Vacinação: Saúde pode usar app para cadastro de pessoas com comorbidades no DF
Comitê da Secretaria de Saúde deve se reunir hoje para definir detalhes sobre o atendimento a pessoas com doenças crônicas. No encontro, Ministério Público apresentará propostas para identificação desse grupo, mas não há data para início da imunização
Por Correio Braziliense
O Distrito Federal tem cerca de 150,1 mil pessoas com doenças crônicas consideradas comorbidades — condições de saúde que podem agravar um possível caso de infecção pela covid-19. O grupo se encontra entre as prioridades do plano distrital de imunização contra a doença. Embora os dados sejam de 2013, eles servem como parâmetro para as previsões da Secretaria de Saúde (SES-DF). Nesta quarta-feira (7/4), o Comitê de Operacionalização da Vacinação do DF deve se reunir para traçar estratégias de atendimento a esse público, sem data para começar. Enquanto isso, a aplicação em idosos com 66 anos segue paralisada. A pasta espera receber, na quinta-feira (8/4), mais 10 mil doses do Governo Federal.
O comitê pretende analisar três formas de identificar esse público-alvo: o cadastro de pacientes com comorbidades nas unidades básicas de saúde (UBS); a criação de uma plataforma na qual o grupo anexará laudo médico que atesta o tipo de doença crônica em questão; por fim, com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), a SES-DF exclui pessoas já vacinadas — pela faixa etária ou pela profissão —, chegando a uma lista final das pessoas que farão parte do novo grupo. As opções foram apresentadas na terça-feira (6/4), durante reunião da secretaria com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Apesar do plano inicial, os responsáveis pelo comitê devem avaliar outras estratégias.
Henrique Pereira, 52 anos, tem diabetes e deficiência renal. O analista de redes afirma que está em casa desde o início da pandemia e ansioso para se vacinar. “Até as compras de mercado faço por delivery, pois não quero me expor. Inclusive, tenho receio de ir ao hospital fazer meus exames de rotina”, relata. Para ele, a sensação de estar mais perto da vacina, ainda que sem data definida, aumenta as expectativas. “Sabemos que ela está ali, mas ainda não temos acesso. Não chega nossa vez nunca”, cobra o morador do Jardim Botânico.
Representantes da SES-DF informam que a vacinação desse grupo provavelmente ocorrerá sem necessidade de marcação. O aposentado Fábio Oliveira, 63, tem diabetes e pressão alta. Ele conta que segue à espera de uma vacina eficaz, para viver com tranquilidade. Contudo, o morador do Lago Norte critica o andamento da campanha de imunização no Distrito Federal. Para ele, o atendimento de pessoas com doenças crônicas deveria estar entre as prioridades iniciais. “Se a pessoa tem comorbidade, precisa ter preferência, porque pode parar na UTI (unidade de terapia intensiva) muito mais facilmente”, considera.
Os gestores da secretaria reforçaram que as comorbidades consideradas serão as previstas no Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. São elas: diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, com anemia falciforme, câncer, HIV, síndrome de down e obesidade grave.
Trocas
A SES-DF alterou o comando do Comitê de Operacionalização da Vacinação contra covid-19, nesta semana. Portaria publicada em edição extra do Diário Oficial (DODF) de segunda-feira (5/4) reduziu a estrutura do grupo. O cargo ocupado pelo secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Petrus Sanchez, passa a ser do subsecretário de Vigilância em Saúde, Divino Valero. Agora, apenas um integrante de cada uma das quatro subsecretarias da pasta passa a fazer parte da equipe. As decisões foram votadas na quinta-feira (1º/4).
Mais de 313 mil imunizados
O Distrito Federal soma 313 mil vacinados contra a covid-19. Dados do mais recente boletim sobre a vacinação no DF, divulgado pela Secretaria de Saúde (SES-DF), mostram que 3.029 pessoas receberam a primeira dose, e 2.934 a segunda, na terça-feira (6/4). No total, houve uma aplicação em 313.763 pessoas, enquanto 87.214 contaram com o reforço.
Profissional de saúde e executivo de negócios Fábio Melo, 34 anos, é um dos que podem respirar mais aliviados. Na segunda-feira (5/4), ele recebeu a segunda dose da vacina, na Unidade Básica de Saúde (UBS) nº 4 do Guará. A aplicação da primeira ocorreu em Manaus, à época em que os hospitais amazonenses estavam superlotados. “Fui ajudar as equipes oncológicas no período em que as áreas de saúde estavam sendo vacinadas, independentemente do segmento. Por isso, consegui”, conta.
