Vacina contra clamídia se mostra segura e eficaz na imunização, aponta estudo
Segundo a Organização Mundial da Saúde, são 127 milhões de casos de clamídia por ano, a IST mais comum no mundo
Por O Documento
Cientistas britânicos e dinamarqueses estão desenvolvendo uma vacina contra a clamídia, infecção sexualmente transmissível (IST) mais comum no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, são 127 milhões de casos por ano. De acordo com o estudo publicado na revista médica “The Lancet”, o componente se mostrou seguro e eficaz na imunização.
Os testes da vacina contra foram realizados em 35 mulheres saudáveis com idade entre 19 e 45 anos. Segundo os cientistas, o produto proporcionou a resposta imunológica esperada, e nenhuma delas desenvolveu efeitos colaterais graves.
“O resultado mais importante é que vimos anticorpos protetores contra a clamídia nos tratos genitais”, diz o autor do estudo, Frank Follmann. “Nossos testes iniciais mostram que eles impedem a bactéria da clamídia de penetrar nas células do corpo. Isso significa que chegamos muito perto de uma vacina contra a clamídia”, continua.
Os pesquisadores testaram duas formulações de vacina, dadas a 15 mulheres. Outras cinco receberam placebo. Uma das formulações da vacina se mostrou mais potente na proteção contra a bactéria da clamídia. Embora mais estudos devam ser realizados para determinar se ela pode proteger totalmente contra a infecção , os especialistas dizem que é um “primeiro passo importante” para lidar com a doença.
Para Mauro Romero Leal Passos, membro da Comissão de Doenças Infecto Contagiosas da Febrasgo, a criação da vacina não vai acabar, por si só, com a epidemia silenciosa da clamídia. “A vacina é muito bem-vinda, mas temos o exemplo da vacina contra o HPV, que encalha nos postos porque os pais não levam seus filhos para se vacinar”, explica.
A grande sequela que a clamídia pode deixar é a infertilidade. “Nas mulheres, a clamídia é a principal causa da doença inflamatória pélvica, que provoca o entupimento das trompas e faz com que a chance de a mulher ficar infértil seja enorme”, alerta o ginecologista Jorge Rezende Filho, professor de Medicina da UFRJ.
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Obesidade é o 2° principal fator de risco para o câncer, alerta estudo
Entre os estilos de vida evitáveis que estão relacionados à ocorrência da doença, estar acima do peso só perde para o vício em cigarro
Por Metrópoles
Uma pesquisa liderada por cientistas da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer, com sede na França, e pelo Serviço Nacional de Saúde (NHS, da sigla em inglês), no Reino Unido, faz um importante alerta sobre obesidade e câncer. Segundo os cientistas, o excesso de peso perde apenas para o fumo quando se trata de estilos de vida evitáveis que causam câncer. O trabalho foi publicado no International Journal of Epidemiology.
Os pesquisadores realizaram análises genéticas nos tipos de câncer mais intimamente relacionados à obesidade: intestino, mama, rim, pâncreas, ovário, endométrio e esôfago.
A equipe, então, realizou testes para associar o Índice de Massa Corporal (IMC) e marcadores genéticos ao risco de câncer, a partir de estimativas de estudos anteriores. A análise revelou que a obesidade dobrou o risco de alguns tipos de câncer e mais que quadruplicou para outros.
Ao contrário de estimativas anteriores, que utilizavam somente o IMC para prever o risco de câncer, os marcadores genéticos da obesidade são muito mais apurados, segundo os pesquisadores.
Enquanto em análises usando o IMC o risco para câncer renal, por exemplo, era de 30%, com os marcadores, esse número subiu para 59%. O risco aumentou de 50% para 106% no câncer endometrial, de 6% para 13% no câncer de ovário e de 48% para 110% no câncer de esôfago.
Para o câncer de pâncreas, o aumento do fator risco obesidade mudou de 10% para 47% e, para o câncer de intestino, subiu de 5% para 44%. Em países desenvolvidos, essas taxas corresponderiam à segunda maior causa de câncer, perdendo apenas para o tabagismo.
