Janssen relata 87% de eficácia contra variante brasileira grave
Dados divulgados pelo laboratório belga Janssen, pertencente à multinacional americana Johnson & Johnson, apontam que sua vacina anti-Covid tem 87% de eficácia contra formas graves da variante brasileira do novo coronavírus.
Por ANSA
O imunizante, cobiçado no mundo todo por ser de dose única, foi aprovado para uso emergencial na União Europeia na última quinta-feira (11), com eficácia de 67% contra todos os casos sintomáticos.
“Constatou-se, de forma geral, uma alta eficácia de 81% contra formas graves da doença provocada pela variante sul-africana, enquanto a eficácia contra as formas graves de Covid da variante brasileira foi de 87%”, disse, em entrevista à ANSA, o chefe de doenças infecciosas e vacinas da Janssen, Johan van Hoof.
A empresa, no entanto, ainda não apresentou os estudos clínicos por trás desses números. No fim de janeiro, a Janssen havia divulgado uma eficácia global de 85% da vacina contra casos graves da Covid-19. Ou seja, o índice relativo à variante brasileira seria ainda maior do que aquele da cepa original.
Na época em que apresentou esses dados, a Janssen não citou o Brasil especificamente, porém divulgou três indicadores de eficácia contra casos sintomáticos: de 72% nos EUA, de 66% na América Latina e de 57% na África do Sul.
Além da UE, a vacina do laboratório belga já está aprovada para uso emergencial nos Estados Unidos. O imunizante usa um adenovírus de resfriados inativo para carregar as instruções genéticas para a produção da proteína spike, espécie de coroa de espinhos que o Sars-CoV-2 utiliza para atacar as células humanas.
As ampolas podem ser mantidas em temperaturas entre 2ºC e 8ºC por até três meses.
Foto: Matt Turner/iStock/Imagem Ilustrativa
Além da covid-19, perda de olfato pode ser sinal de outras doenças
Sintoma presente em quadros de coronavírus, a perda de olfato (anosmia) nunca ganhou tanto destaque como nos últimos meses.
Por Uol Viva Bem
Apesar de ser um sinal frequente de que a pessoa esteja infectada pela covid-19, a condição também pode ser sintoma de outras doenças, como rinite, sinusite, gripe, Alzheimer e Parkinson.
Mas a perda de olfato tende a ser diferente de uma doença para a outra. Se na rinite ou sinusite, o sintoma é progressivo e transitório, em casos de covid, a anosmia é súbita —você dorme e acorda sem sentir cheiro.
“Essa é uma característica marcante da covid-19, da mesma maneira que você perde, o cheiro também volta. A cada 100 pessoas que pegam covid, 80 perdem o olfato. Mas 50% das pessoas têm uma recuperação rápida e espontânea; 30% demoram até dois meses para recuperação e os outros 20% passam desse período até terem uma recuperação total ou parcial”, explica Marcio Nakanishi, médico doutor em otorrinolaringologia pela USP (Universidade de São Paulo).
É também importante procurar atendimento o quanto antes, principalmente se descartada a covid-19, caso a pessoa apresente anosmia, hiposimia (perda parcial) ou parosmia (distorção nos cheiros).
“É preciso ressaltar que a perda de olfato pode ser o primeiro sintoma de doenças neurodegenerativas, por exemplo. Como no Parkinson, uma pessoa que nunca teve problemas de movimento pode ter a perda de olfato como primeiro sinal”, explica Jamal Azzam, otorrinolaringologista pela USP e membro da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).
Os mecanismos da anosmia, de acordo com os especialistas, variam muito. Podem ocorrer de forma isolada ou em conjunto. São eles:
Condutivo: há um bloqueio (catarro, pólipo) que impede a chegada do odor na região olfatória, como na rinite, por exemplo;
Neurossensorial/neural: quando as células perdem suas funções decorrente da inflamação do sistema olfatório na cavidade nasal, como ocorre na covid-19;
Central: há uma lesão no sistema nervoso central, ou seja, dentro do cérebro, como tumores cerebrais, Alzheimer ou Parkinson.
