Estudo projeta 90 mil mortes por Covid-19 no Brasil até agosto
A pesquisa, feita na Universidade de Washington, considera as medidas tomadas no país e dados preexistentes para chegar às estimativas
Por Super Interessante
Um estudo feito pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, sigla para o nome em inglês) da Universidade de Washington (EUA) prevê que, até agosto, o Brasil terá 90 mil mortes pela doença.
Até o momento, o Brasil é o sexto país com mais infecções por coronavírus confirmadas no mundo, somando cerca de 196 mil casos desde o início do surto. Só na última-quarta feira (13), o país registrou 749 novas mortes, chegando a 13 mil vítimas de Covid-19.
Para chegar às projeções, os pesquisadores do IHME tomam como base as políticas públicas aplicadas pelo governo de cada país e também os dados oficiais já divulgados, como número de infectados e internados. Por enquanto, a maior parte dos estados brasileiros está adotando o isolamento social, mas algumas cidades deram um passo adiante e decretaram lockdown (saiba o que significa cada uma dessas medidas nesta matéria da Super).
As métricas indicam que o novo coronavírus atingirá seu pico de infectados no dia 2 de junho, com cerca de 204 mil casos em um só dia (o cálculo também considera pessoas não testadas e assintomáticas). Até esta quinta (14), estima-se, em média, 190 mil infectados espalhados pelo país.
Entre 17 de junho e 9 de julho, as mortes podem chegar a marca de mil por dia, passando a cair lentamente depois desse período. Os Estados Unidos, que são agora o epicentro da doença, chegaram a registrar mais de duas mil mortes por dia, mas as projeções indicam um período de recuperação para os próximos meses.
O governo americano tem utilizado as projeções do IHME para tomar algumas decisões. Foi com base nesses dados, inclusive, que o presidente Donald Trump anunciou que poderiam ter mais de dois milhões de mortes se não aderissem ao isolamento social, mas que ficariam entre 100 e 200 mil mortes na primeira onda de contágio caso contassem com a medida. Até o momento, o país registrou 82 mil óbitos, com previsão de 147 mil até agosto.
Mas, nos EUA, existem alguns críticos ao modelo do IHME. Eles argumentam que os cálculos prevêem um pico, e consequentemente uma queda, rápidos demais. Dessa forma, o estudo estaria subestimando o número de mortes. Ou seja, acredita-se que o cenário pode ser ainda pior do que o instituto projeta.
As estimativas trazem ainda dados sobre o número de leitos necessários para atender à demanda de pacientes. De meados de junho ao início de julho, serão precisos, por dia, cerca de 11 mil vagas de UTI para atender a todos os pacientes. Mas, há apenas 4.060 disponíveis. O Brasil não tem leitos em UTIs para atender a todos os infectados desde 3 de maio – e deve continuar sem até agosto.
A pesquisa não abrange todos os países com casos de infecção. Por enquanto, o Brasil é um dos poucos sul-americanos presentes na lista. Os estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo receberam uma atenção especial. Ao buscar os dados por localidade, são mostradas informações sobre o distanciamento social e a implementação de medidas, como fechamento de escolas e outros estabelecimentos.
Foto: Buda Mendes/Getty Images
Pesquisa nacional sobre propagação do coronavírus enfrenta resistência em 75 municípios, diz reitor
No caso mais grave, em Santarém (PA) casa de pesquisadora foi alvo de busca e apreensão, afirma Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, responsável pelo levantamento
Por Bem Estar
Uma pesquisa nacional feita pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) a pedido do Ministério da Saúde sobre a propagação do coronavírus no Brasil tem enfrentado dificuldades em 75 dos 133 municípios em que está sendo feita, diz o reitor da instituição, Pedro Hallal. No caso mais grave, a casa de uma pesquisadora foi alvo de mandado de busca e apreensão em Santarém (PA).
O levantamento começou a ser feito na quinta-feira (14) e prevê a testagem de 33 mil pessoas. O objetivo é ter uma visão mais precisa do número de pessoas infectadas pelo coronavírus, que pode ser muito maior que os 204 mil já confirmados até a manhã desta sexta-feira (14), já que, no Brasil, a prioridade tem sido testar apenas pacientes graves – o que deixa assintomáticos e pessoas com sintomas leves fora da conta.
As dificuldades estão sendo impostas tanto por prefeituras quanto pelo receio da população, diz Mariângela Freitas da Silveira, uma das responsáveis pelo estudo.
“Tivemos várias pessoas que chamaram as forças de segurança”, afirma.