Em 2018, uma pesquisa feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em colaboração com a Harvard University, atribuiu 15 mil casos de câncer por ano no Brasil ao sobrepeso e à obesidade. De acordo com o trabalho, até 2025 o número de diagnósticos da doença atribuíveis à obesidade pode crescer em até 4,6%.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o excesso de peso corporal está fortemente associado ao risco de desenvolver 13 tipos de câncer: esôfago (adenocarcinoma), estômago (cárdia), pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino (cólon e reto), rins, mama (mulheres na pós-menopausa), ovário, endométrio, meningioma, tireoide e mieloma múltiplo e, possivelmente, associado aos de próstata (avançado), mama (homens) e linfoma difuso de grandes células B.
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Como a medicina genética promete revolucionar a saúde
Durante o festival de inovação BlastU, em São Paulo, o médico João Bosco Oliveira explicou os possíveis usos da medicina genética
Por Galileu
O mapeamento genético é uma ideia relativamente nova: em 2001 foi publicada pela primeira vez a sequência do genoma humano. Até ali não sabíamos que uma pessoa tem 3,4 bilhões de bases de DNA ou qual parte dele está relacionado a tal tipo de doença. Desde então, foram feitas muitas descobertas em relação à medicina genética e como ela pode ajudar a mudar o futuro da saúde.
Esse foi o tema da palestra do médico João Bosco Oliveira durante o evento BlastU, festival de inovação realizado em São Paulo nesta terça-feira (13). Com o tema “Genética e Medicina Personalizada: o Futuro Chegou”, o fundador do Laboratório Genomika-Einstein comentou os avanços do estudo dos genes para criar opções personalizadas para os pacientes.
Um deles é a chamada medicina de precisão, que é basicamente a ideia de saber exatamente qual é o DNA responsável pelo aparecimento de tumores que causam câncer, como os de mama, próstata e pulmão. Esse conhecimento foi usado pela indústria farmacêutica, que conseguiu criar medicamentos específicos para cada paciente considerando a sua genética.
Isso também foi útil para doenças raras, como a distrofia muscular de Duchenne, que causa uma fraqueza muscular progressiva até a morte do paciente. O médico diz que, há quatro anos, o paciente só podia fazer terapia, mas agora diferentes companhias descobriram uma droga que poderia afetar o DNA exato do paciente com essa doença e ser mais eficaz no retardamento da distrofia.
Outro método é a farmacogenômica, que estuda os genes de uma pessoa para entender se ela é uma rápida metabolizadora de uma determinada droga, para entender, por exemplo, se a média padrão de uma dose seria menor para esse indivíduo do que para o resto da população.
Mas, para Bosco, um dos usos mais importantes da medicina genética seria na prevenção de doenças. Ele dá o exemplo de Angelina Jolie, que fez teste genético e descobriu que tinha uma grande chance de ter câncer de mama e decidiu fazer uma mastectomia profilática, ou seja, retirar a mama antes de desenvolver a doença. “Todas as mulheres deveriam fazer o teste para analisar o BRCA1 e o BRCA2, os genes relacionados ao câncer de mama”, diz o médico.
A análise de DNA também pode ser feita em uma biópsia líquida, que consiste em um teste usando amostra de sangue para ver se a pessoa potencialmente tem um câncer agora. Nesse caso, os médicos analisam o DNA circulante no sangue para analisar quais genes são cancerígenos e quais estão normais. Com esse método, acredita-se, seria possível detectar um câncer de cinco a sete anos antes de uma manifestação clínica.
Antes mesmo de nascer
A prevenção também pode ser feita antes do nascimento. Chamado de teste pré-natal não invasivo, o método também é uma forma de biópsia líquida, mas feito na mulher ainda grávida. Bosco explica que o bebê espalha o DNA dele na corrente sanguínea da mãe e então, analisando o plasma sanguíneo dela, é possível saber mais sobre o neném. Isso já é feito em outros países como ferramenta para decidir interromper ou não uma gravidez.
Indo mais fundo, é possível fazer uma análise genética dos embriões antes de eles serem usados em uma inseminação artificial, podendo assim escolher quais têm mais chance de sobreviver — sem relação alguma com a aparência que a criança terá.
