Diagnóstico precoce pode salvar visão de crianças com tumor ocular
Para que a terapia tenha mais chances de sucesso, no entanto, é fundamental diagnosticar a doença precocemente
Por Agência Brasil
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) oferece, desde 2012, um tratamento capaz de preservar a visão de 80% das crianças que apresentam o câncer de olho chamado retinoblastoma.
O alerta é de especialistas do instituto, que destacaram hoje (25) os avanços no combate a esse tipo de câncer, considerado o mais frequente nos olhos das crianças. Apesar disso, o retinoblastoma é raro, e afeta uma a cada 17 mil crianças nascidas vivas.
A tecnologia trazida ao Inca, entre 2011 e 2012, foi desenvolvida no Japão na década de 1990 e chegou a países ocidentais há cerca de 15 anos. Em vez de sessões de quimioterapias que afetam todo o corpo, o tratamento consiste em inserir com um cateter uma quimioterapia localizada que afeta apenas o olho da criança.
A oncologista pediátrica do Inca Nathalia Grigorovski explica que o tratamento é recomendado quando não há a indicação de cirurgia e tem uma série de vantagens além da eficácia.
Avanço
“O avanço está na possibilidade de fazer um tratamento muito localizado, que não se espalha pelo corpo e não tem aqueles malefícios da quimioterapia, quando é feita por via venosa. Não tem enjoo, queda de cabelo, a baixa da imunidade e tem uma eficácia muito grande, já que a concentração da quimioterapia se restringe à área do olho”.
A chefe do serviço de oncologia ocular do INCA, Clarissa Mattosinho, destaca que o tratamento permitiu aumentar de 20% para 80% a preservação da visão das crianças após a doença, que precisa ser precocemente diagnosticada.
“O rastreamento é feito através do teste do reflexo vermelho, conhecido também como teste do olhinho. Esse exame deve ser feito pela primeira vez na maternidade, antes da alta, e depois repetido em todas as consultas de puericultura, que são aquelas consultas dos primeiros anos”.
A fotografia com flash é outra ferramenta que os pais têm para procurarem ajuda médica a tempo. “Na fotografia, você vai observar um reflexo branco na retina, e o reflexo normal é um reflexo vermelho-alaranjado. Quando houver um reflexo branco, é um sinal de alerta, e a criança tem que ser levada para uma avaliação do oftalmologista”, diz a médica, que afirma que não há risco em utilizar o flash e lembra que o reflexo branco também pode ser sinal de outras enfermidades.
Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil
Câncer: é preciso mirar também na atitude, e não somente nos tumores
Pesquisadores de Stanford afirmam que mudança de mentalidade do paciente pode ser capaz de alterar a experiência da doença
Por Bem Estar
Ninguém é o mesmo depois de um diagnóstico de câncer, que representa um fardo emocional para os pacientes e suas famílias. A sensação de instabilidade e insegurança não persiste apenas durante o tratamento; na verdade, se estende pelos anos seguintes e pode acompanhar os sobreviventes até o fim. Não é à toa que ansiedade e depressão acometem pacientes com a doença numa proporção bem maior do que em relação ao restante da população.
Para enfrentar esse quadro, em estudo divulgado esta semana na revista científica “Trends in Cancer”, pesquisadores propõem uma nova frente de batalha: mirar não somente os tumores, mas a mentalidade e a atitude dos pacientes. Segundo eles, o impacto dessa abordagem poderá se traduzir em benefícios para o tratamento e o bem-estar da pessoa. “Gastamos milhões de dólares tentando prevenir e curar o câncer, mas ele é mais do que uma doença física”, afirma Alia Crum, professora de psicologia na Universidade de Stanford e coautora do trabalho. “Ao mesmo tempo em que miramos as células malignas com tratamentos de ponta, deveríamos também garantir que as ramificações sociais e psicológicas da doença fossem tratadas”, completa.
Numa palestra dada no Fórum Econômico Mundial, em fevereiro do ano passado, ela citou o efeito placebo: o medicamento não tem qualquer princípio ativo, mas, ao tomá-lo e acreditar em sua eficácia, a mente do indivíduo é capaz de ativar os mecanismos que o organismo tem para se curar. Na sua opinião, esse poder deve ser utilizado na luta contra o câncer. “Nossas mentes mudam a realidade. A forma como pensamos, como enxergamos as coisas, influencia nosso foco, nossa atenção e afeta o resultado final”, enfatizou na ocasião.
Décadas de estudos nos campos da neurociência e da psicologia trouxeram o reconhecimento do poder do “mindset”: a forma como cada um enxerga seu entorno é única, tanto que, diante de um diagnóstico perturbador, as reações são diferentes. Os pesquisadores argumentam que empoderar os pacientes para que mudem sua atitude em relação ao câncer é capaz de alterar a experiência da enfermidade. Em vez do pensamento negativo da iminência de uma catástrofe, ou de que pouco ou nada há para se fazer, é possível trabalhar uma perspectiva de que o corpo é capaz e resiliente. Dessa forma, a pessoa ficará mais engajada, terá menos medo dos efeitos colaterais e se motivará a comer, fazer exercícios e mudanças em seu estilo de vida.
“Não estamos falando de pensamento positivo”, ressalta Alia Crum. “Ter uma atitude em relação ao câncer de que ele pode ser administrado e vencido não significa dizer que se trata de algo positivo ou que deveríamos ficar felizes”, completa. Os pesquisadores propõem as chamadas “intervenções inteligentes” (“wise interventions”), que buscam desconstruir visões, estigmas e estereótipos negativos que cercam e influenciam o julgamento das pessoas. A abordagem tem sido empregada com êxito na área da educação, auxiliando estudantes de baixo desempenho, mas não foi explorada na área da oncologia. É a missão que o time de Stanford tomou para si e a professora está confiante: “a pesquisa ainda engatinha, mas estamos trabalhando duro para mapear os mindsets que interferem na capacidade de os pacientes serem resilientes no enfrentamento do câncer. Principalmente, queremos descobrir que estados mentais podem ser cultivados para aumentar seu bem-estar”.
Foto: Divulgação