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Baixo risco e alta demanda da população atraem investimentos no mercado odontológico

Odontologia é considerada terreno fértil e planos de saúde, franquias e dispositivos médicos ampliam investimentos

Por Futuro da Saúde

O mercado odontológico brasileiro ganha cada vez mais visibilidade de investidores de dentro e fora da saúde. Sendo considerado uma área de baixo custo e pouco risco, o setor tem sido movimentado por rede de franquias de clínicas odontológicas, planos de saúde, prestadores de serviços e indústrias que produzem novas tecnologias voltadas para a saúde bucal.

A onda se justifica pelo enorme potencial do Brasil, seja pelo tamanho da população ou por ter uma tradição ligada à saúde bucal. E os dados preliminares da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal mostram que a demanda por cuidados é urgente: 48,4% da população entre 35 e 44 anos precisam de ao menos um procedimento odontológico, faixa etária com maior índice. Também há uma alta demanda por próteses dentárias, onde 37,5% da população precisa de algum tipo, seja fixo ou móvel, para a região superior.

“Se olhar para antes da pandemia, saúde mental era tratada à parte. As pessoas tinham até medo de contar que tinham depressão, por exemplo. Existe uma série de questões que estão entrando numa visão expandida da saúde, como é o conceito de cidades sustentáveis, política sustentável de maneira geral e alimentação. Cada vez mais está ocorrendo uma associação da odontologia como parte da saúde”, afirma Claudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, que tem investido no mercado odontológico através da Plenum.

Em julho, players tradicionais da saúde, como a operadora Care Plus, fizeram aquisições de companhias para aumentar a sua capilaridade no mercado odontológico. A empresa comprou a INPAO Dental, adicionando 270 mil novos beneficiários à carteira de planos neste segmento, que já contava com 85 mil vidas.

Já a empresa de tecnologia MV realizou a aquisição majoritária da Dentalis, que produz soluções voltadas para a gestão de consultórios de dentistas e está presente em mais de 6 mil consultórios, apontando para uma ampliação dos serviços. A expansão mira um mercado que conta com mais de 370 mil dentistas no Brasil, visando a oferecer softwares para todo o ecossistema da saúde – que muitas vezes exclui a odontologia.

E as franquias de odontologia se disseminaram em larga escala. De acordo com o ranking da Associação Brasileira de Franchising (ABF), 3 das 50 maiores redes do Brasil são de odontologia. Juntas, chegam a quase 3 mil unidades pelo país. Já a expectativa dos fabricantes de produtos odontológicos é que, em 2023, as exportações tragam um faturamento de 11 milhões de dólares, de acordo com a ABIMO – Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO).

M&A em planos de saúde

Mais conhecida pela atuação nos planos assistenciais, onde conta com 117 mil vidas, a operadora Care Plus mostrou que quer ampliar seus negócios na área odontológica. Mirando aquisições nos próximos 2 anos, acaba de concluir a compra do INPAO Dental para quadruplicar sua carteira de beneficiários em odontologia, superando o número de usuários de assistência médica. A meta, de acordo com a empresa, é chegar ao top 3 do setor.

A empresa ainda conta com uma rede de clínicas de serviços odontológicos e também mira uma expansão para a área. Atualmente são 12 clínicas, mas a meta é chegar a 50 unidades nos próximos 4 anos. Apesar de não ser o carro chefe da companhia, representando 30% do faturamento, a prestação de serviços para o público premium é considerada uma área com espaço para crescimento.

“O INPAO era provavelmente a última grande operadora odontológica que não havia sido consolidada pelos grandes grupos, mas há diversas outras menores que estamos observando. Em clínicas a estratégia vai ser um crescimento bem mais orgânico, com algumas exceções pontuais, porque não existe uma rede grande de clínicas que atende o padrão que nós queremos. Há franqueadoras, mas não é onde queremos atuar”, afirma Manny Roman, chief financial officer da Care Plus.

A Care Plus quer se torar o parceiro ideal da área de recursos humanos das empresas, oferecendo diferentes serviços que contemplem a saúde, como o plano assistencial, convênio odontológico e medicina ocupacional. Mas foi na odontologia que viu a possibilidade de negócios B2C. Com a aquisição da INPAO, a Care Plus aponta que buscará soluções, junto a parceiros, para acelerar o crescimento nesse mercado.

Apesar da margem de lucro ser menor que nos planos assistenciais, o risco para a operadora também é. Com uma regulamentação mais branda e menor probabilidade de prejuízos, é visto pelo mercado como uma boa opção de investimento, mesmo que haja uma grande competição. Apenas 15% dos brasileiros possuem um plano odontológico, o que mostra uma possibilidade de crescimento e expansão. Apesar do sistema de saúde ser diferente, nos Estados Unidos cerca de 78% da população tem um plano desse tipo, de acordo com Manny.

“Na odontologia você não tem os casos de altíssimos custos que a medicina tem, casos de tratamentos de 5 milhões de reais não ocorrem. Os desafios são outros, muito mais sobre como a gente entrega serviços de excelência mantendo o controle na despesa administrativa e nas outras linhas de custos”, explica Ricardo Salem, diretor de saúde da Care Plus.

Franquias movimentam o mercado odontológico

As franquias de odontologia não param de surgir nas ruas do país. Aproveitando a demanda do mercado, os baixos custos para os usuários e a facilidade de se montar clínicas, o setor tem ganhado cada vez mais redes. Ainda, o boom de procedimentos estéticos realizados por dentistas trouxe novas possibilidades de serviços para as empresas.