Apesar de o desenvolvimento da medicina genética ter avançado rapidamente nos últimos anos, Bosco diz que a educação médica ficou para trás. “Esse atraso claramente existe, mas muitos profissionais estão vendo isso e tentando incorporar o conhecimento durante a faculdade e na residência médica”, diz o médico, que espera que nos próximos sete anos o nível de informação esteja mais equalizado.
Na opinião do profissional, no futuro, todo bebê terá seu genoma sequenciado — e “essa caixa de informações será aberta quando necessária”. Com isso, ele prevê que doenças genéticas graves serão extintas e os tratamentos serão mais assertivos com drogas e doses personalizadas.
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Redes sociais não fazem mal, desde que não substituam atividades mais saudáveis, diz estudo
Pesquisa entrevistou milhares de adolescentes em escolas inglesas e também revelou que meninas são mais vulneráveis a ‘cyberbullying’
Por BBC
As redes sociais fazem mal para os adolescentes?
A pergunta que tira o sono de pais, educadores e cientistas em todo o mundo recebeu, por ora, uma nova resposta.
E ela é: as redes não prejudicam diretamente os mais jovens, mas podem tirar o tempo que eles gastam em atividades vitais e saudáveis, como dormir e se exercitar.
O alerta vem de pesquisadores do Reino Unido, que recomendam a proibição de celulares depois das 22h e incentivos a atividades físicas.
Segundo o estudo, as meninas são especialmente vulneráveis ao cyberbullying, o que pode levar a problemas psicológicos.
No Reino Unido, nove em cada dez adolescentes usam redes sociais e há uma crescente preocupação com o seu impacto na saúde mental dos mais jovens.
Até agora, as conclusões das pesquisas são contraditórias devido à falta de estudos de longo prazo.
Neste estudo recente, publicado no na revista médica especializada “The Lancet Child & Adolescent Health”, mais de 12 mil adolescentes em idade escolar na Inglaterra foram entrevistados durante três anos, dos 13 aos 16.
Eles cursavam os anos 9, 10 e 11 (equivalentes ao 9º ano do ensino fundamental e 1º e 2º do ensino médio no Brasil) do sistema de ensino britânico.
O que o estudo fez?
Os adolescentes informaram com que frequência checavam redes como Instagram, Facebook, WhatsApp e Twitter diariamente, mas não quanto tempo gastavam usando-as.
No ano 9, a maioria (51%) das meninas e 43% dos meninos entraram em redes sociais mais de três vezes por dia; no ano 11, a frequência subiu para 69% entre os meninos e 75% entre as meninas.
Já no ano 10, os mesmos jovens preencheram um questionário sobre sua saúde mental e relataram experiências de cyberbullying, sono e atividade física.
No ano 11, os adolescentes avaliaram seus níveis de felicidade e ansiedade.
O que a pesquisa encontrou?
Os meninos e meninas que verificavam suas redes mais de três vezes por dia tinham pior saúde mental e maior sofrimento psicológico.
As meninas também parecem mais propensas a dizer que são menos felizes e mais ansiosas à medida que os anos avançaram, ao contrário dos meninos.
Os pesquisadores dizem que há indícios de um vínculo forte entre o uso de redes sociais e saúde mental.
Nas meninas, os efeitos negativos são revelados principalmente em perturbações do sono, ciberbullying e, em menor medida, falta de exercício.
Nos meninos, os fatores também têm um impacto, mas muito menor.
Os pais devem se preocupar?
O coordenador do estudo, Russell Viner, professor de saúde do adolescente do University College London, diz: “Os pais andam em círculos quando o assunto é o tempo que seus filhos passam nas redes sociais todos os dias.”
“Mas eles deveriam se preocupar com a quantidade de atividade física e sono dos filhos, porque as mídias sociais estão substituindo outras coisas.”
As redes sociais também podem ter um efeito positivo nos adolescentes e “desempenham um papel central na vida de nossos filhos”, acrescentou.
Também envolvida no estudo, a professora de psiquiatria infantil, Dasha Nicholls, da universidade Imperial College London, completa: “Não é o tempo na rede social em si, a questão é quando ela desloca os contatos e atividades da vida real.”
“A questão é encontrar um equilíbrio.”
É diferente para meninos?