Parte delas não souberam da pesquisa, outra parte não informou a população sobre a presença dos pesquisadores – o medo do avanço da doença em alguns locais levaram até a agressões e ameaça de linchamento dos pesquisadores, o que ocorreu em 10 municípios.
“Há cidades com barreiras sanitárias, e as equipes tiveram problemas para entrar. Algumas cidades queriam que os pesquisadores fizessem quarentena, mas todos haviam sido testados e os casos positivos foram afastados. Houve casos em que a polícia apreendeu material e destruiu os exames. As equipes estão paradas e estamos tentando reverter a situação.”
Mariângela afirma que está em contato com as prefeituras para alinhar as ações de retomada das pesquisas. Segundo ela, em algumas cidades os pesquisadores poderão voltar a campo ainda na manhã desta sexta.
Segundo o reitor da UFPel, os problemas estão sendo causados por uma falha de comunicação. Embora o Ministério da Saúde tenha comunicado as Secretarias Estaduais de Saúde sobre a realização do estudo, essa informação não chegou a parte das prefeituras.
“[Em Santarém] a secretaria de saúde lançou um comunicado informando que foi um mal entendido. Mas os entrevistadores estão com medo de ir à campo”, diz Hallal.
A Secretaria Estadual de Saúde do Pará divulgou um comunicado em que diz que recebeu o e-mail sobre a pequisa ás 12h43 de quinta-feira (14), quando os pesquisadores já estavam no município e que, por isso, não foi possível entrar em contato em tempo hábil com a Secretaria Municipal de Saúde de Santarém.
O G1 consultou o Ministério da Saúde sobre o andamento da pesquisa e as notificações às secretarias de saúde e aguarda um posicionamento.
Foto: G1
Menos sedentarismo, mais obesidade: a saúde brasileira mudou em uma década
A nova edição da pesquisa Vigitel, feita pelo Ministério da Saúde com mais de 50 mil pessoas, traz boas e más notícias sobre o estilo de vida no país
Por Saúde é Vital
Nos últimos dez anos, a porcentagem de tabagistas no país caiu quase pela metade, enquanto o consumo de álcool se manteve estável. Paralelamente, a obesidade se disseminou e os brasileiros estão se exercitando mais – o índice de fisicamente ativos saltou de 14,7% para 39%.
É o que aponta a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Para a nova edição, que reúne dados de 2019, cerca de 52 mil pessoas maiores de 18 anos foram ouvidas nas 26 capitais estaduais e no Distrito Federal.
Como é realizado anualmente, o levantamento permite traçar um panorama amplo da saúde e dos hábitos nacionais. Abaixo, listamos algumas das principais mudanças dos últimos dez anos.
Atividade física
O número de praticantes regulares de exercícios físicos cresceu significativamente, chegando a quase 40% dos indivíduos. O maior índice é de Palmas (TO), onde metade dos respondentes declara realizar ao menos 150 minutos de atividades moderadas no tempo livre por semana. Já São Paulo (SP), com 34,6%, ficou na última posição.
Em 2009, a parcela de adeptos era considerada modesta em todas as cidades estudadas – chegando a 10% em São Paulo, de novo a pior colocada, e a 21% em Vitória (ES), a campeã daquele ano.
Ou seja, temos um bom avanço. Mas vale destacar que 44,8% da população segue não atingindo a cota de atividade física recomendada.
Pior: 13,9% dos brasileiros são completamente sedentários. Entra nessa categoria quem não praticou nenhuma atividade no tempo livre nos últimos três meses e não faz esforço físico no trabalho nem no deslocamento para ele.
Obesidade e excesso de peso
Há dez anos, 13,9% da população apresentava obesidade — hoje são 20%. Entre os 45 e 64 anos, a taxa de obesos está na casa dos 24%. Já nos jovens, o número é de 19%. A doença é mais prevalente em pessoas com baixa escolaridade (menos de oito anos da vida estudando).
O sobrepeso cresceu em passo semelhante, de 46,6% para 55,4%. Ou seja, mais da metade dos brasileiros tem excesso de gordura corporal.
Tabagismo e álcool
Como resultado do endurecimento das leis antifumo, o tabagismo caiu significativamente no país. Se pouco mais de 15% dos adultos consumiam cigarros em 2009, agora são menos de 10%.
E os homens ainda fumam mais do que mulheres – 12,3% contra 7,7%.
