Técnica que une anticorpos e fototerapia elimina HIV em estudo brasileiro
Método experimental também destrói células já infectadas e poderá ser aprimorado para atuar como complemento aos medicamentos contra o vírus da aids
Por Revista Galileu
Em laboratório, pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram eliminar o vírus HIV utilizando um novo método de fotoimunoterapia (FIT), que combina fototerapia e imunoterapia. A novidade foi divulgada em um estudo publicado em junho na revista científica ACS Omega, junto a cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e de insitituições britânicas de pesquisa.
A expectativa é de que a nova técnica seja aprimorada para servir como complemento aos medicamentos retrovirais existentes contra o vírus da aids. O princípio se baseia em anticorpos com moléculas sensíveis à luz, capazes de se ligar ao agente infeccioso e a células infectadas no sangue, destruindo-as com uma iluminação de comprimento de onda específico.
Testes foram realizados in vitro com duas moléculas sensíveis à luz. Anticorpos que contêm esses componentes em sua estrutura são chamados de fotoimunoconjugados (FIC). Eles induzem a morte de células infectadas ao causarem danos nas membranas celulares com oxigênio singleto, uma forma mais reativa de oxigênio.
Mas a FIT também tem como alvo as proteínas do envelope que protege o material genético do HIV. “(…) Os anticorpos ‘armados’ com moléculas fotossensibilizadoras se ligarão apenas ao alvo preestabelecido nas membranas de células doentes e nas proteínas do envelope do vírus circulante”, explica Francisco Guimarães, coordenador da pesquisa, em entrevista ao Jornal da USP.
Dessa maneira, apenas as células infectadas e o próprio vírus são eliminados por meio da luz. Isso é importante porque as células contaminadas pelo HIV muitas vezes persistem por décadas nos pacientes que recebem antirretrovirais. A técnica também pode ser uma saída considerando que o agente infeccioso tem ficado mais resistente aos medicamentos.
Outra vantagem é que o novo método é menos tóxico à saúde humana do que os antirretrovirais. E a terapia, quando associada aos medicamentos, pode inclusive reduzir a dose necessária desses fármacos, assim como diminuir a toxicidade deles a longo prazo. “Desse modo, nós demonstramos uma fotoimunoterapia que pode ser usada como uma possível ferramenta auxiliar para a terapia antirretroviral, matando células que expressam HIV e HIV livre de células, respectivamente”, resume Guimarães.
O pesquisador também ressalva algumas correções a serem feitas na nova técnica. É preciso confirmar, por exemplo, se a FIT tem acesso a tecidos com baixa penetração dos retrovirais e a células infectadas adormecidas. Por isso, um aprofundamento do método será realizado em testes com animais e, posteriormente, humanos.
Foto: Mohammad Sadraeian/Reprodução/Youtube
Como a covid-19 pode afetar também a linguagem dos doentes recuperados
Se algo caracteriza a covid-19, é a diversidade de órgãos e sistemas que ela afeta.
Por BBC News Brasil
No âmbito neurológico, por exemplo, pacientes com covid-19 apresentam um conjunto de sinais e sintomas muito complexos.
E dado que a doença pode causar lesões em várias áreas do sistema nervoso, também é capaz de afetar diferentes funções.
Como se não bastasse, a infecção causa dispneia ou hipóxia, o que reduz a capacidade dos pulmões de fornecer oxigênio suficiente aos órgãos, incluindo o cérebro.
Além disso, a covid-19 pode levar a um aumento dos fatores de coagulação do sangue no corpo (hipercoagulação). Isso dá origem a coágulos que podem causar danos cerebrais, como os observados em um derrame.
As consequências negativas não param por aí. Às vezes, as pessoas que sobrevivem à infecção apresentam uma série de sequelas relacionadas a funções vitais, como a respiração.
Mas, além disso, existe a possibilidade de que sofram de declínio cognitivo ou perda auditiva.