A equipe de especialistas diz que, embora tenha observado diferenças no uso de redes sociais entre garotas e garotos, elas ainda não são bem compreendidas.
Também são necessários outros estudos para descobrir de que forma o uso das redes sociaiso pode influenciar o sofrimento psicológico dos meninos.
E quanto ao cyberbullying?
Nicholls diz que os pais devem monitorar as atividades de seus filhos para ter certeza de que não estão acessando conteúdo prejudicial, principalmente à noite.
“Com o cyberbullying, nem a nossa cama é um lugar seguro. Mas, se o seu celular estiver em outro cômodo da casa, você não pode ser intimidado em sua cama.”
Louise Theodosiou, do corpo docente sobre crianças e adolescentes do Royal College of Psychiatrists (organização profissional de psiquiatras do Reino Unido), diz: “Mais estudos são necessários para entender como podemos evitar os impactos mais negativos das redes sociais, particularmente em crianças e jovens vulneráveis.”
“É justo que as empresas de redes sociais contribuam para financiar esses estudos e façam mais para apoiar os jovens a usar a internet com segurança.”
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Exercício como tratamento de 6 doenças neurológicas
A atividade física virou remédio contra Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla, epilepsia, depressão e até enxaqueca. Mas como fazer com segurança?
Por Saúde é Vital
Em 2050, as pessoas acima dos 65 anos representarão um terço da população do planeta. E esse é o grupo mais suscetível a males marcados pela destruição dos neurônios, como o Alzheimer. A projeção é que ele afete 135 milhões de indivíduos daqui a três décadas. Alguns problemas, por outro lado, afligem o cérebro independentemente da idade. É o caso da depressão, que faz 322 milhões de vítimas pelo mundo hoje e deve ser o transtorno mais incapacitante do globo em 2020. Os números assustam e pedem que não fiquemos parados. De verdade: exercitar-se com regularidade já configura uma medida cientificamente comprovada para prevenir e controlar doenças que consomem a massa cinzenta. É bom que os brasileiros levem essa história a sério. Por aqui, 47% dos cidadãos são sedentários.
Quem se perde no conforto do sofá é o cérebro. Além de melhorar o abastecimento de sangue, oxigênio e nutrientes, a atividade física pode fazer a cabeça trabalhar de forma mais ágil e prepará-la para enfrentar tanto doenças neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson…) como psiquiátricas (depressão, ansiedade etc).
Os cientistas já decifraram que o suor da camisa induz um fenômeno chamado neurogênese, a formação de novos neurônios. Parece mágico, mas é pura bioquímica: durante a atividade, há um aumento na liberação da substância BDNF (sigla em inglês para fator neurotrófico derivado do cérebro), envolvida na produção, conservação e funcionamento das células nervosas.
Níveis mais altos de BDNF, que podem se manter elevados até oito horas depois do exercício, estão associados à proteção contra diversos perrengues. “Sua presença diminui a inflamação local, melhora as conexões entre os neurônios e preserva o córtex pré-frontal, essencial para as tarefas que exigem planejamento e organização”, expõe a educadora física Andréa Camaz Deslandes, coordenadora do Laboratório de Neurociência do Exercício da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os cariocas, aliás, descobriram recentemente que um hormônio fabricado pelos músculos durante o exercício tem potencial para reverter a perda de memória característica do Alzheimer – feito que nenhum medicamento alcançou até o momento. Batizado de irisina, ele foi identificado pela primeira vez em 2012 e atua na regulação do metabolismo corporal.
Agora é alvo de estudos por seu papel de socorro ao cérebro. Pode estar aí uma das chaves moleculares que explicam o poder da malhação não só para a prevenção como para o tratamento dessa e de outras doenças.
Exercício vira remédio
As evidências do impacto positivo da atividade física no controle de problemas neurológicos não se resumem a Alzheimer. Pessoas com condições crônicas como epilepsia, esclerose múltipla e enxaqueca também têm a ganhar com um treino prescrito e supervisionado.
Aí que está: as indicações estão cada vez menos genéricas, do tipo “você precisa se exercitar”. A tendência é traçar as modalidades mais compatíveis e personalizar o treinamento. Em geral, o benefício vem na esteira do tempo de prática e da constância – não adianta malhar umas semanas e depois parar – e do respeito a possíveis limitações.
