Profissional é treinada para criar ambiente mais acolhedor, que traga conforto para o paciente e a família
Por Mariza Tavares, G1 Rio de Janeiro
No Brasil, a figura da doula está associada à vida. A palavra vem do grego e sua tradução equivaleria a uma mulher que dá assistência a outra. Embora nem sempre com a aprovação dos médicos, elas acompanham a gravidez e o parto principalmente de marinheiras de primeira viagem, com o objetivo de tornar essa experiência a mais humanizada possível. Em outros países – aqui, a iniciativa ainda é incipiente – aumenta a participação das doulas nos preparativos para a morte. Lá fora, são chamadas de end-of-life doulas e, apesar de haver voluntários no ramo, proliferam cursos preparatórios para assumir essas responsabilidades. Na Grã-Bretanha, são reconhecidas pelo NHS, o sistema público de saúde do país.
Apesar do medo que temos de uma morte súbita, são as doenças crônicas não transmissíveis, como as do aparelho circulatório, diabetes ou câncer, que respondem por mais de 60% dos óbitos e atingem indivíduos de todas as camadas socioeconômicas. Portanto, normalmente há um período de declínio permeado de dor e angústia – e é quando a doula pode trazer conforto para o paciente e sua família. Há inclusive uma organização, a International End of Life Doula Association, criada em 2015, que, além de oferecer treinamento, trabalha para mostrar o valor desse serviço em hospitais e centros de cuidados paliativos. Entre outros, o curso abrange tópicos como estimular a capacidade de ouvir, planejamento da vigília, sinais e sintomas da aproximação do fim e rituais que possam suavizar o processo.
É natural que a família esteja tão esgotada com a situação que não se dê conta de pequenos (e grandes) detalhes que podem ajudar nos momentos finais. Por exemplo, criar uma atmosfera mais acolhedora, através da utilização das músicas preferidas, ou usando aromaterapia para que o ambiente tenha os cheiros que mais agradam ao doente. Ou até ajudar a escrever uma carta de reconciliação com um irmão ou irmã cujo relacionamento tenha ficado estremecido nos últimos anos. Que filho ou filha, marido ou mulher, parente ou amigo, se sente preparado para ouvir seu ente querido falar sobre o medo da morte que se aproxima? A dor é insuportável e essa mediação pode ser feita por uma doula, que também se encarrega de tarefas típicas de cuidadores.
Enquanto a atenção dos profissionais de saúde está voltada para os aspectos físicos do paciente, a proposta das doulas é privilegiar o conforto emocional e espiritual. Na verdade, seria muito bom que enfermeiros (as) tivessem uma formação que considerasse essa abordagem. Quem se dispuser a registrar suas diretivas antecipadas de vontade, ou fazer um testamento vital, poderá deixar família e amigos cientes do atendimento que deseja receber. Afinal, apesar do estado de recalque e negação da morte no qual nossa sociedade está imersa, este é nosso último ato e não só pode como deveria nos pertencer.
Foto: By Levi Clancy – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=63693133