Por outro lado, o consumo excessivo de álcool segue estagnado há uma década. Tanto em 2009 como agora, cerca de 18% dos entrevistados afirmaram ter abusado das bebidas em pelo menos uma ocasião nos 30 dias anteriores à entrevista. Em mulheres, isso equivale a quatro doses e, em homens, a cinco.
Tempo de tela
Chama a atenção que 62% dos adultos relataram passar mais de três horas do tempo livre por dia assistindo à televisão ou usando computador, tablet e celular. O hábito pode bagunçar a saúde mental e favorecer o sedentarismo, o que aumentaria o risco de desenvolver doenças crônicas como hipertensão.
Em 2009, o tempo dedicado aos dispositivos eletrônicos era uma preocupação menor. À época, o entretenimento passivo era calculado a partir da quantidade de televisão assistida. A saber, 25,8% dos brasileiros declaravam passar mais de três horas na frente do aparelho.
Ilustração: Leonardo Yorka/SAÚDE é Vital
Impacto da covid-19 na população de risco é tema de seminário online
Especialistas falam de estratégias para portadores de doenças crônicas
Por Agência Brasil
A pandemia de covid-19 impõe alerta importante para um grupo específico de pessoas: os portadores de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre elas as cardiovasculares, o diabetes e a hipertensão. Os afetados por essas doenças fazem parte do chamado grupo de risco.
Para debater os impactos da pandemia na atenção básica de saúde e os caminhos para reduzir os efeitos sobre essas doenças, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, a Sociedade Brasileira de Hipertensão, o Instituto do Coração e a Agência Tellus estarão reunidos na webinar (seminário online) O Cuidado às DCNTs na Atenção Básica: O Que Muda Com a Pandemia?. O debate será nesta sexta-feira (15), das 14h às 15h. A transmissão será pela internet.
A iniciativa é parte de uma estratégia da Diretoria de Atenção Básica da Secretaria Municipal da Saúde para o enfrentamento das doenças crônicas, chamada Cuidando de Todos Contra o Coronavírus. O objetivo é discutir os impactos da pandemia no cuidado com as DCNTs e a possibilidade de redução dos seus efeitos nessas doenças, além de promover conteúdos e informações de utilidade pública com base em evidências e foco nos profissionais do setor e na população em geral.
As doenças crônicas não transmissíveis, com destaque para as cardiovasculares, o diabetes e a hipertensão, têm sido as mais presentes nas condições que evoluem para os casos graves e de óbitos por covid-19. Dados da Secretaria da Saúde mostram que entre os idosos, a doença/condição crônica de maior prevalência em ambos os sexos é a hipertensão (58,8% em mulheres e 49% em homens). O diabetes ocupa o terceiro lugar nos homens com 60 anos ou mais (21,5%) e o sétimo lugar entre as mulheres (23,2%).
“As doenças crônicas têm evolução lenta, muitas vezes passam despercebidas pela população em geral e, algumas vezes, percebidas objetiva ou subjetivamente por manifestações agudas, como numa crise hipertensiva”, alerta o coordenador das Condições Crônicas em Saúde da secretaria, o médico Edmir Peralta.
Durante a pandemia de covid-19, foi estabelecida pela Portaria nº 182/202 a recomendação de que as pessoas com doenças crônicas não transmissíveis devem ser atendidas e acompanhadas nas unidades básicas de Saúde (UBS), segundo a necessidade de cuidados. Ou seja, quem sentir qualquer mal-estar deve procurar uma UBS próxima de casa.
Segundo o médico, os sintomas das doenças cardiovasculares são muito variáveis e dependem do tipo e estágio em que ela se encontra. Vão desde “cansaço, falta de ar durante grandes esforços, inversão do ritmo urinário (diurno/noturno) até sintomas mais graves como dificuldade para respirar, inchaços nas pernas e no corpo, dor no peito, palpitação, síncope, entre outros”.
No diabetes, os sintomas mais comuns são fome frequente, formigamento nos pés e mãos, vontade de urinar diversas vezes, feridas que não cicatrizam, infecções e visão turva. “Como nas doenças cardiovasculares, os sintomas dependem da evolução da doença”, explica Peralta.
Para quem já tem doenças crônicas não transmissíveis, as principais orientações são levar um estilo de vida saudável, para que o tratamento seja efetivo, explica o médico. “Como previsto no protocolo Cuidando de Todos, implantado na Atenção Primária à Saúde, ações voltadas aos fatores de riscos ligados ao comportamento e ao estilo de vida – como sedentarismo, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, obesidade, alimentação, sobrepeso, obesidade, stress e outros – devem ser considerados na abordagem não medicamentosa e aderência ao tratamento com medicamentos, quando necessário”.