Abaixo, confira as principais doenças que podem resultar na perda de olfato (total, parcial ou distorção) e o que, neste aspecto, diferencia uma da outra:
Covid-19
É uma doença respiratória causada pelo coronavírus. Os principais sintomas são tosse seca ou com catarro, dificuldades para respirar, fadiga, febre e perda total de olfato, que costuma ser súbita, ou também distorção dos cheiros. De mecanismos condutivo e neural, a recuperação do sentido depende muito do quadro, mas pode retornar aos poucos ou demorar meses.
Rinite
É uma inflamação que acomete a membrana na mucosa que reveste o nariz. As causas são multifatoriais, vão desde poeira doméstica, ácaros, até infecções por vírus. Os sintomas são espirros, coriza, nariz entupido, dor de cabeça e até perda parcial ou total de olfato, de forma progressiva e lenta. Ao realizar o tratamento correto, o olfato também tende a voltar na maioria dos casos.
Sinusite
Muito parecida com a rinite, a sinusite ocorre quando há uma inflamação, além do nariz, nos seios da face, envolvendo olhos, maçã do rosto e testa. É causada, geralmente, por alergias ou infecções. Os sintomas da doença envolvem tosse, dor de cabeça, secreção e obstrução nasal, que pode vir acompanhada de perda de olfato passageira, na maioria dos casos.
Rinossinusite
A rinossinusite crônica com pólipo nasal, um subtipo de sinusite relacionado a rinite, é caracterizada pela inflamação das vias aéreas superiores, nariz e seios paranasais. Os sintomas mais comuns são nariz entupido ou congestionado, dor facial e secreção nasal, além da redução ou perda de paladar e olfato, —muito pela presença do pólipo— que tem início insidioso, progride lentamente e a melhora está associada com uso de medicações que reduzam a obstrução do nariz e a inflamação na região do sistema olfatório.
Gripe (Influenza)
É uma doença causada pelo vírus Influeza que acomete as vias respiratórias. Os sintomas envolvem febre, mal-estar, prostração (fraqueza), secreção e obstrução nasal. A perda total ou parcial do olfato se dá por conta da presença de catarro no nariz e tende a voltar com o tempo.
Doenças neurodegenerativas
As doenças neurodegenerativas também podem apresentar como primeiro sintoma a alteração ou perda de olfato, que não tende a voltar. Isso ocorre principalmente com Alzheimer e Parkinson, que podem levar a alterações em diversos setores do cérebro, incluindo o olfato.
Outras situações
O traumatismo craniano também pode causar a perda olfativa, após um acidente, por exemplo, que não tem como recuperar o sentido, pois ocorre um rompimento do nervo.
Tumores no cérebro incluem sintomas de perda olfativa, assim como o uso de drogas (cocaína, crack) e o contato frequente com outras substâncias tóxicas (benzenos, solventes, acetona).
Tratamentos para alterações no olfato: quanto antes, melhor
Algumas doenças podem causar a perda de olfato de forma transitória ou permanente, como já explicado. Exceto traumatismo craniano e doenças neurodegenerativas, é possível fazer tratamentos para que o cheiro volte aos poucos —tanto de forma medicamentosa como com treinamentos, o chamado treinamento olfativo.
Quanto mais precoce o tratamento, mais rápido pode voltar o sentido. Por isso é tão importante procurar ajuda assim que o sintoma aparecer.
“É um tratamento que pode ser longo. É o mesmo quando uma pessoa sofre um AVC e faz fisioterapia depois. O nervo lesado não cresce de um dia para o outro. Ele precisa receber estímulos para crescer e regenerar”, afirma Nakanishi.
Lembrando que a falta do olfato pode causar diversas consequências na saúde da pessoa, comprometendo a qualidade de vida dela, como explica o otorrino da ABORL-CCF: “Traz problemas alimentares porque a pessoa não tem mais prazer em comer ou cozinhar. Existe também a diminuição da libido porque, em um relacionamento sexual, ocorre a liberação dos ferormônios, que chegam através do olfato. Aumenta ainda o risco da depressão e possíveis acidentes domésticos, na qual a pessoa pode esquecer da panela no fogo, ingerir comida estragada ou não sentir o cheiro de um vazamento de gás”.