Manter uma vida ativa antes de qualquer desordem cerebral se manifestar é o melhor dos cenários. Assim se cria uma reserva cognitiva, nome para a capacidade de a massa cinzenta lidar com eventuais danos e se adaptar a eles.
Provavelmente há uma razão evolutiva para isso. Nossos ancestrais precisavam se movimentar e pensar mais do que seus pares para sobreviver. Esse é um elo forjado há milênios”, teoriza Michael Wheeler, pesquisador da Universidade Baker, na Austrália, que estuda os efeitos do sedentarismo na cachola.
Em pleno século 21, nunca foi tão importante se mexer pelo bem da cabeça – inclusive se ela já é alvo de uma doença, como você verá a seguir.
1) Alzheimer
Muito ligado à perda da memória, é o tipo mais comum de demência no Brasil, onde afeta 1,2 milhão de pessoas. A atividade física já é associada à diminuição do risco de desenvolver a doença, mas pode ajudar também a desacelerar sua progressão.
Isso porque induz transformações no cérebro para compensar a devastação de neurônios – fenômeno que, entre outras áreas, afeta o hipocampo, responsável pelas memórias recentes. Os exercícios aeróbicos (caminhada, trote…) parecem ser os mais indicados.
Um experimento com roedores feito na UFRJ desvendou que a irisina, aquele hormônio produzido pelos músculos com o exercício, chega a reverter a perda de memória. O achado precisa ser confirmado em gente como a gente, mas abre uma esperança para o tratamento do problema.
Já se sabe que pessoas com Alzheimer em estágio moderado ou grave têm menores níveis de irisina no cérebro. “Os mecanismos de ação ainda não estão totalmente elucidados, mas nosso trabalho demonstrou que ela protege as sinapses, as conexões entre os neurônios”, diz a bióloga Fernanda Felice, uma das autoras da pesquisa.
2) Parkinson
Nada melhor do que o exercício para estimular a produção natural de dopamina, neurotransmissor em falta no cérebro de quem tem Parkinson, desordem caracterizada por rigidez, tremores e outras alterações motoras.
Uma revisão de estudos assinada pela Clínica Mayo, nos Estados Unidos, indica que as modalidades intensas podem ser particularmente úteis. “Recomendo a prática de atividades vigorosas mesmo a pacientes com Parkinson em estágio avançado”, relata o neurologista Eric Ahlskog, autor do levantamento.
É evidente que tudo precisa ser feito sob orientação médica e supervisão de um profissional. “Treinos complexos, com múltiplos estímulos ou que trabalhem o equilíbrio, como a dança, são bem-vindos porque atuam na região do cérebro que coordena e automatiza os movimentos”, aponta a educadora física Carla da Silva Batista, que investiga o tema em seu pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP).
Também são importantes o alongamento e o fortalecimento muscular, assim como não deixar de tomar os remédios prescritos pelo especialista.
3) Esclerose múltipla
Essa doença autoimune corrói a bainha de mielina, camada que protege os nervos para que se mantenha a condução dos impulsos elétricos – com os fios desencapados, por assim dizer, há prejuízos para se movimentar, enxergar… De acordo com o fisioterapeuta Mark Manago, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, pessoas com a condição podem obter melhoras na força, no equilíbrio e na capacidade aeróbica ao fazer um treino supervisionado.
Ele constatou em seus estudos que exercícios de força, em especial os que ativam a panturrilha, são essenciais para aprimorar a marcha. Práticas como caminhada e corrida, aliás, colaboram bastante para aliviar uma das queixas mais recorrentes dos pacientes, a fadiga.
Outra vantagem do exercício na esclerose múltipla é seu efeito anti-inflamatório, aliado inclusive na prevenção de males que podem se aproveitar do transtorno, caso de osteoporose, obesidade e doenças cardiovasculares. Déficits cognitivos e quadros depressivos também são menos comuns ou amenizados na rotina de quem leva uma vida ativa.
4) Epilepsia
Há até pouco tempo – e muita gente ainda pensa assim -, a atividade física era contraindicada a portadores do problema, mais conhecido pelas convulsões. Temia-se que ela fosse gatilho para as crises.
