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Estudo que analisou 781 coronavírus aponta relação de 96,2% entre Sars-Cov-2 e vírus do morcego-ferradura

Pesquisa chinesa e americana conseguiu mostrar a evolução, transmissão entre espécies e o possível responsável pela chegada do Sars CoV-2 aos humanos

 

Por G1

 

Uma parceria internacional entre cientistas realizou uma análise sobre a relação entre os coronavírus e os morcegos. No trabalho, o grupo analisa as sequências genéticas de 781 vírus da mesma família do Sars CoV-2. Segundo a revista “Science”, mais de 30% deles não estavam descritos ainda na literatura.

A partir do estudo, os pesquisadores apontam que a hipótese principal é que o novo coronavírus seja derivado de um grupo de vírus originários de morcegos-ferradura.

Isso porque, de acordo com os pesquisadores, há uma forte suspeita de que os morcegos sejam os responsáveis pela transmissão do coronavírus para os seres humanos – tanto no caso do Sars CoV-1, em 2002, quanto agora com o Sars CoV-2 causador da pandemia de 2020. Eles seriam uma espécie de “reservatório” da doença em constante transmissão.

A evolução e a diversidade da família coronavírus, no entanto, ainda não foi totalmente desvendada. Com análise estatística, mais a genética de todos os morcegos conhecidos até o momento e as centenas de amostras dos vírus, os pesquisadores tentaram ampliar o que sabemos sobre a transmissão entre espécies e a dispersão na China.

Eles não conseguiram confirmar a origem do Sars CoV-2. Entretanto, descobriram que há uma troca genética maior entre a família Rhinolophidae e, como meio crucial para a evolução da família coronavírus, está o gênero Rhinolophus.

Em entrevista à “Science”, o autor do estudo, Peter Daszak, disse que “parece que, por pura má sorte filogeográfica, histórica e evolutiva, os Rhinolophus acabam sendo o principal reservatório de coronavírus relacionados à Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave)”.

“Em nossa análise filogenética, que inclui todos os coronavírus de morcegos conhecidos da China, descobrimos que o Sars CoV-2 é provavelmente derivado de um grupo de vírus originários de morcegos-ferradura (Rhinolophus spp.). A localização geográfica parece ser a província de Wuhan”.
Junto à Daszk, outros 14 cientistas assinam o estudo. Entre eles, está a pesquisadora Shi Zheng-Li, especialista em morcegos pelo Instituo de Virologia de Wuhan. Foi ela que recebeu a primeira ligação do diretor do instituto chinês, ainda em dezembro, para contar que um novo vírus havia sido detectado em dois pacientes. Foi o início do que seria a pandemia de hoje.

Juntos, Daszk e Zheng-Li pesquisam a relação entre morcegos e coronavírus há duas décadas. Em outubro de 2013, na revista “Nature”, um artigo da dupla já dizia: “Nossa descoberta de que morcegos portadores de SARS-CoV podem infectar diretamente seres humanos tem enormes implicações para medidas de controle de saúde pública”.

Os dois pesquisadores seguiram capturando os morcegos e passando cotonetes para coleta de amostras. Juntaram fezes dos animais, o material genético e extraíram RNA para ampliar em laboratório. Eles construíram com o tempo uma árvore genealógica das espécies e, depois, com base no mapa genético viral, descobriram com a pandemia atual, em 2020, que um coronavírus encontrado nos Rhinolophus era 96,2% idêntico ao SARS CoV-2. Esse é o parente mais próximo já encontrado, de acordo com a “Science”.

Por enquanto, não há um resultado sólido. O que o estudo mostra, de acordo com os autores, é a grande variedade de coronavírus existentes e como é difícil encontrar a “ponta do iceberg”.

Cancelamento da verba pelo NIH

O grupo de pesquisadores de morcegos teve a verba cortada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês). Depois disso, a EcoHealth Alliance, organização sem fins lucrativos dirigida por Daszk, recebeu milhões de dólares de doações e, então, a pesquisa seguiu.

O corte ocorreu em 24 de abril, quando o NIH informou que estava encerrando a concessão de verbas para os estudos de Daszk e Zheng-Li. O grupo de cientistas tinha renovado o contrato com o instituo americano em 2019. A justificativa para o corte: “a pesquisa não estava mais alinhada com as prioridades da agência”.

O caso causou uma revolta entre pesquisadores americanos. A suspensão da verba pelo NIH ocorreu após políticos e parte da mídia dos Estados Unidos sugerirem, mesmo que sem provas, que o coronavírus havia surgido em um laboratório na cidade de Wuhan, “que empregaria uma virologista chinesa que recebe financiamento do instituto”. Donald Trump foi questionado e disse: “Terminaremos com a doação rapidamente”.

Com isso, 77 ganhadores do Nobel escreveram para o diretor do NIH, Francis Collins, e para o secretário de saúde e serviços humanos, Alex Azar, para que alguma medida fosse tomada e o apoio fosse mantido. Trinta e duas sociedades científicas também mandaram cartas pedindo transparência sobre os processos de decisão.

 

Foto: Arquivo/Brock Fenton/Nature Publishing Group/AFP

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