O cheiro também tem uma ligação muito importante com a memória: é um perfume de alguém ou o cheiro da comida que lembra uma pessoa especial. “Não podemos minimizar a perda de olfato, ela pode gerar outros sintomas negativos na pessoa”, diz Azzam.
Foto: iStock
Tratamento de incontinência urinária cai 60% em 2020
Números divulgados pelo Ministério da Saúde indicam que os tratamentos cirúrgicos para a incontinência urinária caíram 60% em 2020, em relação ao ano anterior.
Por Agência Brasil
A constatação é de que a pandemia de covid-19 agravou o tratamento de várias doenças, entre elas a incontinência urinária, que costuma afetar 45% das mulheres e 15% dos homens acima de 40 anos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). O Dia Mundial de Conscientização sobre a Incontinência Urinária é comemorado no dia 14 de março, o próximo domingo.
O secretário-geral da SBU, Alfredo Canalini, explicou que a incontinência urinária, ou perda involuntária de urina, é um sintoma que tem impacto negativo enorme na qualidade de vida. Considerando que as cirurgias de incontinência urinária caíram 60% no ano passado, percebe-se que “mesmo com toda essa deterioração que provoca, os pacientes ficaram com medo de procurar tratamento e internação, em função da pandemia. Isso foi, realmente, um impacto muito negativo no tratamento dessa doença”, disse Canalini.
O urologista afirmou que a qualidade de vida desses pacientes piorou ainda mais, devido à covid-19, com algumas sequelas, principalmente para as mulheres, que usam absorventes especiais e ficam com a pele macerada em função do contato com a urina, especialmente as mais idosas.
Segundo o secretário-geral da SBU, a incontinência urinária pode ser provocada por doenças diferentes. Por isso recomendou a necessidade de se procurar saber o que está acontecendo para a pessoa perder urina e o que tem de ser feito para resolver o problema. Lembrou que além da cirurgia, existe tratamento medicamentoso que o médico pode lançar mão em algumas situações para melhorar o quadro. “Mas nem isso houve em 2020. Houve uma imobilização das pessoas por causa do medo de se contaminarem pelo novo coronavírus”.
Campanha
Visando a alertar a população sobre o diagnóstico e a importância do tratamento da incontinência urinária, a SBU realiza este ano uma campanha virtual de conscientização, que integra a campanha internacional sobre o mesmo tema. Durante o mês de março, a SBU vai esclarecer a população sobre a incontinência urinária, por meio das redes sociais da entidade (@portaldaurologia), e na Rádio SBU, podcasts disponível nos principais canais de áudio: Spotify, Deezer, Pocket Cast, Apple Podcasts e Google Podcasts. Todas as segundas-feiras, às 19h, médicos filiados à entidade vão tirar dúvidas da população sobre o tema em transmissões online ao vivo no Instagram, além de indicar ações preventivas e como buscar ajuda para amenizar ou solucionar o problema.
Alfredo Canalini assegurou que com as proteções necessárias, que envolvem uso de máscara facial, uso de álcool em gel após tocar em superfícies que são compartilhadas, como telas de computadores e terminais eletrônicos, distanciamento social, evitar aglomerações, lavar as mãos com frequência, os atendimentos podem ser realizados. “É lógico que é preciso ter cautela. Mas, respeitando as recomendações sanitárias, você pode atender com segurança os pacientes”. Canalini admitiu o temor de que o agravamento da pandemia na atualidade possa repercutir de modo negativo sobre os pacientes. “As pessoas estão com medo de sair às ruas”.