Todas essas funções estão relacionadas ao processo de comunicação, desde a capacidade de produzir a voz ou ouvir mensagens orais, até compreender ou produzir a linguagem.
Por tudo isso, os fonoaudiólogos devem, por um lado, saber como essa infecção afeta as diferentes áreas em que atuam como profissionais.
E, por outro, estarem alertas para diagnosticar em tempo hábil qualquer um desses sintomas para fornecer os cuidados de reabilitação necessários.
Transtornos cognitivos subdiagnosticados
A presença de alterações cognitivas, neuropsiquiátricas, de linguagem e de comunicação são frequentes em curto, médio e longo prazo em quem já teve covid-19.
Mas, embora impactem drasticamente a qualidade de vida, nem sempre são diagnosticados oportunamente.
Esse subdiagnóstico é especialmente observado em pacientes mais velhos ou com comorbidade prévia associada a declínio cognitivo, doenças neurodegenerativas ou respiratórias.
Talvez seja devido ao fato de que os sintomas de covid-19 não seguem um padrão único em sua manifestação, tampouco nas sequelas que provoca.
Ou pode não haver sempre uma equipe multidisciplinar completa que consiga realizar uma avaliação abrangente e contínua.
Fonoaudiólogos na recuperação da covid-19
Os resultados de diferentes estudos sobre as lesões causadas por covid-19 permitem afirmar que muitas pessoas que tiveram a doença apresentam comprometimentos linguísticos de base cognitiva.
São semelhantes aos que se manifestam em pacientes com diferentes tipos de afasias causadas por derrames ou traumatismos cranianos.
Ou seja, eles têm dificuldade de acesso lexical (encontrar a palavra necessária para criar narrativas coerentes).
Mas também há limitações na compreensão ou produção de mensagens orais e escritas causadas por uma disfunção executiva que dificulta o processamento auditivo, a atribuição de significado e o monitoramento da resposta.
As sequelas da covid-19 tratadas pelo fonoaudiólogo também podem incluir distúrbios como disfagia (dificuldade de engolir devido a alterações motoras que dificultam o trabalho coordenado da musculatura oral e da laringe) e disartria (alterações ao planejar e coordenar os movimentos da fala).
Um número de pacientes sem precedentes na história
Por ser uma doença altamente infecciosa de origem viral com repercussões frequentes no sistema nervoso, a covid-19 apresenta o enorme desafio de atender uma série de sobreviventes com distúrbios cognitivos, neuropsiquiátricos, de linguagem e comunicação sem precedentes na história.
A única maneira de garantir a identificação precoce do comprometimento cognitivo e sensório-motor na comunicação é contar com uma equipe multidisciplinar.
Especificamente, uma equipe de profissionais da área neurológica, psiquiátrica, cognitiva (neuropsicólogos), da fisioterapia e da fonoaudiologia que, além de diagnosticar e fazer o acompanhamento no curto, médio e longo prazo, podem fornecer recomendações à família e à equipe de tratamento para otimizar metas, objetivos e resultados.
A presença de fonoaudiólogos em hospitais e outros centros de saúde é essencial, uma vez que eles são os profissionais responsáveis pela avaliação das funções relacionadas às áreas linguístico-comunicativa, auditiva e de deglutição, entre outras.
A fonoaudiologia, diga-se de passagem, considera como parte fundamental de seu campo de estudo a sintomatologia dos diferentes tipos de fatores que podem causar danos cerebrais.
E há uma longa tradição no estudo de seus efeitos na linguagem e na comunicação humana, englobando esses sintomas em um grupo chamado linguístico-cognitivo.
Podemos concluir, portanto, que o fonoaudiólogo é fundamental para identificar uma ampla variedade de efeitos negativos da infecção por covid-19.
Principalmente nas fases iniciais, essas ações são necessárias para garantir uma atenção integral adequada que permita melhorar o funcionamento linguístico-cognitivo e, assim, garantir uma melhor qualidade de vida aos pacientes e seus familiares durante e após a pandemia.
Foto: Getty Images