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O que diz a ciência sobre uso da vacina de Oxford por idosos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca seja aplica em adultos de todas as idades, inclusive em idosos.

Por BBC News Brasil

Isso abriu caminho para que o imunizante seja distribuído por meio da Covax, uma coalizão de 165 nações apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) que busca garantir o fornecimento de uma vacina contra o novo coronavírus aos países mais pobres, entre eles o Brasil.

A posição da OMS foi na direção contrária da indicação mais recente feita por alguns países da Europa como Alemanha e Áustria, que decidiram não aplicar a vacina de Oxford em pessoas com mais de 65 anos, por não haver estudos conclusivos sobre sua eficácia para essa faixa etária.

Mas o que a ciência diz até agora sobre este imunizante, um dos únicos dois aprovados para uso até agora no Brasil, onde ele já é aplicado na população e, especialmente, em idosos, que são um grupo de risco da covid-19 e estão sendo priorizados nos planos de imunização?

A BBC News Brasil conversou com Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), e Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), e esclarece as dúvidas sobre a aplicação da vacina de Oxford em idosos a seguir.

O que disse a OMS?
O Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas (Sage, na sigla em inglês) da OMS recomendou a aplicação da vacina de Oxford para pessoas acima de 18 anos, “sem um limite máximo de idade”.

A decisão foi tomada mesmo que ainda esteja sendo investigada a taxa de eficácia específica para pessoas com mais de 65 anos — os estudos clínicos apontaram que o imunizante tem uma eficácia global de 82% após a aplicação da segunda dose, quando consideradas todas as faixas etárias acima de 18 anos.

Alejandro Cravioto, presidente do comitê de especialistas da OMS, disse que a urgência criada pela pandemia é muito grande para aguardar por estes resultados.

A prioridade neste momento é impedir que as pessoas desenvolvam formas graves da doença e morram, e a vacina de Oxford demonstrou ser capaz de fazer isso, explicou ele.

“Esperar várias semanas para ter mais informações e só então fazer uma recomendação, quando já temos dados suficientes não seria apropriado”, argumentou Cravioto.

A vacina de Oxford é barata de fabricar, pode ser produzida em massa e pode ser armazenada em um refrigerador comum, o que facilita a imunização em muitos países.

A OMS também recomendou sua aplicação em países que enfrentam novas variantes do coronavírus — como é o caso do Brasil —, contras as quais as vacinas atuais podem ser menos eficazes.

Dados preliminares de testes feitos na África do Sul, onde foi detectada uma das novas cepas, apontaram que a vacina de Oxford oferece uma “proteção mínima” contra casos leves e moderados em jovens.

A diretora de imunização da OMS, Katherine O’Brien, disse que o estudo sul-africano foi “inconclusivo” e que é “plausível” considerar que a vacina previne formas graves da covid-19.

“Mesmo que a eficácia caia para um índice tão baixo quanto 10%, ainda a coisa certa a fazer é imunizar os idosos por causa do maior risco de ter uma forma grave da doença e de mortalidade nessa faixa etária”, disse O’Brien.

Por que alguns países não recomendam a vacina de Oxford para idosos?
Alemanha, Áustria, França, Itália e, mais recentemente, Portugal afirmaram que não indicam a aplicação do imunizante em pessoas com mais de 65 anos, porque até o momento não se sabe sua eficácia nesta faixa etária.

Isso ocorreu porque não havia um número suficiente de idosos nos estudos feitos para esta vacina para haver uma conclusão confiável a respeito.

“Outro fator relevante é que na Europa, eles têm acesso a outras vacinas, como a da Pfizer, que se mostrou eficaz para idosos”, diz o imunologista Jorge Kalil.

Como estes países compraram imunizantes de três, quatro ou mais fornecedores, eles têm algumas opções à mão.

Podem assim estabelecer em seus planos que um imunizante que tenha eficácia comprovada em idosos seja aplicado neste grupo enquanto outros são reservados para pessoas de outras idades.

“Fazer isso é legítimo e defensável. O que nenhum país faria seria deixar de vacinar seus idosos”, diz o médico Renato Kfouri.

Não ter dados de eficácia significa que a vacina não funciona para idosos?
De forma alguma. Na verdade, as duas primeiras fases dos estudos clínicos deste imunizante apontam que ele é seguro para idosos e gera uma resposta do sistema imunológico tão boa quanto em outras faixas etárias.

“Foram estes resultados que permitiram liberar o uso no Brasil e a própria OMS recomendar para todas as idades. Isso é muito comum em vacinologia: apontar que se a taxa de anticorpos é suficiente para proteger pessoas de uma certa idade, também deve ser para pessoas de outra idade”, diz Kfouri.

Enquanto isso, um estudo está sendo feito nos Estados Unidos com 30 mil pessoas, e há entre elas um número substancial de participantes com mais de 65 anos.

Isso provavelmente permitirá saber com mais precisão qual é a eficácia da vacina de Oxford em idosos.

Mas e se um estudo concluir que a vacina é menos eficaz em quem tem mais de 65 anos?
Isso não seria nenhuma surpresa, porque é comum que uma vacina não produza uma resposta imunológica tão boa em pessoas mais velhas quanto nas mais novas.

Isso ocorre, por exemplo, com as vacinas contra a gripe e hepatite B, diz Kalil. Mesmo a vacina da Pfizer, que teve sua eficácia em idosos comprovada, apresentou uma taxa um pouco menor neste grupo.

“O sistema imune de idosos envelhece como todo o resto do corpo e por isso não responde tão bem”, explica o imunologista do Incor.

Esse fenômeno é conhecido como imunossenescência e ajuda a explicar porque a covid-19 é mais letal em idosos em quem tem mais idade.

Então os idosos devem usar a vacina de Oxford?
Não há dúvidas quanto a isso. “Tem que tomar. Uma vacina sempre funciona de alguma forma, sempre estimula o sistema imune”, diz Kalil.

Ser imunizado ensina nosso corpo a se defender de uma ameaça e, mesmo que não impeça que uma pessoa fique doente, diminui muito as chances de alguém ficar gravemente doente e morrer.

Isso vale especialmente para os idosos — não é à toa que eles estão sendo priorizados mundo afora nos programas de imunização.

“Os idosos foram desproporcionalmente acometidos, respondem por dois terços das hospitalizações e dos óbitos e, por isso, precisam receber a vacina primeiro”, diz Kfouri.

Os dois especialistas lembram ainda que, até o momento, também não se sabe a eficácia exata em idosos da CoronaVac, a única outra vacina aprovada para uso no Brasil. Sabe-se apenas que ela funciona.

Por isso, a recomendação continua a ser a mesma: evitar aglomerações, usar máscara e, quando possível, se vacinar — seja qual for a vacina que estiver disponível.

Foto: Reuters

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