Sintoma presente em quadros de coronavírus, a perda de olfato (anosmia) nunca ganhou tanto destaque como nos últimos meses.
Por Uol Viva Bem
Apesar de ser um sinal frequente de que a pessoa esteja infectada pela covid-19, a condição também pode ser sintoma de outras doenças, como rinite, sinusite, gripe, Alzheimer e Parkinson.
Mas a perda de olfato tende a ser diferente de uma doença para a outra. Se na rinite ou sinusite, o sintoma é progressivo e transitório, em casos de covid, a anosmia é súbita —você dorme e acorda sem sentir cheiro.
“Essa é uma característica marcante da covid-19, da mesma maneira que você perde, o cheiro também volta. A cada 100 pessoas que pegam covid, 80 perdem o olfato. Mas 50% das pessoas têm uma recuperação rápida e espontânea; 30% demoram até dois meses para recuperação e os outros 20% passam desse período até terem uma recuperação total ou parcial”, explica Marcio Nakanishi, médico doutor em otorrinolaringologia pela USP (Universidade de São Paulo).
É também importante procurar atendimento o quanto antes, principalmente se descartada a covid-19, caso a pessoa apresente anosmia, hiposimia (perda parcial) ou parosmia (distorção nos cheiros).
“É preciso ressaltar que a perda de olfato pode ser o primeiro sintoma de doenças neurodegenerativas, por exemplo. Como no Parkinson, uma pessoa que nunca teve problemas de movimento pode ter a perda de olfato como primeiro sinal”, explica Jamal Azzam, otorrinolaringologista pela USP e membro da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).
Os mecanismos da anosmia, de acordo com os especialistas, variam muito. Podem ocorrer de forma isolada ou em conjunto. São eles:
Condutivo: há um bloqueio (catarro, pólipo) que impede a chegada do odor na região olfatória, como na rinite, por exemplo;
Neurossensorial/neural: quando as células perdem suas funções decorrente da inflamação do sistema olfatório na cavidade nasal, como ocorre na covid-19;
Central: há uma lesão no sistema nervoso central, ou seja, dentro do cérebro, como tumores cerebrais, Alzheimer ou Parkinson.
Abaixo, confira as principais doenças que podem resultar na perda de olfato (total, parcial ou distorção) e o que, neste aspecto, diferencia uma da outra:
Covid-19
É uma doença respiratória causada pelo coronavírus. Os principais sintomas são tosse seca ou com catarro, dificuldades para respirar, fadiga, febre e perda total de olfato, que costuma ser súbita, ou também distorção dos cheiros. De mecanismos condutivo e neural, a recuperação do sentido depende muito do quadro, mas pode retornar aos poucos ou demorar meses.
Rinite
É uma inflamação que acomete a membrana na mucosa que reveste o nariz. As causas são multifatoriais, vão desde poeira doméstica, ácaros, até infecções por vírus. Os sintomas são espirros, coriza, nariz entupido, dor de cabeça e até perda parcial ou total de olfato, de forma progressiva e lenta. Ao realizar o tratamento correto, o olfato também tende a voltar na maioria dos casos.
Sinusite
Muito parecida com a rinite, a sinusite ocorre quando há uma inflamação, além do nariz, nos seios da face, envolvendo olhos, maçã do rosto e testa. É causada, geralmente, por alergias ou infecções. Os sintomas da doença envolvem tosse, dor de cabeça, secreção e obstrução nasal, que pode vir acompanhada de perda de olfato passageira, na maioria dos casos.
Rinossinusite
A rinossinusite crônica com pólipo nasal, um subtipo de sinusite relacionado a rinite, é caracterizada pela inflamação das vias aéreas superiores, nariz e seios paranasais. Os sintomas mais comuns são nariz entupido ou congestionado, dor facial e secreção nasal, além da redução ou perda de paladar e olfato, —muito pela presença do pólipo— que tem início insidioso, progride lentamente e a melhora está associada com uso de medicações que reduzam a obstrução do nariz e a inflamação na região do sistema olfatório.
Gripe (Influenza)
É uma doença causada pelo vírus Influeza que acomete as vias respiratórias. Os sintomas envolvem febre, mal-estar, prostração (fraqueza), secreção e obstrução nasal. A perda total ou parcial do olfato se dá por conta da presença de catarro no nariz e tende a voltar com o tempo.
Doenças neurodegenerativas
As doenças neurodegenerativas também podem apresentar como primeiro sintoma a alteração ou perda de olfato, que não tende a voltar. Isso ocorre principalmente com Alzheimer e Parkinson, que podem levar a alterações em diversos setores do cérebro, incluindo o olfato.
Outras situações
O traumatismo craniano também pode causar a perda olfativa, após um acidente, por exemplo, que não tem como recuperar o sentido, pois ocorre um rompimento do nervo.
Tumores no cérebro incluem sintomas de perda olfativa, assim como o uso de drogas (cocaína, crack) e o contato frequente com outras substâncias tóxicas (benzenos, solventes, acetona).
Tratamentos para alterações no olfato: quanto antes, melhor
Algumas doenças podem causar a perda de olfato de forma transitória ou permanente, como já explicado. Exceto traumatismo craniano e doenças neurodegenerativas, é possível fazer tratamentos para que o cheiro volte aos poucos —tanto de forma medicamentosa como com treinamentos, o chamado treinamento olfativo.
Quanto mais precoce o tratamento, mais rápido pode voltar o sentido. Por isso é tão importante procurar ajuda assim que o sintoma aparecer.
“É um tratamento que pode ser longo. É o mesmo quando uma pessoa sofre um AVC e faz fisioterapia depois. O nervo lesado não cresce de um dia para o outro. Ele precisa receber estímulos para crescer e regenerar”, afirma Nakanishi.
Lembrando que a falta do olfato pode causar diversas consequências na saúde da pessoa, comprometendo a qualidade de vida dela, como explica o otorrino da ABORL-CCF: “Traz problemas alimentares porque a pessoa não tem mais prazer em comer ou cozinhar. Existe também a diminuição da libido porque, em um relacionamento sexual, ocorre a liberação dos ferormônios, que chegam através do olfato. Aumenta ainda o risco da depressão e possíveis acidentes domésticos, na qual a pessoa pode esquecer da panela no fogo, ingerir comida estragada ou não sentir o cheiro de um vazamento de gás”.
O cheiro também tem uma ligação muito importante com a memória: é um perfume de alguém ou o cheiro da comida que lembra uma pessoa especial. “Não podemos minimizar a perda de olfato, ela pode gerar outros sintomas negativos na pessoa”, diz Azzam.
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