Reconheceu que “o medo é bom, por um lado, porque ajuda você a se proteger”, mas advertiu que as pessoas não podem nem devem entrar em paranóia. “As pessoas têm que ter consciência de que existe o risco, mas pode ser diminuído muito. É só seguir as orientações básicas das autoridades sanitárias. Isso protege. Isso pode salvar vidas e evitar que as pessoas possam se infectar. Diminui muito a questão”. Ele lamentou que haja pessoas que parecem estar vivendo em outra realidade, especialmente os jovens, que parecem não pensar na morte e, com isso, se arriscam e acabam ajudando na disseminação do vírus, mesmo que não apresentem sintomas.
Ansiedade
O diretor do Departamento de Disfunções Miccionais da SBU, Cristiano Gomes, observou que alguns estudos demonstram que pessoas com incontinência costumam ter, além de pior qualidade de vida, maiores níveis de ansiedade e depressão, redução na produtividade no trabalho e podem se afastar do convívio social e da intimidade com o parceiro ou parceira por causa das perdas de urina. “A incontinência também pode aumentar o risco de quedas entre os idosos. Finalmente, mas não menos importante, em alguns casos a incontinência pode ser causada por um problema de saúde mais grave, como infecções, pedra na bexiga, doenças neurológicas e até tumores da bexiga ou próstata”.
De acordo com a SBU, o tipo mais frequente é a incontinência urinária por esforço, isto é, quando o paciente perde urina ao tossir, carregar peso, espirrar ou até mesmo sentar-se e levantar-se. Isso acontece sobretudo em mulheres que tiveram muitos filhos ou é decorrente de cirurgia de próstata. A incontinência urinária de urgência ou bexiga hiperativa é quando existe uma vontade repentina e incontrolável de urinar durante o dia e no período da noite, podendo comprometer o sono. Embora muitos considerem a perda involuntária de urina como “algo natural” da idade, essa condição pode ser tratada, para não trazer impactos profundos na vida do paciente.
Em fevereiro deste ano, a SBU fez um levantamento online sobre a incontinência urinária. “De acordo com 44% dos participantes, a pandemia de covid-19 atrapalhou ou retardou o tratamento da incontinência. Dos entrevistados com incontinência, 77% disseram que ainda não retomaram seu tratamento”, disse o coordenador do trabalho, Ricardo Vita. Alguns fatores de risco para a doença são a idade, ter muitos filhos, diabetes, obesidade e doenças neurológicas.
Tratamentos
Os pacientes que enfrentam esse problema contam com apoio multidisciplinar para o tratamento, segundo a SBU. A mudança de alguns hábitos de vida pode também fazer diferença, como evitar excesso de líquidos, urinar periodicamente, tratar constipação e outros problemas clínicos como diabetes e obesidade. Além de medicamentos, que são utilizados sobretudo nos casos de bexiga hiperativa, a incontinência de esforço pode ser tratada com procedimentos cirúrgicos de baixo risco e rápida recuperação, como a cirurgia de sling, quando se coloca uma faixa sob a uretra.
Outros tratamentos incluem a aplicação de toxina botulínica, o implante de marcapasso da bexiga e o de esfíncter artificial. Alfredo Canalini lembrou que todos os pacientes podem ser tratados. “Importante que, além da indicação correta, haja motivação para seguir os passos do tratamento e também uma cognição favorável, ou seja um estado mental que possibilite à pessoa ter percepção sobre o que acontece consigo e ao redor. Dessa forma, os índices de cura e de controle do problema hoje em dia são muito elevados”, acrescentou.
Foto: iStock
Vacinas de mRNA reduzem casos assintomáticos de Covid-19, aponta estudo
Tecnologia dos imunizantes da Pfizer/BioNTech e da Moderna com RNA mensageiro demonstrou reduzir em 80% o risco de se infectar pela doença e não apresentar sintomas
Por Revista Galileu
As vacinas contra Covid-19 provocam uma resposta imunológica que, espera-se, evite internações e UTIs lotadas. Porém, isso não significa que a pessoa vacinada está totalmente imune a contrair e transmitir o vírus Sars-CoV-2, mesmo sem sintomas. Mas, segundo um estudo feito por pesquisadores norte-americanos, o risco é bem menor se o imunizante for do tipo que usa o RNA mensageiro (RNAm).
