Por Correio Braziliense
Abordagem multidisciplinar antes da operação reduz riscos no procedimento e melhora a recuperação do paciente, mostra estudo. Exercícios físicos e dieta balanceada foram os componentes com maiores benefícios observados
Na linha de que é melhor prevenir do que remediar, um estudo publicado na revista The BMJ sugere uma pré-reabilitação antes de o paciente se submeter a uma cirurgia. Segundo a pesquisa, da Universidade de Ottawa, no Canadá, os cuidados prévios e multidisciplinares — incluindo orientação nutricional, prática de exercícios físicos, treinos cognitivos e suporte psicológico — reduz o risco de intercorrências e acelera o tempo de recuperação.
A equipe de Daniel McIsaac, anestesiologista e presidente de Pesquisa Clínica em Inovação Perioperatória da universidade, fez uma revisão de 186 estudos clínicos controlados ao redor do mundo. Os dados usados no artigo referem-se a 15 mil pacientes de procedimentos diversos. Mais de 300 milhões de cirurgias são realizadas globalmente todos os anos. Segundo McIsaac, mais de 20% das pessoas submetidas a operações de grande porte sofrem de complicações pós-operatórias, o que pode aumentar a duração da hospitalização e atrasar a recuperação.
“O objetivo do nosso programa de pesquisa é desenvolver uma abordagem simples e eficaz para a pré-reabilitação que possa beneficiar o maior número de pacientes, melhorando significativamente sua recuperação cirúrgica e ajudando os pacientes a voltarem para casa mais rápido após a cirurgia”, conta o médico. Ele explica que o termo pré-reabilitação surgiu na Segunda Guerra Mundial, quando o Exército Britânico colocou em prática algumas abordagens para melhorar a saúde geral dos recrutas. Depois, foi adotado pela comunidade médica.
Implementação
“A pré-reabilitação é muito promissora, mas ainda não sabemos como implementá-la melhor em hospitais e sistemas de saúde”, diz McIsaac. “Temos certeza de que se os pacientes puderem fazer o trabalho de pré-reabilitação, eles provavelmente se beneficiarão. A grande questão é como fornecer pré-reabilitação que funcione para todos os pacientes cirúrgicos em um nível de sistema? Os testes multicêntricos em andamento devem fornecer evidências mais rigorosas para dar suporte à implementação mais ampla.” A médica nutróloga Andrea Pereira, do canal Longidade, lamenta que, no Brasil, a pré-reabilitação cirúrgica não é uma prática comum nem no Sistema Único de Saúde (SUS) nem na saúde suplementar (leia Três perguntas para).
A eficácia da pré-reabilitação foi medida de acordo com intercorrências na operação, número de dias de hospitalização, autorrelato de qualidade de vida e recuperação pós-operatória. A análise da Universidade de Ottawa constatou que, exceto pelo suporte psicológico sozinho, todas as estratégias impactaram positivamente a recuperação e a minimização de riscos cirúrgicos dos pacientes. Os melhores resultados foram obtidos com a combinação das abordagens, mas o componente mais promissor foi o exercício físico, seguido por aprimoramento nutricional.
“O preparo físico é essencial para reduzir complicações cirúrgicas, pois melhora a capacidade cardiorrespiratória, fortalece a imunidade e otimiza a circulação sanguínea. Isso diminui riscos como infecções e tromboses”, ressalta o nutricionista Lucas Felisberto, de Brasília. “Além disso, um corpo mais condicionado tende a se recuperar mais rapidamente, já que os músculos e articulações estão mais preparados para lidar com o processo de reabilitação. A atividade física regular também contribui para o controle de fatores como obesidade, hipertensão e diabetes, que podem complicar o período pós-operatório.”
Inflamação
A cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explica que as intervenções pré-cirúrgicas auxiliam o organismo a combater a inflamação excessiva, que surge como uma resposta necessária para a recuperação. “Toda cirurgia ou procedimento desencadeia um processo inflamatório necessário para a cicatrização e reparo dos tecidos. Como consequência, isso gera um aumento de radicais livres e diminuição de defesas antirradicais livres do nosso corpo.”, diz.
Segundo a médica, de São Paulo, “preparar o paciente para esta inflamação com intervenções no estilo de vida ajuda a diminuir a produção de radicais livres e aumentar as defesas”. Ela destaca que a atividade física é o antioxidante mais eficaz. “Qualquer atividade física estimula a linha de produção de mitocôndrias, o que aumenta o metabolismo e diminui o desequilíbrio de estresse oxidativo.”
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