A britânica Jessi, de 11 anos, sentiu medo e preocupação durante a passagem dos anos iniciais aos finais do ensino fundamental; cansada de esconder suas emoções, ela as transformou em desenhos, que compartilha no Facebook
Por BBC
A britânica Jessi Crowther tem 11 anos e muitas vezes usou uma máscara para ir à escola. A máscara não era visível para seus colegas e professores, mas tinha um sorriso que escondia o que Jessi sentia por dentro: estresse e ansiedade.
Iniciar a segunda fase do ensino fundamental é difícil para muitos pré-adolescentes, e os entraves podem ser ainda maiores para crianças com autismo, como é o caso de Jessi.
E, para lidar com essas dificuldades, ela passou a desenhar a si mesma usando uma máscara sorridente, mas chorando por trás da fachada de alegria.
“A máscara (representa) como eu me sentia assustada em passar do primeiro ensino fundamental para o segundo”, conta ela à BBC. “Decidi não esconder mais meus sentimentos. Meu pai chegou a chorar quando viu (o desenho), ele disse que ficou muito tocado.”
O impacto dos desenhos acabou indo além do esperado, diz Jessi.
“Quando postei o desenho na minha página de Facebook, a mãe de uma amiga deixou um comentário dizendo que a filha havia chorado ao vê-lo e dito: ‘é exatamente isso que eu vinha tentando dizer a vocês (pais)’. Senti muito orgulho de mim mesma ao ouvir isso. Acho que ajudou (a amiga) a conversar a respeito de seus sentimentos com os pais. Acho que muitas pessoas que estão tristes ou abaladas têm uma máscara para dizer que estão bem, mas dentro de suas cabeças tem uma guerra entre sentimentos positivos e negativos que bagunça o cérebro.”
A menina, que passou a adotar o nome artístico Jessi C’Artoon em seu perfil no Facebook, desenha em papel e usa um tablet para transformá-los em cartuns, um deles intitulado “As pessoas estão muito fora de alcance”.
As ilustrações descrevem seus sentimentos quando ela precisou conviver com novos colegas no processo de mudança de escola: “(Me sinto) longe, pequena em um canto, enquanto as demais crianças parecem estar distantes e ser muito grandes”.
“Eu não queria ir para a escola nova e estava muito nervosa, porque muitas coisas novas iriam acontecer e haveria lá muitas crianças que eu não conhecia”, ela explica.
“Eu não me sentia capaz de lidar com novas crianças, e a motivação baixou dentro de mim. Mas não é bom guardar as emoções para si mesmo, sem contar a ninguém. Então, em vez de falar, eu decidi fazer os desenhos.”
Jessi se esforça em explicar que seus desenhos não são todos negativos.
“Fazer isso me torna uma pessoa melhor. Todos fazemos isso (usar máscaras): sorrimos por fora quando à vezes não nos sentimos assim por dentro. Se vemos alguém cansado ou triste, perguntamos a respeito e ouvimos dele um ‘estou bem’, mas por dentro ele não está. Está com uma máscara para achar que ninguém vai ver sua tristeza. Faz parte se sentir triste às vezes, mas não deveríamos ter que esconder isso o tempo todo.”
E, passadas duas semanas na escola nova, como Jessi está se sentindo?
“Estou muito feliz. Ainda estou um pouco perdida, porque a escola é muito maior, mas estou começando a me familiarizar (com o ambiente), o que facilita, e as pessoas estão começando a me reconhecer. Posso dar grandes sorrisos!”
Foto: Jessi C’Artoon