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Agressão a médicos é crescente

O crescente nível de estresse da população, aliado à superlotação das emergências, tem agravado um problema cada vez mais comuns nos hospitais, notadamente no serviço público: a agressão a médicos.

De acordo com o Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia – Sindimed, uma das situações mais graves é a dos médicos que fazem perícia para o INSS, tanto assim que esses profissionais já têm até o chamado “botão do pânico”, acionado diante de um caso de agressão ou ameaça.

O presidente do Sindimed, Francisco Magalhães, diz que, preocupada com a situação, a entidade está se preparando para formatar um banco de dados sobre os números dessas agressões, “inclusive orientando os médicos para que não deixem de registrar o fato policialmente, através de Boletim de Ocorrência.”

Magalhães destaca que o número de agressões é “muito maior em relação às mulheres médicas. Tenho colegas que vivem no fio da navalha devido a isso. O presidente do Sindimed conta que ele próprio já foi vítima de agressão, quando trabalhava na cidade de Euclides da Cunha, interior baiano: “O cidadão estava embriagado e me deu um soco. Eu instintivamente reagi, mas ele estava acompanhado de quatro amigos. Felizmente não houve nada de mais grave”.

Insegurança
O presidente do Sindimed argumenta que muitas vezes as pessoas, até por uma questão de caráter, já chegam à unidade médica com a predisposição de agredir. ”Contribui para agravar a situação o fato de a segurança nos hospitais privados ser meramente patrimonial. Os próprios agentes já avisam que estão ali apenas para proteger o patrimônio”, diz Francisco Magalhães.

Todavia, o Estado, através da Polícia Militar, mantém a Companhia de Saúde, composta por 163 policiais sob o comando do capitão Jadson e sediada na Secretaria de Saúde do Estado da Bahia –Sesab, no CAB.

O capitão Jadson explica que a companhia cobre 26 hospitais da rede SUS, “garantindo o acesso dos cidadãos aos locais e, ao mesmo tempo, criando um clima de tranquilidade e paz para médicos e enfermeiros.” Ele informa que possui uma média de dois policiais para cada unidade de saúde assistida.

“Com isso, conseguimos reduzir a incidência de agressões. Quanto aos fatores que levam a este tipo de comportamento, são diversos, mas apontamos como um dos principais o alto nível de estresse da população.”

Públicos
“Toda vez que um paciente agride a situação tem a ver com o estresse”, afirma o presidente da Associação de Hospitais e de Serviços de Saúde do Estado da Bahia-AHSEB, Ricardo Pereira Costa. “Às vezes é a fila grande, emergências lotadas etc. É muito comum as agressões partirem do acompanhante do paciente, que geralmente está nervoso e muito ansioso”, diz Ricardo.

Ele destaca ainda que a ocorrências de agressões “é muito mais comum nos hospitais públicos, muitas vezes até mesmo devido ao nível de instrução dos que procuram o serviço”.

Ricardo Pereira ressalva, porém, que a aplicação de critérios de pré-atendimento nas emergência ajuda a reduzir o estresse, e, consequentemente, situações de potencial risco de agressão.

Quase cem por cento dos hospitais privados têm adotado o critério no setor de triagem, onde, a depender da gravidade crescente da situação do paciente, há a classificação por identificação com as cores azul, verde, amarela, laranja e vermelha, sendo esta última o caso mais grave.

Ele explica que esse critério reduz a tensão provocada pelo excesso de pacientes nas emergências “já que muitos que ali estão na verdade não é exatamente um caso de emergência, podendo ser atendido depois, em consultas.”

O presidente da AHSEB disse que nunca sofreu uma agressão, mas já presenciou: “No início da minha carreira, no HGE, vi diversas ocorrências. Em uma delas, alguém se aborreceu ao esperar o médico atender a um caso mais grave e entrou na sala, batendo no rosto do profissional.”

Em São Paulo, 17% dos médicos já sofreram agressão
Uma pesquisa feita pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) revelou que 47% dos médicos conhecem um colega que sofreu algum episódio de violência na relação com pacientes. De acordo com a pesquisa, 17% foram vítimas e tiveram conhecimento de colegas que viveram a situação. A maioria era de médicos jovens (78% de 24 a 34 anos) e havia mulheres (8%) mais que homens (3%).

A pesquisa Percepção da Violência na Relação Médico-Paciente, divulgada hoje (9) pelo conselho, mostrou ainda que 5% relataram ter sido agredidos pessoalmente e que desses, 20% sofreram agressão física. Em 70% dos casos, os agressores foram os pacientes.