A pesquisa, publicada no jornal Clinical Infectious Diseases na última quarta-feira (10), revela que 10 dias após pacientes serem vacinados com duas doses de imunizantes de RNAm eles ficam, em média, 80% menos propensos a testarem positivo e serem assintomáticos do que se não tivessem sido imunizados.
O RNA mensageiro é uma molécula que leva instruções para a síntese de proteínas e cria anticorpos contra o vírus. Exemplos de vacinas que usam essa tecnologia são as das farmacêuricas Pfizer/BioNTech e Moderna, ambas sediadas nos Estados Unidos.
A alternativa é diferente do método usado, por exemplo, na vacina CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. Nesse caso, um vírus atenuado ou inativo é inserido no organismo a fim de estimular a resposta imune. Já as vacinas com RNA mensageiro “ensinam” as células a sintetizarem a proteína spike, a mesma utilizada pelo coronavírus para entrar nas células.
No estudo, os pesquisadores analisaram 39 mil pacientes, que foram testados entre 7 de dezembro de 2020 a 8 de fevereiro de 2021, em triagens realizadas antes de tratamentos não relacionados à Covid-19, como cirurgias.
Entre o total dos exames, 3 mil testes eram de pessoas que receberam ao menos uma dose de uma vacina de RNA mensageiro. Os dados vieram da instituição médica Mayo Clinic, no Arizona, e da Mayo Clinic Health System, em Minnesota.
Em comunicado, o autor principal da pesquisa, Aaron Tande, especialista em doenças infecciosas da Mayo Clinic, conta que pacientes sem sintomas que haviam recebido ao menos a primeira dose da vacina Pfizer/BioNTech apresentaram probabilidade 72% menor de testar positivo para o novo coronavírus. Já entre aqueles que haviam tomado duas doses, esse índice foi 73% menor.
Mas os pesquisadores tiveram que ajustar os resultados, incluindo também a vacina da Moderna e outras variáveis, chegando a um risco 80% menor de contrair a doença e ser assintomático.
“A vacinação de Covid-19 com uma vacina baseada em RNA mensageiro mostrou uma associação significativa com um risco reduzido de infecção assintomática por Sars-CoV-2”, concluem os autores, na pesquisa.
Foto: NIAID
Tratamento para hepatite C cai pela metade no país com a pandemia
Levantamento analisou dados públicos oficiais de estados e municípios brasileiros que indicaram uma queda de mais de 50% nos atendimentos terapêuticos contra a doença em 2020
Por Revista Galileu
Posicionado até 2019 entre os países que se comprometeram a alcançar melhores índices de controle da hepatite C, no último ano o Brasil retrocedeu nas metas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo redes de tratamento e diagnóstico da doença. Os indicadores de tratamento tiveram queda de mais de 50% em 2020, comparados aos índices do ano anterior, provavelmente em razão da crise sanitária de Covid-19.
Pesquisadoras da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP), em conjunto com cientistas da Fiocruz e da London School of Economics, na Inglaterra, chamam atenção para essa situação em nota técnica antecipada pela Bori na quinta-feira(11). A nota técnica compara dados sobre hepatite C disponibilizados pelos principais órgãos públicos de saúde municipais, estaduais e federais no período de 2007 a 2019 e pelo Painel Informativo sobre tratamento das hepatites B e C do Ministério da Saúde no ano de 2020.
A análise descritiva desses dados permitiu observar uma tendência de queda nos indicadores de tratamento para essa doença no Brasil, tida como a doença relacionada ao fígado que mais mata no mundo.
Com esses resultados, os pesquisadores querem alertar os atuais gestores municipais para a necessidade de ajustes nas políticas municipais de prevenção, diagnóstico e tratamento no controle do HCV (o vírus causador da hepatite C), evitando possíveis agravos nas tendências observadas.
Carolina Coutinho, uma das responsáveis pela nota, não deixa de destacar o importante avanço obtido com a publicação da portaria 1537/MS de 2020, que inclui os medicamentos para o tratamento do HCV como componente estratégico da assistência farmacêutica. “Essa medida tende a facilitar o acesso ao tratamento”, comenta a pesquisadora.