Na segunda-feira (5/4), teve início a imunização dos profissionais de segurança pública. Há cerca de 2 mil doses destinadas a esse público, segundo a SES-DF. Até o momento, o Distrito Federal recebeu 564.440 unidades de vacinas do Ministério da Saúde, sendo 474.190 (84%) da CoronaVac, e 90.250 (16%) da Covishield, da Oxford/AstraZeneca.
O agente de trânsito Francisco Lemos da Cruz, 57, conseguiu receber a primeira dose em 10 minutos, na UBS nº 4. Morador de Planaltina, ele conta que o período de espera para ser vacinado foi preocupante, principalmente porque continuou no trabalho presencial. “Nós (agentes de trânsito) estamos correndo risco. No mês passado, oito colegas nossos contraíram a covid-19. Um deles teve quadro grave. Vez ou outra, aparece um (agente infectado), e a gente vai se protegendo como pode e deve”, comenta. “(Após a vacinação,) a preocupação diminui um pouco. Mas vamos manter os cuidados com a segurança, para não se infectar e transmitir o vírus para alguém. A população deve se proteger o máximo que puder, acreditar na ciência e seguir os protocolos de segurança”, completa.
Foto: Divulgação/MPDFT
Internacional Covid-19: um terço dos sobreviventes tem distúrbios, mostra estudo
Problemas neurológicos ou mentais foram observados por pesquisadores
Por Agência Brasil
Estudo com mais de 230 mil pacientes, a maioria deles norte-americanos, mostrou que um, em cada três sobreviventes da covid-19, foi diagnosticado com distúrbio cerebral ou psiquiátrico dentro de seis meses, indicando que a pandemia pode levar a uma onda de problemas mentais e neurológicos, afirmaram cientistas nessa terça-feira (6).
Os pesquisadores que conduziram a análise disseram que não está claro como o vírus está ligado a condições psiquiátricas como a ansiedade e a depressão, mas que esses são os diagnósticos mais comuns entre os 14 distúrbios que foram considerados.
Casos de derrame, demência e outros distúrbios neurológicos após a covid-19 são mais raros, segundo os pesquisadores, mas ainda assim são significativos, especialmente em pacientes que tiveram quadros graves da doença.
“Nossos resultados indicam que doenças cerebrais e distúrbios psiquiátricos são mais comuns após a covid-19 do que após a gripe ou outras infecções respiratórias”, disse Max Taquet, psiquiatra da Universidade britânica de Oxford, um dos coautores do trabalho.
O estudo não pôde determinar os mecanismos biológicos ou psicológicos envolvidos, afirmou Taquet, mas pesquisas urgentes são necessárias para identificá-los “com uma visão para prevenir e tratá-los”.
Especialistas de saúde estão cada vez mais preocupados com evidências de riscos mais altos de distúrbios neurológicos e mentais entre sobreviventes da covid-19. Um estudo anterior, feito pelos mesmos pesquisadores, concluiu no ano passado que 20% dos sobreviventes da covid-19 foram diagnosticados com algum problema psiquiátrico dentro de um período de três meses.
O novo estudo, publicado na revista Lancet Psychiatry, analisou registros de saúde de 236.379 pacientes, a maioria nos Estados Unidos, e concluiu que 34% deles foram diagnosticados com doenças psiquiátricas ou neurológicas em seis meses.
Os distúrbios são significativamente mais comuns em pacientes da covid-19 do que em grupos de comparação com pessoas que se recuperaram da gripe ou de outras infecções respiratórias no mesmo período de tempo, disseram os cientistas, sugerindo que a covid-19 tenha impacto específico.
A ansiedade, com 17%, e distúrbios de humor, com 14%, são os mais comuns, e não parecem estar relacionados ao fato de a infecção ter sido leve ou grave no paciente.
Entre os que foram internados em unidades de tratamento intensivo com quadro grave de covid-19, no entanto, 7% apresentaram derrame dentro de seis meses, e cerca de 2% foram diagnosticados com demência.
“Embora os riscos individuais para a maioria dos distúrbios tenha sido pequeno, o efeito por toda a população pode ser substancial”, disse Paul Harrison, professor de psiquiatria de Oxford que também participou do estudo.
Foto: Reuters/Toby Melville/Direitos Reservados