Segundo os dados, 84% dos médicos que sofreram agressão alegam ter sido atacados verbalmente e 80%, psicologicamente; 60% revelam que os problemas ocorrem geralmente durante a consulta; 32% dizem que episódios de violência ocorrem sempre ou quase sempre; e 85% profissionais têm percepção de que os episódios ocorrem mais no Sistema único de Saúde (SUS).

A pesquisa ouviu 617 médicos e 807 cidadãos em setembro e outubro deste ano, na capital e Interior do estado.

Quando se trata dos pacientes, a pesquisa mostra que 34% dos cidadãos afirmam ter passado por alguma situação de estresse no atendimento à saúde nos últimos 12 meses e 10% relatam ter tomado alguma atitude, como reclamar da qualidade do atendimento médico (6%) ou do atendimento na recepção (3%). Os que dizem ter presenciado situações assim são 35%, enquanto 14% presenciaram ameaças psicológicas e 4%, agressões físicas; 24% destes relatam que o estresse ocorre na recepção do local de atendimento; 9% em procedimentos médicos; e 5% na espera por atendimento.

Os dados divulgados pelo Cremesp revealm ainda que, os agressores apontam como principal motivo para terem agredido os profissionais foi o comportamento mal-educado, irônico ou desrespeitoso do médico ou o fato de o profissional ter demonstrado falta de atenção ou insensibilidade para ouvir o problema etc. Também houve relatos de despreparo e atendimento demorado.

Segundo o Conselho Regional de Medicina, desde maio, foram relatadas por médicos mais de 100 experiências de violência sofridas por parte dos pacientes. A entidade abriu um canal em seu site especialmente para coletar essas informações que são mantidas em sigilo.

Entre os médicos, 39% dizem acreditar que os pacientes estão descontentes com o SUS e descontam a insatisfação nos profissionais; 29% que a demora no atendimento provoca estresse no paciente e 11% atribuem o nervosismo à falta de estrutura da saúde. Já 5% admitem que outros colegas que não atendem adequadamente provocam essas reações.

Quando os cidadãos são questionados sobre isso, 41% dizem que a principal causa das agressões é o atendimento inadequado; 19% que se incomodaram com o comportamento e a postura dos médicos, alegando que eles não dão atenção, são insensíveis, arrogantes, não tem paciência e 18% reclamaram da falta de estrutura, do atendimento precário, da superlotação e demora para serem atendidos no pronto-socorro.

Enfermeiros também sofrem violência
Na mesma direção, a sondagem sobre a violência contra os profissionais de enfermagem em São Paulo, feita realizada entre 23 de outubro e 2 de dezembro, pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, perguntou a 4.293 profissionais quem já havia sofrido alguma violência. O resultado mostrou que 77% da classe já foi vítima de violência. Pela pesquisa, em igual percentual (77%), os enfermeiros destacam a falta de segurança no local de trabalho.

“É uma situação que se agrava paulatinamente, envolvendo uma população formada majoritariamente por mulheres, que representam 85% dos quadros da enfermagem. Essa particularidade requer atenção diferenciada das autoridades de segurança. Contra a violência, a receita é prevenção. Exige vontade política e também tolerância, resgate dos princípios e valores humanísticos”, disse a presidente do Conselho Regional de Enfermagem, Fabíola Braga Mattozinho.

De acordo com a pesquisa, em 53% dos episódios, o agressor foi o paciente. Os dados revelam que, mesmo sofrendo agressões, 87,51% dos profissionais não registraram queixa na polícia ou denunciaram o caso a qualquer órgão de governo. Dos 12,49% que levaram o caso adiante, somente 4,68% obtiveram sucesso na resposta.

Guerras
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – Febrasgo alerta que direção da Associação Médica Mundial (WMA) “está cada vez mais alarmada em função do aumento de ameaças contra médicos e outros profissionais da saúde pelo mundo”.

Segundo a Febrasgo, “as últimas informações de agressão indicam que os médicos que estão no Bahrein, Líbia, têm sofrido com a violência injustificada, que fere as leis do direito internacional.”

Junto à Anistia Internacional, a WMA solicita às autoridades do Bahrein que investiguem a fundo e com independência as agressões aos profissionais da saúde.

“Estamos recebendo grande quantidade de informes sobre a situação na Líbia e em outros lugares do Oriente Médio Oriente, México e Afeganistão, e sobre as agressões aos profissionais médicos e suas instalações. A WMA condena e considera estas ações intoleráveis e contrárias a diversos convênios internacionais” disse Wonchat Subhachaturas, presidente da WMA.

Fontes: http://www.tribunadabahia.com.br/; http://agenciabrasil.ebc.com.br/
Foto: Rin Johnson, via Flickr

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