Levantamento analisou dados públicos oficiais de estados e municípios brasileiros que indicaram uma queda de mais de 50% nos atendimentos terapêuticos contra a doença em 2020
Por Revista Galileu
Posicionado até 2019 entre os países que se comprometeram a alcançar melhores índices de controle da hepatite C, no último ano o Brasil retrocedeu nas metas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo redes de tratamento e diagnóstico da doença. Os indicadores de tratamento tiveram queda de mais de 50% em 2020, comparados aos índices do ano anterior, provavelmente em razão da crise sanitária de Covid-19.
Pesquisadoras da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP), em conjunto com cientistas da Fiocruz e da London School of Economics, na Inglaterra, chamam atenção para essa situação em nota técnica antecipada pela Bori na quinta-feira(11). A nota técnica compara dados sobre hepatite C disponibilizados pelos principais órgãos públicos de saúde municipais, estaduais e federais no período de 2007 a 2019 e pelo Painel Informativo sobre tratamento das hepatites B e C do Ministério da Saúde no ano de 2020.
A análise descritiva desses dados permitiu observar uma tendência de queda nos indicadores de tratamento para essa doença no Brasil, tida como a doença relacionada ao fígado que mais mata no mundo.
Com esses resultados, os pesquisadores querem alertar os atuais gestores municipais para a necessidade de ajustes nas políticas municipais de prevenção, diagnóstico e tratamento no controle do HCV (o vírus causador da hepatite C), evitando possíveis agravos nas tendências observadas.
Carolina Coutinho, uma das responsáveis pela nota, não deixa de destacar o importante avanço obtido com a publicação da portaria 1537/MS de 2020, que inclui os medicamentos para o tratamento do HCV como componente estratégico da assistência farmacêutica. “Essa medida tende a facilitar o acesso ao tratamento”, comenta a pesquisadora.
A emergência de saúde pública vivida pela Covid-19, na visão dos pesquisadores, é também um momento para se atentar às estratégias de prevenção e controle de outras enfermidades e fatores que adoeçam a população. “O fortalecimento do SUS e da atenção básica para a saúde dos brasileiros é essencial”, diz Coutinho.
O Brasil é reconhecido mundialmente pelo pioneirismo e sucesso no enfrentamento à epidemia de HIV/AIDS e tem expertise para repetir o feito no controle de outras doenças transmissíveis. Era o que vinha acontecendo com o HCV, cujo controle “precisa de continuidade e investimento”, alerta Coutinho. No caso da hepatite C, o país vinha seguindo de forma eficiente as metas da OMS estabelecidas em 2016 como parte de um plano de eliminação das hepatites virais, comprometendo-se a alcançar melhores índices de controle da doença com redes de tratamento e diagnóstico.
A nota técnica está vinculada ao projeto Brazil’s Fight Against Hepatitis C e recebe financiamento do British Council em parceria com o Newton Fund. O projeto estuda a resposta brasileira às hepatites em diferentes aspectos e, além da divulgação de artigos científicos inéditos, prevê a publicação de notas técnicas adicionais e a realização de workshops com gestores e pesquisadores para a discussão dos achados e para a criação de recomendações de políticas públicas.
Foto: Christina Victoria Craft/Unsplash