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Estudo evidencia mortes evitáveis em diabéticos com menos de 25 anos

Pesquisa global, que contou com especialistas da UFRGS, aponta que maior parte dos óbitos de jovens em 2019 poderia ter sido evitada com acesso a insulina e cuidados básicos em saúde

Por Revista Galileu

Pesquisadores estimam que cerca de 16,3 mil pessoas com menos de 25 anos morreram de diabetes no mundo em 2019. Pior: a maior parte desses óbitos poderia ter sido evitada apenas com acesso a insulina e cuidados básicos em saúde. Os resultados são de um estudo publicado em março no periódico Lancet Diabetes and Endocrinology.

A pesquisa utilizou dados de mortalidade e incapacidade coletados entre 1990 e 2019 no Estudo de Carga Global de Doenças (da sigla em inglês, GBD, Global Burden of Diseases, Injuries and Risk Factors), que inclui 204 países e territórios com população superior a 1 milhão de habitantes.

A análise foi feita por uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo brasileiros da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O grupo calculou que 73% das mortes teve como causa o diabetes tipo 1, que acontece quando o sistema imune destrói células produtoras de insulina, evitando a transformação do açúcar do sangue em energia. Já outros 27% dos óbitos foram causados pelo tipo 2, no qual o organismo não usa o hormônio de modo eficiente ou o produz em baixa quantidade.

Os cientistas acreditam que o acesso gratuito ou facilitado à insulina poderia ter ajudado a prevenir tais óbitos. Isso porque as mortes ocorreram, em sua maioria (97%), em nações de baixa e baixa-média renda. Isto é, quanto menor foi o índice sociodemográfico do país, maior foi a mortalidade por diabetes entre os jovens.

Os piores índices foram em: Indonésia, Papua Nova Guiné e Brunei (sudeste da Ásia); Moçambique e Zimbábue (sul da África); Haiti (América Central); e Venezuela e Paraguai (América do Sul). Por outro lado, a mortalidade por diabetes caiu nos últimos 30 anos em nações como Etiópia (queda de 52%), Camboja (51%) e Cuba (64%). Ainda assim, essas últimas tiveram quatro vezes mais mortes em comparação com países de alta renda.

No Brasil, no período de 1991 a 2010, após a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), o número de mortes por complicações agudas – categoria que inclui o diabetes – em pessoas com menos de 40 anos apresentou queda de 74,5%. O SUS não só disponibilizou de graça insulina como ampliou a Atenção Primária em Saúde.

Conforme defende Ewerton Cousin, um dos autores do estudo, o padrão brasileiro deveria ser usado como referência por outros países. “A insulina foi patenteada para ser distribuída no mundo todo de maneira igual. Temos que levar em conta qual o custo do governo ou se cada um tem que pagar do próprio bolso, como nos Estados Unidos, que é um país muito rico cujo governo quer baixar o custo da insulina para cada cidadão, para que as pessoas consigam ter acesso”, disse Cousin ao Jornal da Universidade, da UFRGS.

Maria Inês Schmidt, que também é coautora da pesquisa, acrescenta que são necessárias melhorias no registro de mortalidade por diabetes em países com indicadores péssimos, onde a falta de informações no obituário é recorrente. Muitas vezes, há inexistência de dados sobre o tipo de diabetes do paciente e até mesmo a ausência de informações básicas para caracterizar o óbito.

Como a pesquisa foi feita antes da pandemia de Covid-19, os cientistas planejam realizar novos estudos sobre como os países de baixa renda se comportaram nesse período e quais impactos a crise de saúde global teve na produção e distribuição da insulina. Bruce Duncan, professor da Faculdade de Medicina da UFRGS e coautor do trabalho, lembra que o risco de diabetes aumenta em 40% para pessoas que contraíram infecções pelo coronavírus Sars-CoV-2.

Foto: Mikhail Nilov/Pixabay

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