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Primeira fase de ensaio clínico de vacina universal da gripe começa nos EUA

Batizada de FluMos-v1, fórmula experimental já se mostrou capaz de induzir resposta robusta de anticorpos contra múltiplas cepas do vírus influenza em animais

Por Revista Galileu

Após apresentar resultados promissores em testes com animais, uma vacina universal contra o vírus influenza – o causador da gripe – começou a ser testada em humanos nos Estados Unidos. A fórmula experimental foi desenvolvida por cientistas do órgão especializado em alergia e doenças infecciosas dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês), organização de pesquisa vinculada ao governo norte-americano. O imunizante deve atender um objetivo mirado por centenas de estudos mundo afora: fornecer proteção duradoura contra múltiplas cepas do vírus influenza, na tentativa de, um dia, eliminar a necessidade de atualizações anuais em vacinas contra o patógeno.

A alta capacidade do vírus influenza de alterar a configuração externa de suas proteínas – e, com isso, escapar das defesas do nosso sistema imunológico – é o principal desafio na busca por uma vacina universal contra a gripe. No geral, os imunizantes disponíveis no mercado são projetados para induzir anticorpos contra as mutações de uma dessas proteínas, a hemaglutinina (HA), a partir de quatro cepas do vírus: duas de influenza tipo A (subtipos H1 e H3), e duas de influenza tipo B. A proteína HA é usada pelo vírus para se ligar às nossas células e se multiplicar em seu interior.

A fórmula experimental do NIH também segue o mesmo raciocínio. Seu diferencial, contudo, é outro: ao contrário dos imunizantes convencionais, a substância carrega várias cópias de cada um dos quatro tipos de mutações de HA em questão. Em testes com camundongos, furões e macacos, esses “padrões repetidos” de nanopartículas – uma estrutura chamada pelos pesquisadores de “mosaico” – foram capazes de enviar um forte sinal ao sistema de defesa dos animais e gerar uma resposta robusta de anticorpos.

E não só: de acordo com os ensaios pré-clínicos, ainda, é possível que a FluMos-v1, como a vacina foi batizada, também seja eficaz contra cepas que não foram incluídas em sua fórmula. Isso porque, nos ensaios com animais, ela “superou amplamente” um imunizante convencional contra a gripe em sua capacidade de induzir anticorpos contra dois subtipos de influenza tipo A (H5 e H7).

Esses resultados, segundo os pesquisadores, sugerem que a fórmula experimental é uma forte candidata a se tornar uma vacina universal contra a gripe, cujo objetivo não consiste apenas em gerar anticorpos de longa duração contra múltiplas cepas do vírus influenza, mas também contra variantes emergentes – incluindo aquelas não incluídas na fórmula da vacina.

Isso, a longo prazo, dispensaria a elaboração e administração anual de novos imunizantes contra a gripe. Atualmente, essas vacinas precisam ser reformuladas de acordo com as cepas previstas para dominar a temporada de influenza seguinte. Não sem motivo: caso contrário, os anticorpos induzidos podem fornecer proteção abaixo do ideal. “Os encargos econômicos e de saúde relacionados à gripe são substanciais, e o mundo precisa urgentemente de melhores vacinas contra a gripe”, avalia, em nota, Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID).

Agora, com o ensaio clínico de fase 1 da FluMos-v1, os pesquisadores pretendem inscrever até 35 voluntários saudáveis com idade entre 18 e 50 anos, dos quais 15 deverão receber um imunizante contra a gripe já usado e licenciado nos EUA, que servirá como placebo. Os outros cinco, por sua vez, irão receber uma injeção intramuscular de 20 microgramas (mcg) da fórmula experimental. Se a dosagem se mostrar segura, então, outros 15 voluntários receberão uma dose de 60 mcg da substância.

Ao longo de uma semana após a vacinação, os participantes deverão aferir sua temperatura diariamente e relatar quaisquer sinais ou sintomas, como vermelhidão, dor ou inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, dores musculares ou nas articulações. Por 40 semanas – a duração média de uma temporada de gripe –, o grupo também fará visitas periódicas ao centro de pesquisa do NIH para a coleta de amostras de sangue e mucosa oral, material que fornecerá os primeiros resultados sobre a segurança e a eficácia da FluMos-v1 em humanos.

Foto: Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas do NIH

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