Mais de 60% dos sobreviventes de um AVC agudo deixam de andar ou precisam de ajuda para se locomover
Por Mariza Tavares, do G1 Rio de Janeiro
Em mais de uma ocasião, já escrevi que a tecnologia deve ser encarada como uma aliada do envelhecimento, porque amplia as possibilidades de uma vida mais longa e com menos limitações. Um exemplo concreto disso é robótica utilizada no campo da reabilitação. No fim de março, a National Stroke Association, associação americana sem fins lucrativos para apoiar pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, fechou parceria com a Ekson Bionics, empresa líder na fabricação de exoesqueletos. Achou que soa como ficção científica? Nem tanto. No Brasil, assistimos à demonstração de um exoesqueleto em ação na abertura da Copa do Mundo, em 2014. O equipamento, que lembra uma armadura, era usado por pacientes com paralisia causada por danos à coluna vertebral.
Nos Estados Unidos, a parceria pretende aumentar não só o conhecimento sobre essa tecnologia, mas também sua utilização no país. Estima-se que, anualmente, 17 milhões de pessoas tenham um AVC no mundo. Mais de 60% dos sobreviventes de um derrame agudo deixam de andar ou precisam de ajuda para se locomover. Essa limitação aumenta o risco de quedas, restringe as atividades do dia a adia e impacta a qualidade de vida. O exoesqueleto da Ekson é o primeiro a ser aprovado pela FDA (Food and Drug Administration), o equivalente à Anvisa brasileira, com o objetivo de reabilitação desses pacientes. O equipamento também pode ser utilizado para quem sofreu lesões entre as vértebras L5 e C7.
Trata-se de reaprender a andar, resgatar a capacidade de ir e vir e a independência. Uma das sequelas mais comuns depois de um AVC é a hemiplegia, a paralisia de um lado do corpo. Muitos pacientes que se recuperam se valem de algum tipo de suporte, como bengala, andador, ou acabam na cadeira de rodas. Com o exoesqueleto, os benefícios começam com o fato de estar de pé, e não sentado, o que é bom para os aparelhos intestinal, urinário e reprodutor. A National Stroke Association reúne 90 mil sobreviventes de derrame e 110 mil profissionais de saúde nos EUA e Canadá. Vai se valer desse capital humano para fazer campanhas de conscientização sobre a necessidade de incorporar a tecnologia, que já se encontra em utilização em 185 centros de reabilitação. No futuro, a expansão do mercado de exoesqueletos pode mudar o alarmante quadro de quedas de pessoas mais velhas. No Brasil, por exemplo, os dados indicam que mais de 30% dos idosos com mais de 65 anos caem pelo menos uma vez ao ano, muitas vezes levando a um quadro de fragilidade do qual o indivíduo não se recupera. Quem sabe poderemos todos sonhar em nos tornar o personagem Homem de Ferro?
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