Estudos recentes propõem curativo com polímero que acelera cicatrização e dispositivo com estímulos elétricos sobre as feridas crônicas.
Por Futuro da Saúde
Feridas crônicas, como úlceras cutâneas diabéticas, podem levar muito tempo para cicatrizar, o que pode desencadear amputações ou, às vezes, levar a morte. Recentemente, algumas pesquisas buscaram desenvolver novas tecnologias e alcançaram resultados promissores. Uma delas, publicada no periódico científico Advanced Materials, identificou um polímero que impulsiona esse processo de cicatrização, projetando seu uso no revestimento de curativos convencionais. Em outra, publicada na Nature Biotechnology, pesquisadores criaram um dispositivo que utiliza estimulação elétrica para acelerar a cicatrização dessas feridas crônicas.
A cicatrização é um processo biológico que envolve vários tipos de células, como o fibroblasto, que desempenha um papel fundamental na constituição de novos tecidos. Contudo, o diabetes, por exemplo, pode dificultar ou mesmo interromper esses processos celulares. Além de infecções e outros quadros clínicos mais severos, essas feridas crônicas também podem causar ansiedade e depressão e, ainda, impactar os sistemas de saúde, com custos com tratamento estimados em cerca de US$ 25 bilhões a cada ano.
Nesse sentido, o primeiro estudo, conduzido na University of Nottingham, examinou 315 superfícies poliméricas diferentes e a composição química de cada um. Os pesquisadores fizeram isso até identificarem um tipo de polímero que impulsiona os fibroblastos e células imunológicas para cicatrização, o poli(tetrahidrofurfuril metacrilato) – ou pTHFuA. Uma equipe desenvolveu pequenas partículas que contêm esse polímero na superfície, de forma que elas podem ser aplicadas diretamente na região da ferida.
Como resultados, a pesquisa demonstrou que esse material, ao ser aplicado em uma ferida em um modelo animal, produziu três vezes mais atividade de fibroblastos em um período de até 96 horas, além de atingir mais de 80% de fechamento da ferida. Esse polímero pode ser utilizado como revestimento para curativos padrão, possibilitando um tratamento rápido e eficaz.
Cicatrização de feridas crônicas por estímulos elétricos
No segundo estudo, pesquisadores da Universidade de Stanford criaram o protótipo de um dispositivo que possui duas camadas: no topo, há um filme de polímero com os componentes eletrônicos; na parte inferior, há um hidrogel que fica em contato com a ferida.
O curativo possui biossensores que monitoram a impedância elétrica e a temperatura da ferida, dado que pesquisas anteriores já demonstraram que a impedância aumenta conforme a ferida cicatriza, enquanto a temperatura cai à medida que a inflamação diminui. Ou seja, essas métricas indicam se a ferida apresenta dificuldades de cicatrização, acionando o estimulador elétrico no curativo e fornecendo uma pequena corrente elétrica no tecido, o que reduz a infecção e acelera o fechamento.
Além disso, o usuário do curativo pode monitorar o estado da ferida, uma vez que esse dispositivo consegue se comunicar com o smartphone emparelhado, informando a situação vigente. Ainda, para retirada do curativo, se ele é aquecido a 40º C, o hidrogel se solta sem machucar a superfície da pele.
Os testes realizados em camundongos evidenciaram que o uso desse dispositivo acelera o tempo de cicatrização em 25% e aumenta o crescimento da pele em 50%. Os pesquisadores realçam que deve levar um tempo ainda até que a população possa utilizar o curativo, pois seu uso ainda precisa ser dimensionado para humanos e os custos precisam ser reduzidos, mas já existe uma expectativa quanto ao seu uso como tratamento para feridas crônicas.
Foto: Reprodução/Futuro da Saúde