Líder da área, a OdontoCompany conta com mais de 2.600 unidades pelo país e vem realizando aquisições nos últimos anos para expandir os negócios, estando no portfólio da SMZTO, de José Carlos Semenzato. De acordo com Paulo Zahr, fundador e presidente da companhia, ainda há muito espaço para aumentar a rede:

“Estamos presentes em aproximadamente 1.600 cidades das cerca de 5.500 cidades do Brasil. Então, temos muita coisa para crescer e muito cliente para atender. Temos um share de mercado de 10% da população que trata na OdontoCompany, então queremos realmente entender se a gente pode chegar em 20%”.

No ranking da Associação Brasileira de Franchising (ABF), a empresa ocupa a 5º colocação em números de franquias, dentre todos os segmentos. Está à frente de redes como Burger King, AM/PM e Chilli Beans. Zahr afirma que investidores têm olhado para franquias menores sabendo que elas serão compradas pela líder do segmento, que está sempre mirando uma consolidação do mercado.

Ao mesmo tempo, essas empresas ou redes menores buscam o seu espaço em um mercado concorrido. É o caso da Dentz, rede que surgiu em 2018 e conta com 35 unidades em São Paulo, Paraná, Ceará e Goiás. Em 2022, fechou o ano com faturamento de R$ 34 milhões. De acordo com Tiago Carvalho, CEO da empresa, existe uma espaço para crescimento no Brasil:

“Nós temos um Brasil onde em vários locais ainda não teve o boom odontológico que já vivemos em outros lugares. Então, existem muitas regiões ainda pouco exploradas e que têm muito potencial de crescimento. A Dentz acredita que tem o conjunto de diferenciações e estratégias para poder fazer com que o negócio seja muito bem sucedido na mão de um bom franqueado”, explica Carvalho.

Já em locais onde há uma grande densidade de clínicas, o CEO avalia que também é possível expandir, mas de forma mais cautelosa. É preciso trazer um diferencial para conquistar e trazer valor aos clientes, com o apoio de inovação, tecnologia, qualidade e definição clara de especialização e público-alvo.

Carvalho ainda explica que parte do diferencial da franquia está em dar acesso aos pacientes na hora de contratar os serviços: “Temos a maior oferta de crédito ao paciente do Brasil. O paciente hoje consegue ter mais de 28 opções de financiamento que têm aprovação imediata, facilitando o pagamento do tratamento dele em 12, 24 e até 36 vezes, viabilizando tratamentos que de outra forma não seriam viáveis ou possíveis para aquele paciente naquele momento”.

Novos investimentos

Reconhecido pela atuação no setor nas últimas décadas, Claudio Lottenberg tem feito investimentos na odontologia como sócio da Plenum, empresa de inovação que fabrica implantes dentários através de impressoras 3D e enxertos ósseos sintéticos.

“Estamos observando o aumento da expectativa de vida e as questões da longevidade estão absolutamente sendo um pano de fundo para a discussão do cenário da saúde. Dentro disso temos questões que vamos ter que resolver, questões tecnológicas, incrementos que agregam valor para a vida das pessoas e questões de sustentabilidade”, afirma o executivo.

Lottenberg explica que está diversificando seus investimentos em empresas que possam vir a fazer parte do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, política do Governo Federal para tornar o país mais autossificiente em medicamentos e dispositivos, incentivando a produção nacional. Atualmente, está em fase de construção da política para o setor, que aguarda informações para entender o caminho que deve ser seguido.

“O Brasil tem um mercado de mais de 200 milhões de consumidores e, portanto, dentro dessa perspectiva, a gente tem a oportunidade de criar insumos para serem consumidos internamente e também no mercado externo. A gente precisa desenvolver esse Complexo não só para a odontologia, mas em outros produtos, como medicamentos, devices, aparelhos, próteses ortopédicas, etc”, defende Lottenberg.

O presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein ainda aponta que, gradualmente, a odontologia tem sido vista como parte integral da saúde e começa a ser pensada de forma mais ampla. Lottenberg é categórico: “Dentro do conceito de economia de saúde, também vai pedir um investimento em tecnologias que possam melhorar a saúde dental”.

Produtos para o setor

“A gente sabe que o terceiro maior mercado do mundo para a área da odontologia é o Brasil, atrás da China e Estados Unidos, em relação ao consumo de produtos. O Brasil é um mercado muito grande, com um grande número de dentistas formados, além de concentrar o maior número de universidades de odontologia”, afirma Gislaine Sachetti, gerente de marketing e educação para América Latina da Electro Medical Systems (EMS Dental).

A empresa suíça produz dispositivos médicos voltados para dentistas e tem buscado entrar nos consultórios médicos brasileiros desde 2021. Atualmente, trabalha com uma tecnologia inovadora para a remoção de biofilmes, uma placa bacteriana que se aglutina aos dentes, podendo provocar complicações. A ideia é que haja uma limpeza preventiva.

Sachetti explica que o produto é voltado para clínicas premium, já que o investimento, na casa dos 5 dígitos, pode assustar os dentistas que não atuam com profilaxia, área ainda dando os primeiros passos no país. Atualmente, cerca de 600 consultórios contam o Airflow, mas a empresa avalia que pode chegar em 25 mil clínicas.

“Hoje a aceitação do nosso produto é muito grande. Talvez ultrapasse a fronteira do segmento premium, devido aos beneficíos que a gente consegue entregar com esse protocolo. Tem um potencial enorme”, afirma a gerente. A empresa tem focado na educação de dentistas como estratégia para a disseminação dos seus produtos, e já formou 200 mil profissionais.

Foto: Reprodução

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