25% dos jovens no mundo têm sintomas de depressão e 20% de ansiedade

Estudo revisou pesquisas com mais de 80 mil crianças e adolescentes e constatou impacto pela falta de rotina, redução de apoio social e ausência de previsibilidade na pandemia

Por Revista Galileu

Um em cada quatro jovens no planeta está enfrentando sintomas agudos de depressão, enquanto um em cinco tem sintomas fortes de ansiedade. As estimativas sugerem que esses problemas dobraram em crianças e adolescentes, na comparação com o período anterior à pandemia de Covid-19. Essas são as conclusões de um artigo da Universidade de Calgary, no Canadá, publicado no periódico JAMA Pediatrics nesta segunda-feira (9).

Mais do que ressaltar a crise global de saúde mental em decorrência da crise sanitária, o estudo alerta para o agravamento desses sintomas ao longo do tempo. “É desarticulador para as crianças, porque elas não conseguem prever como o ambiente será”, comenta, em nota, a psicóloga Sheri Madigan. “E nós sabemos que, quando há ausência de previsibilidade e controle no mundo, a mente delas sofre”, complementa.

A investigação foi feita com base em dados coletados por 29 estudos diferentes, que contemplaram, no total, 80.879 jovens da Ásia Oriental, Europa, América do Norte, América Central, América do Sul e Oriente Médio. A partir da análise dessas informações, os pesquisadores notaram que as taxas de depressão e ansiedade variaram de acordo com as restrições impostas.

“Estar socialmente isolado, longe dos amigos, das rotinas escolares e das interações sociais tem se mostrado bem difícil para as crianças”, diz Madigan. E, como a pandemia está se estendendo por mais de um ano, muitos jovens estão perdendo marcos importantes da vida.

A perda foi mais impactante no caso dos adolescentes, que estão em uma fase na qual eles começam a se diferenciar dos membros da família e, por isso, os colegas de classe se tornam uma fonte importante de apoio social. Esse suporte, porém, foi bastante reduzido na pandemia e, em algumas situações, completamente ausente.

Além disso, adolescentes mais velhos não participaram de grandes eventos tradicionais, como formaturas e competições esportivas. “Eles não imaginaram que, quando se formassem, não poderiam se despedir da escola, dos professores e dos amigos. Agora, estão tendo que seguir em frente para algo novo sem desfecho algum”, avalia a psicóloga Nicole Racine. “Há um processo de luto associado a isso.”

O mundo depois da pandemia

Apesar de as populações estarem sendo gradualmente vacinadas, o futuro ainda é incerto. Não é possível dizer se os jovens irão se recuperar de forma rápida ou se os impactos na saúde mental irão se prolongar. Racine acredita que, para muitas crianças, alguns dos sintomas serão resolvidos com a reabertura e a perspectiva de uma vida normal.

No entanto, esse não será o caso de todos os jovens. “Para um grupo, a pandemia pode ter sido um catalisador, colocando essas pessoas em uma trajetória que pode ser desafiadora”, observa Nicole. “E existe outro grupo de crianças que já tinha dificuldades com a saúde mental antes da pandemia. Elas realmente podem enfrentar um sofrimento de longo prazo”, acrescenta.

O estudo recomenda que mais redes de apoio sejam disponibilizadas para crianças e adolescentes. “Se quisermos mitigar os efeitos da Covid-19 na saúde mental por causa dos estressores crônicos aos quais a juventude esteve exposta, precisamos priorizar o planejamento de recuperação agora — não quando a pandemia tiver acabado, mas imediatamente. As crianças estão em crise neste momento”, conclui Madigan.

Foto: Omar Ram/Unsplash

Marburg: conheça o vírus detectado pela primeira vez na África Ocidental

Da mesma família do ebola, agente altamente infeccioso causa febre hemorrágica e elevadas taxas de mortalidade; caso foi identificado em homem que morreu na cidade de Gueckedou, na Guiné

Por Revista Galielu

Autoridades de saúde da República da Guiné confirmaram nesta segunda-feira (9) que a morte de um homem da cidade de Gueckedou ocorreu devido à doença de Marburg, causada por um vírus da mesma família do Ebola (Filoviridae).

O registro marca o primeiro caso da enfermidade no país e na África Ocidental, embora surtos anteriores e episódios esporádicos da doença já foram relatados em Angola, República Democrática do Congo, Quênia, África do Sul e Uganda.

O que caracteriza a doença de Marburg?

O vírus causador da doença é altamente infeccioso e apresenta elevada taxa de mortalidade, que variou de 24% a 88% em surtos anteriores, dependendo da evolução do caso e da cepa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ele provoca febre hemorrágica e foi detectado apenas dois meses depois que a Guiné declarou o fim de um surto de ebola, cujo início havia sido no começo de 2021.

O vírus de Marburg é transmitido às pessoas por morcegos frugívoros e se espalha entre os humanos por meio do contato da pele e mucosa com fluídos corpóreos, como sangue, saliva, vômito, urina, fezes, suor, sêmen ou utensílios de uma pessoa infectada.

Os sintomas começam de modo abrupto, com febre alta, forte dor de cabeça e mal-estar. Em torno de sete dias, muitos pacientes desenvolvem sinais hemorrágicos. Os locais mais comuns de sangramento são nos olhos, gengiva e nariz, mas pode haver também manchas vermelhas na pele e sangue nas fezes ou vômito.

Não existe vacina ou tratamento antiviral contra o vírus de Marburg. Mas há cuidados de suporte, como reidratação com fluidos orais ou intravenosos e controle dos sintomas para aumentar a sobrevida do paciente.

Como o primeiro caso foi detectado?

Amostras do paciente falecido foram testadas em um laboratório em Gueckedou e no laboratório nacional de febre hemorrágica da Guiné. O resultado deu positivo para a presença do vírus de Marburg e uma análise no Institut Pasteur no Senegal confirmou o resultado.

Antes de morrer, o homem havia procurado atendimento na área de Koundou, na cidade de Gueckedou. O município guineano é o mesmo onde foram detectados os primeiros casos dos surtos de ebola deste ano e de 2014, que durou até 2016 no país.

O que as autoridades estão fazendo a respeito?

As autoridades da Guiné iniciaram uma procura por pessoas que possam ter tido contato com o homem que morreu da doença de Marburg. Foram lançadas campanhas de conscientização e foi instaurada uma vigilância transfronteiriça para detectar quaisquer casos, enquanto países vizinhos também estão em alerta.

Gueckedou foi visitada ainda por uma equipe inicial de 10 especialistas da OMS, que estão ajudando a monitorar a situação. “Aplaudimos o estado de alerta e a rápida ação investigativa dos profissionais de saúde da Guiné. O potencial para o vírus Marburg se espalhar por toda parte significa que precisamos detê-lo em suas trilhas”, afirma Matshidiso Moeti, Diretor Regional da OMS para a África, em comunicado.

“Estamos trabalhando com as autoridades de saúde para implementar uma resposta rápida que se baseie na experiência e expertise anteriores da Guiné no gerenciamento do ebola, que é transmitido de forma semelhante”, completa Moeti.

Foto: Wikimedia Commons