“Uma série de estudos foi feita desde então e sabemos agora que o exercício é seguro e mesmo treinos exaustivos não desencadeiam esses episódios”, conta o neurologista Ricardo Arida, da Universidade Federal de São Paulo.
Pelo contrário: a prática regular e orientada parece reduzir o número de ataques e equilibrar o cérebro. “Ela aumenta os níveis de noradrenalina e endorfina, neurotransmissores com efeito protetor, e ativa o sistema opioide, que age como um inibidor das crises”, explica Arida.
Atividades aeróbicas de baixa intensidade são as mais estudadas, mas mesmo musculação e natação podem ser realizadas – só é preciso que as crises estejam controladas e haja supervisão durante a prática.
As vantagens do esporte se aplicam a quase todos os tipos de epilepsia. A exceção fica por conta da epilepsia reflexa, que ocorre durante a exposição a luzes ou a outros estímulos, como o movimento corporal.
5) Enxaqueca
Essa dor de cabeça é mais um exemplo de problema para o qual a sabedoria popular prescrevia distância da academia ou das quadras. Outro engano!
“Ainda há poucos estudos disponíveis, mas alguns já demonstram que a atividade física aeróbica, combinada com o medicamento, melhora a resposta ao tratamento”, contextualiza o neurologista Fernando Kowacs, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Os mecanismos protetores ainda não foram confirmados, mas a principal aposta está na liberação de endorfina e serotonina, neurotransmissores que atuam como analgésicos naturais. Outro ponto é que se exercitar alivia a tensão e promove uma rotina mais regular de sono.
“E sabemos que isso pode diminuir a frequência das crises”, diz o médico. A melhor modalidade é a que faz a camisa suar mesmo, como caminhadas rápidas e corrida.
Quando a crise é leve, sem náuseas ou intolerância à luz, a prática está liberada e até ameniza o incômodo. Agora, se o episódio é incapacitante, que piora com qualquer estímulo, o ideal é repousar e só voltar à ativa quando passar. A hidratação é decisiva aqui: qualquer desequilíbrio no corpo é gatilho para a dor.
6) Depressão, ansiedade e cia.
Já existe uma farta documentação sobre o benefício da atividade física para a saúde mental. Na depressão, ela ajuda a encolher a dose dos medicamentos e até suprime a necessidade deles em casos mais leves – isso só com aval médico, vale frisar.
“Alterações fisiológicas provocadas pela doença, como aumento da inflamação, redução dos níveis de BDNF e elevação do cortisol, o hormônio do estresse, podem ser revertidas com a prática de exercícios”, explica o médico Fernando Fernandes, do Instituto de Psiquiatria da USP.
Vencer o sedentarismo também auxilia na prevenção e no controle da ansiedade. “Estudos em jovens mostram que o exercício pode reduzir o risco de transtornos psiquiátricos no geral, especialmente os de humor”, destaca Fernandes.
Uma dica para quem sofre com um problema do tipo é malhar durante o dia, de preferência pela manhã. Como exercitar-se deixa a cabeça mais ligada, há risco de o sono demorar para chegar se o treino for noturno.
Outras doenças psiquiátricas estão na mira da atividade física, como indicam pesquisas recentes. Em experimentos com portadores de esquizofrenia, por exemplo, os exercícios supervisionados parecem controlar repercussões cognitivas como perda de memória e podem até refrear episódios de psicose.
A cabeça de todos sai ganhando
O desempenho na escola ou no trabalho e o raciocínio na hora de tomar uma decisão agradecem. Aumento no fluxo sanguíneo e de certas substâncias no cérebro estão por trás dos ganhos.
Um estudo australiano mostrou que idosos saudáveis que andam 30 minutos toda manhã e fazem pequenas caminhadas durante o dia conservavam melhor os neurônios e apresentavam funções como memória de trabalho mais eficientes. Mentes jovens se beneficiam igualmente.
O conselho da Organização Mundial da Saúde é fazer pelo menos 150 minutos de exercícios por semana ou três sessões semanais de quase uma hora.
Foto: George Doyle (Getty Images) / Ilustração: Thiago Almeida/SAÚDE é Vital