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Úlcera gástrica tem remédio e adiar tratá-la pode levar a complicações

Quando você se alimenta, o seu estômago se contrai de forma ritmada.

Por Uol Viva Bem

Ele funciona como um triturador de alimentos movido pelo ácido gástrico e a pepsina. Como o corpo humano é sábio, as paredes estomacais e o duodeno possuem uma proteção natural —o muco— que as mantêm intactas.

Qualquer alteração nesse revestimento abre espaço para lesões. A úlcera péptica é uma delas: se ela aparece no estômago, é chamada de úlcera gástrica.

Essa enfermidade, caracterizada por uma ferida circular ou oval na mucosa do estômago [ou do duodeno] é sempre benigna, acomete indivíduos de todas as idades, inclusive crianças.

Com o avançar da idade ou o uso crônico de determinados medicamentos, ela se torna mais frequente. Estima-se que 5% a 10% das pessoas que procuram ajuda médica apresentem o problema, mas podem ser mais, já que parte deles não apresenta sintomas.

Os especialistas garantem que, independentemente da causa, o tratamento precoce da úlcera péptica garante resultados positivos, e ainda evita complicações. A estratégia terapêutica inclui o uso de medicamentos, além de orientações como deixar de fumar, reduzir o consumo de alimentos irritantes e o uso de determinados medicamentos capazes de desencadear ou piorar o quadro.

O que é úlcera?
Quando ocorre uma lesão na parede do aparelho gastrointestinal, e ela é consequente a uma corrosão causada pelo ácido gástrico e a pepsina —uma enzima que promove a digestão de proteínas— dizemos que se trata de úlcera péptica.

Na maioria das vezes, a úlcera péptica se manifesta no revestimento do estômago ou no duodeno (parte superior do intestino). Assim, ela passa a ser nominada por sua localização: quando ela ocorre no duodeno, é chamada de duodenal; se é no estômago, é denominada úlcera gástrica.

Por que isso acontece?
As principais causas das úlceras pépticas são infecções pela bactéria Helicobacter pylori (HP) —que representam mais de 80% dos casos de úlcera duodenal e, pelo menos, metade das úlceras gástricas— além do uso continuado de AINE (anti-inflamatório não esteroidal) —como aspirina e ibuprofeno.

Minha alimentação pode estar relacionada?
Um dos mitos sobre úlceras gástricas [e duodenais] é a dieta. No passado, pensava-se que alimentos condimentados poderiam ser a causa do problema. Hoje, sabe-se que alguns itens podem irritar a úlcera, mas não provocá-la. Por isso, não existe uma dieta específica para quem tem o problema. Os dados são do Colégio Americano de Gastroenterologia.

Os especialistas sugerem que você fique atento a alimentos ácidos ou que contenham cafeína que, para você, são mais ou menos irritantes e devem ser evitados. São exemplos o limão, abacaxi, vinagre, café, chá mate, chocolate, chimarrão ou tererê e frituras, além de bebidas alcoólicas.

Quem precisa ficar atento?
As úlceras [gástrica ou duodenal] podem acometer pessoas de todas as idades, inclusive crianças. Contudo, a gástrica é bem mais comum entre idosos e indivíduos que fazem uso crônico de AINE.

A literatura sobre a doença revela ainda que indivíduos que fumam têm o dobro de risco de desenvolver a doença, quando comparados aos não fumantes. Os dados foram publicados no jornal médico Acta Bio Medica Atenei Parmensis.

Saiba como reconhecer os sintomas
Essa doença tem como característica a capacidade de aparecer, melhorar e, depois, reaparecer. Além disso, os sintomas podem ser variados, a depender da idade e da localização, e muitos pacientes não apresentarão sintoma algum.

Contudo, a manifestação típica da úlcera gástrica é a dor epigástrica (na boca do estômago, que parece uma dor de fome), descrita como queimação ou pontada, e que piora após a ingestão de alimentos, até mesmo um copo de água.

Podem também ser observadas as seguintes condições:

Náusea
Indigestão
Azia
Perda do apetite
Perda de peso
Vômito
Gases
Eructação frequente (arroto)
Quando é a hora de procurar um médico?
Todo sintoma que se repete, mesmo após um período de melhora, deve ser investigado por um médico. Entretanto, no caso da úlcera gástrica, é possível que a dor não esteja presente, principalmente entre os idosos. A explicação é de Luiz Ernesto de Almeida Troncon, professor do Departamento de Clínica Médica – Gastroenterologia, da FMRP-USP.

O especialista acrescenta que, nesses casos, é preciso ficar atento aos sintomas de dispepsia, como desconforto estomacal, inchaço, gases etc. “Apesar disso, por vezes, a primeira manifestação é um sinal de alerta para complicações, como sangramentos. Aí serão notadas mudanças na cor das fezes ou fraqueza e palidez —indícios de que a perda de sangue é pequena, mas tem se mantido ao longo do tempo. Quando isso acontece, a busca por ajuda médica deve ser imediata”.