Webinar
A transmissão será pela página no facebook do projeto Cuidando do Seu Coração e contará com a participação dos especialistas Solange Saboia (coordenadora de Vigilância em Saúde-SP), Milton Lapchick (médico do Núcleo Municipal de Controle de Infecção Hospitalar), Edmir Peralta (coordenador das Condições Crônicas em Saúde na Secretaria Municpal) e Luiz Bortolotto (diretor da Unidade de Hipertensão do InCor).
A mediação será feita por Germano Guimarães (Agência Tellus).
Foto: Agência Brasil
UFF monta ventiladores mecânicos para combate à covid-19
Expectativa é entregar 200 equipamentos até o final de junho
Por Agência Brasil
A Universidade Federal Fluminense (UFF) já conseguiu concluir a primeira versão dos ventiladores mecânicos que vão suprir as necessidades de instituições de saúde do estado do Rio de Janeiro. Os equipamentos serão doados pela equipe do curso de engenharia elétrica não só para o Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap), da UFF, mas a todas as instituições de saúde que se cadastrarem para recebê-los.
O coordenador do curso de engenharia elétrica da UFF, Daniel Henrique Nogueira Dias, informou à Agência Brasil que estão sendo feitos testes para resolução de alguns problemas detectados, de modo a permitir que a segunda versão dos ventiladores mecânicos possa ser montada até amanhã (15). “A gente depende de insumos que estão chegando”, explicou.
Com a segunda versão aprovada e funcionando, o próximo passo será fazer testes clínicos no Huap, onde outra parte da equipe do curso de engenharia elétrica está trabalhando em um sistema para duplicação de ventiladores. “A ideia é levar isso para o Huap e usar os equipamentos que eles têm lá disponíveis, como um pulmão artificial, e a gente começa a fazer os testes, monitorando pressão e fluxo, para ver se eles estão de acordo com o que se espera do que seria a aplicação em seres humanos. Essa é a primeira etapa”, destacou Dias.
Certificação
Com os testes clínicos aprovados, a próxima fase é a certificação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que facilitou muito a parte burocrática de todo o processo, segundo o professor da UFF. A expectativa é conseguir submeter o pedido de certificação à Anvisa já na semana que vem, para dar início à fabricação em escala.
“Algumas das adaptações que estamos fazendo na segunda versão [dos ventiladores] já é pensando na produção em escala, para facilitar a produção rápida disso. São coisas complexas que não podem demorar muito para ser feitas”, afirmou Dias.
O projeto faz parte da Frente UFF, iniciativa que reúne professores, alunos, colaboradores da comunidade interna e externa, no combate os efeitos do novo coronavírus antes, durante e após a pandemia. A frente trabalha somente com doações.
O projeto de produção do ventilador mecânico somou-se a outro que já estava em andamento na universidade, de confecção de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e roupas de proteção para trabalhadores da área de saúde que estão na linha de frente no combate à covid-19.
Para distribuir os ventiladores, será criado um cadastro para que unidades de saúde que precisam do equipamento façam seus pedidos. “A gente vai tentar atender a todos, dentro da necessidade de cada hospital”, assegurou o coordenador do curso de engenharia elétrica da UFF.
A equipe aguarda a divulgação de resultado de edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para ter acesso a recursos financeiros suficientes para montar 200 ventiladores mecânicos até o final de junho. “Acredito que a necessidade vai ser muito maior do que isso”, disse o professor.
Protótipo
Dias conta que os protótipos se basearam em modelos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, dsponibilizados livremente. “O sistema é montado partindo de um projeto que foi desenvolvido pelo pessoal do Instituto de Tecnologia de Massachusetts que o disponibilizou de forma livre e aberta para todo mundo que quisesse pegar e desenvolver. A gente está fazendo nossas adaptações [de componentes] para se adequar às condições que tem aqui no país”.
Uma vez concluído o projeto da UFF, o objetivo da equipe é deixá-lo livre também, para que qualquer pessoa do Brasil ou do mundo possa baixá-lo e utilizá-lo, inclusive para fins comerciais.
A equipe está pensando também em terceirizar boa parte da produção de componentes, como placas de circuito impresso, usadas na parte eletrônica, e que são produzidas atualmente na universidade, para ficar só com a montagem final dentro da UFF. “Acho que isso pode acelerar a produção. A gente só montaria essas peças”, disse Dias.
Foto: IDOR