Relação de confiança e empatia também contam para o sucesso do tratamento
Por Mariza Tavares, G1 Rio de Janeiro
Acredito que todos os geriatras já tenham lido a respeito dos efeitos terapêuticos (positivos ou negativos) da relação do médico com o paciente idoso. Infelizmente, aqueles em situação vulnerável, do ponto de vista social e econômico, e que mais necessitam desse apoio, são os que se veem às voltas com um sistema público de saúde deteriorado – mas mesmo os que dispõem de recursos nem sempre conseguem construir um relacionamento de qualidade. A velhice traz perdas em várias frentes: o ambiente de trabalho deixa de ser uma referência e um local para fazer amizades; o papel de destaque na família passa para uma nova geração; cônjuges e amigos se vão. Essa é uma porta para a depressão, que vai se somar a doenças crônicas que devem ser controladas para garantir a independência da pessoa. Diante de tantos desafios, o relacionamento com o médico se torna, como foi comprovado em inúmeros estudos, importante fonte de apoio e encorajamento, o que vai muito além do tratamento convencional de enfermidades.
Uma boa comunicação é o primeiro passo para essa relação funcionar, mas estudos mostram que isso não se resume a dar um diagnóstico, descrever o tratamento e prescrever a medicação. Na verdade, quando se trata de um indivíduo com doença crônica, é fundamental que ele seja parte ativa do processo, mas como garantir sua adesão se não há um laço de empatia e confiança com o profissional de saúde? Um estilo formal e distante certamente não ajuda, assim como o tom paternalista de tratar o idoso como uma criança. Com o aumento da expectativa de vida da população, teremos um contigente crescente de “novos velhos” que demandarão um outro padrão de relacionamento, cujo foco será o próprio paciente. Parece óbvio, mas não é: pesquisas realizadas nos EUA indicaram que os médicos davam menos informações a afrodescendentes; e que, no caso de um diagnóstico de câncer, os mais jovens recebiam dados precisos, enquanto os mais velhos ouviam explicações vagas e genéricas.
Seu médico é receptivo ao que você diz? A sua fala é ouvida com atenção e levada em consideração? Outra pesquisa norte-americana mostrou que, em média, os médicos interrompiam seus pacientes 23 segundos depois de eles terem começado a falar. Não são apenas os aspectos físicos, mas também os psicológicos e emocionais que devem ser discutidos no consultório, porque são informações pertinentes e com relação direta com o tratamento. E o que dizer das explícitas demonstrações de contrariedade quando os pacientes pesquisam na internet? Alguns chegam a considerar um insulto que a pessoa recorra ao “doutor Google”, mas não deveriam reagir dessa forma. Quem navega em busca de respostas está ansioso e precisa de um ambiente acolhedor para tirar dúvidas e aplacar temores. Aliás, esta pode ser uma boa oportunidade para mostrar que sites são confiáveis e quais devem ser descartados.
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