A emergência de saúde pública vivida pela Covid-19, na visão dos pesquisadores, é também um momento para se atentar às estratégias de prevenção e controle de outras enfermidades e fatores que adoeçam a população. “O fortalecimento do SUS e da atenção básica para a saúde dos brasileiros é essencial”, diz Coutinho.
O Brasil é reconhecido mundialmente pelo pioneirismo e sucesso no enfrentamento à epidemia de HIV/AIDS e tem expertise para repetir o feito no controle de outras doenças transmissíveis. Era o que vinha acontecendo com o HCV, cujo controle “precisa de continuidade e investimento”, alerta Coutinho. No caso da hepatite C, o país vinha seguindo de forma eficiente as metas da OMS estabelecidas em 2016 como parte de um plano de eliminação das hepatites virais, comprometendo-se a alcançar melhores índices de controle da doença com redes de tratamento e diagnóstico.
A nota técnica está vinculada ao projeto Brazil’s Fight Against Hepatitis C e recebe financiamento do British Council em parceria com o Newton Fund. O projeto estuda a resposta brasileira às hepatites em diferentes aspectos e, além da divulgação de artigos científicos inéditos, prevê a publicação de notas técnicas adicionais e a realização de workshops com gestores e pesquisadores para a discussão dos achados e para a criação de recomendações de políticas públicas.
Foto: Christina Victoria Craft/Unsplash
'Preço muito alto': A exaustão de profissionais de saúde após um ano de pandemia
Insônia, problemas alimentares, saudade da família e medo da contaminação são alguns dos efeitos da tragédia na saúde mental de médicos e enfermeiros
Por CNN Brasil
O médico Luís Felipe Smidt é cardiologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Ele é hoje um dos responsáveis pelas internações clínicas de pacientes de Covid-19 e, nos primeiros meses da pandemia, foi plantonista no atendimento emergencial. Chega bem cedinho ao hospital para revisar a condição dos internados e trabalha duro noite adentro. Todos os dias.
Um ano depois do início oficial da pandemia, profissionais de saúde exaustos estão sendo convocados ao sobre-humano, numa rotina similar a de Smidt. Em vez de esperança, são confrontados com o agravamento da tragédia. Com o colapso iminente na saúde.
O Rio Grande do Sul tem mais de 98% de taxa de ocupação de leitos de UTI, o que levou o Supremo Tribunal Federal a determinar que o governo federal reative leitos no Estado. Alguns hospitais aboliram o revezamento de plantões entre os médicos — o local onde Smidt trabalha é um exemplo dessa situação. “A grande maioria da equipe abdicou de férias para contarmos com força total”, diz Smidt.
Foi instalado um container refrigerado nas dependências do hospital para acomodar corpos de pacientes vitimados pela Covid-19, caso necessário. O necrotério da instituição tem estrutura para, no máximo, três corpos por vez.
Testemunhar essa evolução da pandemia, com a sobrecarga de trabalho, o medo da contaminação e o distanciamento da família tem uma consequência nefasta na saúde mental desses médicos e enfermeiros. Um estudo da Universidade Federal da Paraíba entrevistou 710 profissionais de saúde de 21 estados brasileiros e do Distrito Federal sobre sono, dieta e outros hábitos.
Dois terços dos entrevistados tinham queixas relacionadas ao sono. Metade deles parou de praticar exercícios físicos e 78,5% reportaram alguma mudança alimentar, com pouco mais de 30% afirmando comer compulsivamente. Quase 30% aumentaram o consumo de bebidas alcóolicas.
Outra pesquisa, feita pela Associação Médica Brasileira (AMB) e publicada em fevereiro, mostrou que 92% dos profissionais viam colegas com algum sintoma de problema psíquico. A maior incidência foi de ansiedade (64%) e estresse (62%), mas sobrecarga, exaustão, mudanças bruscas de humor e dificuldade de concentração também foram relatados.
