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Excesso de gordura na menopausa aumenta o risco de desenvolver demência

Cientistas identificam, em mulheres na meia-idade, relação entre acúmulo de placas gordurosas em artérias e maior vulnerabilidade à doença

Por Correio Braziliense

Ter a saúde cardíaca debilitada durante a menopausa é uma condição que pode contribuir para o desenvolvimento da demência, segundo pesquisa conduzida por cientistas dos Estados Unidos. Em um estudo apresentado no Encontro Anual da Sociedade Norte-Americana de Menopausa (NAMS, na sigla em inglês), os investigadores relataram que identificaram, em mulheres que não menstruam mais, uma ligação entre o volume de gordura presente nas artérias, a aterosclerose, e prejuízos à função cognitiva. Para eles, os dados podem ajudar a identificar pacientes com maior risco de desenvolver a doença degenerativa e a criar estratégias de prevenção.

No trabalho, os autores explicam que já se sabe que o acúmulo de gordura nas artérias é maior em mulheres na pós-menopausa, em comparação às em fases anteriores. Também existem suspeitas de que o excesso dessas substâncias maléficas pode influenciar a saúde neural desse grupo. “É possível que essa quantidade maior de gordura afete a função cognitiva por meio da secreção de citocinas e adipocinas, células que podem gerar inflamações a nível cerebral”, detalham.

Para investigar essa possível relação, os pesquisadores avaliaram um grupo composto por 500 mulheres, sendo que 30,6% estavam na pós-menopausa. Todas haviam participado de uma pesquisa anterior, chamada Estudo da Saúde da Mulher através da Nação (SWAN), e, por isso, tiveram a saúde acompanhada por vários anos.

Por meio das análises médicas, os pesquisadores observaram que uma maior radiodensidade (maior volume do tecido adiposo perivascular (PVAT, em inglês), a camada de gordura que envolve os vasos sanguíneos, estava associada a um pior desempenho na memória de trabalho (informações necessárias para realizar tarefas complexas) de mulheres na pós-menopausa. “Nosso estudo sugere que esse acúmulo do tecido adiposo perivascular na meia-idade pode servir como um novo biomarcador do estado da função cognitiva em mulheres mais velhas”, enfatizam.

Mais estudos
Os cientistas ponderam que mais análises precisam ser feitas antes que essas informações passem a ser usadas por médicos e avaliam que pesquisa passa uma mensagem importante. “Incluir hábitos saudáveis na vida dessas mulheres já é um recado que podemos tirar dessa análise”, afirma Samar Khoudary, pesquisador da Universidade de Pittsburgh. “Pesquisas como essa são valiosas porque podem ajudar os profissionais de saúde a identificar quem pode ser mais vulnerável à demência. Dessa forma, é possível intervir precocemente e retardar a progressão da doença”, comenta Stephanie Faubion, diretora médica da NAMS e não integrante do estudo.

Segundo Lázaro Miranda, conselheiro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), os dados vistos no estudo americano reforçam suspeitas antigas da área. “Já sabemos que há mais risco de a demência acometer pessoas que também sofrem com problemas cardíacos. Isso porque esse acúmulo de gordura ruim no sistema cardíaco, como no caso da aterosclerose, endurece as artérias e faz com que elas deixem de irrigar o corpo corretamente. É uma suspeita antiga de que esse desequilíbrio gera danos ao cérebro e que os problemas de memória ocorram por causa disso”, detalha.

O cardiologista avalia que os resultados têm ainda mais validade porque foram observados em mulheres que estão em uma fase da vida com menor proteção a essas complicações. “Durante a menopausa, a mulher para de produzir o estrogênio, um dos hormônios que têm como função proteger o corpo de diversos danos”, explica. “Como os autores do estudo dizem, nós precisamos de mais dados, mas, caso essa relação se confirme, esse tipo de análise pode contribuir para uma avaliação que revele pacientes com mais risco de sofrer danos cognitivos no futuro.”

Sedentarismo intensifica os fogachos
As ondas de calor, um dos sintomas mais comuns da transição para a menopausa, podem ser mais intensas caso as mulheres sejam sedentárias. Cientistas americanos chegaram a essa conclusão após avaliar dados médicos de voluntárias que enfrentavam os fogachos gerados pelo cessamento da menstruação. Os dados também foram apresentados na última edição do Encontro Anual da Sociedade Norte-Americana de Menopausa, o NAMS.

“Aproximadamente, 80% das mulheres relatam sentir ondas de calor. Alguns dados sugerem que um maior número e uma maior gravidade das ondas de calor estão relacionados ao aumento do risco de doenças cardiovasculares. No entanto, nenhum estudo avaliou o efeito do comportamento sedentário em relação a esse desconforto”, relatam os autores do artigo.

Na pesquisa, os especialistas pediram para que mais de 300 mulheres na pré-menopausa, na perimenopausa (período de transição) e na pós-menopausa respondessem a um questionário sobre os efeitos que sentiam no corpo diariamente, além de dados gerais relacionados à saúde e aos hábitos. As participantes que tinham um comportamento sedentário relataram sentir ondas de calor noturnas com mais frequência do que as mulheres que realizavam atividades físicas.

“O conhecimento sobre a influência do comportamento sedentário em relação a ondas de calor pode contribuir para que melhores recomendações de estilo de vida sejam feitas a todas as mulheres que passarão pela menopausa. Nossas evidências podem guiar os especialistas em seus atendimentos médicos (…) Os profissionais de saúde devem dar foco às atividades físicas e às rotinas do paciente como opções de tratamento”, enfatiza, em comunicado, Sarah Witkowski, coautora do estudo e pesquisadora da Instituição de Ensino Smith College, nos Estados Unidos.

Foto: Tim Sloan/AFP – 19/8/09

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