahia

Um estudo liderado por um cardiologista brasileiro, que atua como pesquisador e professor no Centro Médico da Universidade Duke, nos Estados Unidos, promete mudar os paradigmas do tratamento de pacientes que têm fibrilação atrial (o tipo de arritmia mais comum) e já sofreram de um enfarte. O resultado da pesquisa apontou um aumento de 89% das chances de hemorragia em pacientes que apresentam estes dois quadros simultaneamente e usam aspirina como um dos medicamentos do tratamento.

— Pacientes que têm fibrilação atrial correm mais risco de formação de coágulos na corrente sanguínea e por isso precisam tomar anticoagulantes. Aqueles que já sofreram um enfarte são medicados com dois antiagregantes plaquetários, dentre eles a aspirina, para evitar que ocorra um novo entupimento de artérias. Quando estes dois quadros são associados, o sangue fica muito fino e há maior risco de sangramentos — explica o cardiologista Renato Lopes, líder do estudo.

Além dos resultados envolvendo a aspirina, os pesquisadores descobriram que o uso de apixabana (um novo anticoagulante) reduziu o risco de sangramento em 31%, e de morte e hospitalizações, em 17%. Em comparação com a varfarina (anticoagulante usado há muito tempo na medicina), o novo medicamento apresentou 50% menos casos de AVC.

A conclusão do estudo orienta que os médicos adotem a terapia dupla, composta por anticoagulante e antiagregante do tipo clopidogrel sem aspirina — ao contrário da tripla que levava aspirina.

— Descobrimos que evitando a aspirina e a varfarina os riscos de sangramento reduzem e a proteção cardíaca se mantém. Mas, a retirada da aspirina do tratamento foi o que apresentou maior resultado positivo quanto aos sangramentos — afirma Renato.

Detalhes da pesquisa

Abrangência

O estudo Augustus contou com a participação de 4.614 pacientes de cerca de 500 centros especializados de 33 países, inclusive o Brasil. A pesquisa foi realizada entre setembro de 2015 e abril de 2018.

Método

Os pacientes foram separados em quatro grupos. Cada um recebeu um dos dois tipo de anticoagulantes usados na pesquisa, associado à aspirina ou placebo. Os participantes não sabiam que tipo de medicamento estavam tomando.

Dados dos pacientes

A média de idade dos pacientes que participaram do estudo era de 70 anos e 29% deles eram mulheres.

Doenças associadas

A prevalência de hipertensão que envolve o uso de medicação; diabetes; insuficiência cardíaca; e derrame prévio, ataque isquêmico transitório ou tromboembolismo foi semelhante em todos os quatro grupos experimentais.

Resultado era esperado por cardiologistas

A pesquisa liderado por Renato Lopes será apresentada na palestra de abertura do 36º Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Rio de Janeiro (Socerj), que começa hoje, no Centro de Convenções Sulamérica, na Cidade Nova.

De acordo com o cardiologista Claudio Catharina, presidente do evento, o resultado desta pesquisa era aguardado pela classe médica.

— Para nós, cardiologistas, este é um marco no tratamento de pacientes que sofreram de enfarto e têm fibrilação atrial. Isto nos possibilita a pensar em outros paradigmas de terapias. A cardiologia mundial esperava por isso — diz Claudio.

Para o especialista, a evidência científica do estudo possibilita que a nova diretriz seja aplicada com segurança.

— Com a diminuição da quantidade de medicamentos, podemos ver que, às vezes, menos é mais — finaliza Renato.

 

Foto: Reprodução

Estatinas não reduzem colesterol ruim em metade das pessoas, diz estudo

Muitas vezes, a causa está nos pacientes que deixam de tomar o medicamento

Por G1

Trinta milhões de pessoas no mundo usam medicamentos para baixar o colesterol ruim. Eles são chamados de estatinas e já estão há mais de 30 anos no mercado. Entretanto, um estudo do Instituto Nacional para a Saúde do Reino Unido, divulgado em abril deste ano, revelou que metade das pessoas que usam esses remédios não reduzem o colesterol ruim para o nível ideal.

“A causa às vezes pode estar no médico que prescreveu uma dose muito baixa, que muitas vezes não orientou o paciente de forma correta, mas muitas vezes [a causa] está no paciente”, explica o cardiologista do HU-USP Márcio Bittencourt.

Como o colesterol alto não traz sintomas, é mais difícil querer tomar o medicamento. “A pessoa não sente nada e ela não foi orientada de que o remédio faz e quais os benefícios”, completa Bittencourt.

O que são estatinas?

As estatinas são os principais remédios prescritos para baixar o colesterol. Em doses ajustadas, chegam a reduzir pela metade a presença da gordura na corrente sanguínea. Entretanto, o paciente precisa tomar o medicamento corretamente. “É muito importante tomar o remédio. Muitas pessoas deixam de tomar. Além da medicação, é preciso fazer dieta e atividade física. Ela é benéfica para baixar o colesterol”, alerta o cardiologista e consultor do Bem Estar Roberto Kalil.

O que as estatinas fazem é bloquear uma substância que o corpo usa para fazer colesterol. Os maiores benefícios são para as pessoas que já tiveram infartos e derrames. “Tomar estatina é uma boa indicação para prevenir novos eventos”, diz o médico da família Ademir Lopes Júnior.

Dores musculares são um dos efeitos colaterais mais conhecidos desses remédios, apesar das taxas serem baixas. “Se você tem uma dor muscular com o remédio, não pare, procure um profissional de saúde para uma orientação, para ver se é da medicação mesmo”, indica Bittencourt.

Não importa o tipo de estatina, ela não é a única forma de prevenir um infarto. O médico da família lembra que precisamos cuidar da saúde. “Não adianta você tomar estatina para reduzir o colesterol e continuar, por exemplo, fumando ou não fazendo atividade física, não controlando diabetes. O importante é reduzir o risco como um todo”.

Função do colesterol

O colesterol é necessário para o funcionamento do organismo, porém o desequilíbrio dessa gordura pode trazer consequências ruins, especialmente se houver excesso de LDL, conhecido como o colesterol “ruim”.

Se não for controlado, o colesterol alto pode causar uma obstrução nas artérias e aumentar não só as chances de um infarto, mas também de um derrame. O problema é que, na maioria das vezes, essa obstrução não dá sintomas e o primeiro sinal que o paciente tem é um problema mais grave, como o próprio infarto.

Colesterol alto só resolve com remédio? Não. “O colesterol alto pode ser resolvido com exercício, dieta e também com remédio. Dependendo do nível de colesterol e se a pessoa tem doença cardíaca ou não, você pode começar com atividades e depois remédio”, diz Kalil.

 

Foto: Reprodução/Bem Estar