O médico treinado para avaliar e tratar esses quadros é o gastroenterologista.

Como é feito o diagnóstico?
Na hora da consulta, o profissional da saúde vai ouvir sua queixa, levantar seu histórico de saúde e fazer o exame físico. Além disso, ele deve solicitar um exame específico chamado endoscopia digestiva alta, especialmente se você tem mais de 55 anos.

A técnica permite visualizar a úlcera, define a parte do estômago (ou do duodeno) onde ela está localizada, e ainda viabiliza a realização de biópsia —útil para descartar a presença de câncer (causa pouco frequente, mas possível).

A prática ainda possibilita identificar a bactéria HP, por meio da realização de um teste rápido de urease, que revela a infecção por ela.

Entenda como é feito o tratamento
O objetivo dele é cessar a dor e o desconforto por meio de terapia medicamentosa específica, a depender da causa da úlcera.

Quando a origem é a HP, o tratamento se dá por meio do uso de antibióticos específicos, além de inibidores da bomba de prótons —que inibem a produção de ácido estomacal.

Nos quadros cuja origem do problema é o uso de AINE —o que representa 9% a 13% desses usuários— é preciso cessar o consumo. Quando o uso é crônico, e decorre da terapia contra doenças cardiovasculares, são indicadas medicações que protejam a mucosa estomacal, como o omeprazol, ou a redução das doses, quando isso é possível.

A cirurgia é sempre exceção, e geralmente é indicada no tratamento das complicações.

Possíveis complicações
Severino Barbosa dos Santos, clínico geral, gastroenterologista e professor de gastroenterologia do curso de medicina da UPE, esclarece que, quando devidamente tratadas, as úlceras saram e esta é a razão pela qual o tratamento precoce é desejável.

“No entanto, para 3 em cada 10 pessoas, a úlcera pode evoluir para complicações, e estas são consideradas emergências médicas, requererem intervenção cirúrgica, e ainda colocam em risco a vida do paciente”, acrescenta.

Veja quais são essas complicações, por ordem de maior ocorrência:

Hemorragia – ela ocorre em 20% dos pacientes que não tratam a úlcera e se manifesta por meio de vômito de sangue vivo (hematêmese), fezes escuras cor de carvão (melena) e até desmaios;
Perfuração da úlcera no estômago – a úlcera ultrapassa a parede estomacal, formando uma abertura que permite a passagem do ácido gástrico e dos alimentos para a cavidade abdominal. A dor é intensa, pode haver febre;
Obstrução do canal pilórico – essa complicação é mais tardia, pode decorrer da cicatrização de uma úlcera, o que leva à redução do piloro –orifício que faz a comunicação entre o estômago e o duodeno, dificultando o esvaziamento gástrico. Vômito constante, regurgitação de volumes maiores de alimentos, gases e empachamento após as refeições são sintomas comuns nesses quadros.
Existe algum tratamento natural?
Não. Contudo, você pode colaborar com o tratamento adotando hábitos de vida saudáveis como a prática de exercícios regulares, dieta equilibrada (e não irritativa) que inclua chás calmantes livres de cafeína, além do aprendizado de técnicas de relaxamento para aliviar o estresse.

O gastrocirurgião Rafael Krieger Martins, professor do Escola de Medicina da UFPR-Toledo, garante que todas essas práticas, somadas, podem potencializar os efeitos do tratamento medicamentoso.

Dá para prevenir?
A prevenção se dá evitando as causas mais comuns do problema, que são a infecção pela bacatéria HP e o uso continuado de AINE. Como o contato com a bactéria, em geral, se dá na infância, a orientação dos médicos é que você adote hábitos de higiene gerais, como lavar as mãos após usar o banheiro ou antes das refeições, lavar e cozinhar corretamente os alimentos e ingerir água tratada, especialmente se há crianças em sua família.

Quanto ao AINE, caso ele seja essencial para controle ou prevenção de alguma doença crônica, tanto a sua dose, como o medicamento de proteção estomacal, devem ser reavaliados. Além disso, evite automedicar-se com esse tipo de fármaco sem orientação médica.

Fontes: Luiz Ernesto de Almeida Troncon, professor titular do Departamento de Clínica Médica – Gastroenterologia, da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Severino Barbosa dos Santos, clínico geral, gastroentorologista, doutor em gastroenterologia pela Asahikawa Medical University (Japão), professor de gastroenterologia do curso de Medicina da UPE (Universidade de Pernambuco) e preceptor da Residência Médica em Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco); Rafael Krieger Martins, gastrocirurgião, endoscopista e professor da Escola de Medicina da UFPR-Toledo (Universidade Federal do Paraná). Revisão técnica: Luiz Ernesto de Almeida Troncon.

Referências: FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia); ACG (American College of Gastroenterology); Woolf A, Rose R. Gastric Ulcer. [Atualizado em 2020 Jul 13]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK537128/.

Foto: iStock

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