Exaustão é a palavra a que Smidt recorre para descrever sua condição doze meses depois do início da pandemia. Ele está pessimista. “Nosso combinado é de pensar sempre só nas próximas 24 horas. Em fases críticas como essa, para sermos otimistas, o comportamento das pessoas precisa mudar, e precisa ser a curto prazo. Não vejo isso acontecendo”.
O medo é real
A mesma intensa rotina de Smidt é seguida pelo médico Fabiano Nagel, chefe da Unidade de Gestão de Pacientes Críticos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Não raro são 12 horas seguidas de trabalho, sem tempo para comer ou beber água por longos períodos.
“Estamos física e emocionalmente esgotados. E ainda temos muitos afastamentos de profissionais que estão adoecendo por estresse, pelo excesso de trabalho ou por contágio da Covid-19”, explica Nagel, que é também coordenador do grupo de combate à Covid-19 do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul.
Os dois médicos contam que a média de sono deles é de, aproximadamente, 5 horas por dia. “Com frequência, acordo no meio da noite e, pelo menos de três a quatro vezes na semana, trabalho o dia todo. Eu e uma quantidade enorme de profissionais fazemos isso para dar conta da demanda”, acrescenta Nagel.
Por baixo do jaleco, há carne, osso, angústia e medo. Smidt aponta a dupla natureza do receio de se contaminar: “Assim como todo mundo, tenho medo de ter a doença ou que alguém da minha família pegue, mas também [tenho medo] de não poder ajudar meus pacientes nem prover para minha família.” Nagel vai além: “Eu já tive de entubar colega de profissão. Vários acabaram não sobrevivendo. O medo de adoecer é uma constante.”
Até 1º de março, o Ministério da Saúde havia registrado ao menos 484.081 casos e 470 mortes por Covid-19 entre profissionais de saúde. Os dados, no entanto, são menores que os contabilizados pelos conselhos de classe. Um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta 551 médicos mortos pelo vírus, enquanto o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) relatou 646 enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem vitimados pela doença.
Esse total é significativo quando se leva em conta o cenário global. Uma análise feita pela Anistia Internacional mostrou que ao menos 17 mil profissionais de saúde morreram por Covid-19 em 2020 — um número que a organização considera subestimado, uma vez que há governos que não fornecem números oficiais ou informam apenas parcialmente.
Rede de apoio
Para ajudar os profissionais da linha de frente que estão lidando com todas essas angústias e com a estafa, o Cofen disponibilizou uma plataforma de apoio à saúde mental via chat no site do órgão. Quem coordena esse programa é a enfermeira Dorisdaia Humerez, que comanda a comissão nacional de Saúde Mental do Conselho.
Ela conta que já trabalhava atendendo profissionais de enfermagem, mas que a pandemia gerou outro tipo de sofrimento. “Antes, grande parte das queixas de antes eram relacionadas ao processo de trabalho, à carga horária, ao salário…”, disse.
Há um ano, as queixas passaram a se concentrar no medo do contágio. “Muitos profissionais se afastaram, foram morar em outro lugar, achando que seria por pouco tempo. Ficaram meses sem encontrar filhos, pais”. Smidt deixou de visitar os avós. Nagel não vê a mãe há quase um ano.
Humerez conta que, depois de uma melhora na condição geral, o Cofen estava pronto para fechar a plataforma. Mas os atendimentos voltaram a se intensificar. Os profissionais estão com um sofrimento grande pela perda constante de pacientes. Ela ouve frases como “a gente está aqui quase que para abanar o paciente, porque não tem muito o que fazer”. “É um sentimento de que isso não vai acabar, que está piorando cada vez mais”, diz a enfermeira.
“Uma ligação ou uma videochamada antes da intubação é constantemente a última vez que o paciente fala com seus familiares, e nós levamos essas imagens dos pacientes para nossas casas”, diz Nagel sobre esse ambiente de sofrimento e despedidas. “Nossa cabeça nunca para. Não é como a vida era antes. Estamos pagando um preço muito alto.”
*Colaboração para a CNN
Foto: Silvio Avila/Hospital de Clínicas