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Estreia de documentário reabre debate sobre o parto: mães e especialistas pedem fim da violência obstétrica

Procedimentos como ‘corte vaginal’ já são considerados obsoletos: veja quatro práticas que passam a ser usadas com mais prudência pela medicina. Documentário ‘O Renascimento do Parto 2’ será lançado na quinta-feira (10)


Por Monique Oliveira, G1

Novas evidências científicas e demandas de movimentos de mulheres estão contribuindo para uma mudança na forma como o nascimento está sendo visto: em vez de um procedimento cirúrgico com hora marcada, o parto toma o seu curso fisiológico natural, digno de celebração. Nessa nova era do parto – na verdade, uma releitura de velhos tempos – a mulher é protagonista e as intervenções médicas, mínimas (desde que observadas todas as normas de segurança).

Nesta quinta-feira (10), o tema volta ao debate com a estreia de “O Renascimento do Parto 2”, um documentário independente que retoma os questionamentos lançados em 2013 na primeira versão do filme. Abaixo, o G1 mostra os avanços do parto humanizado no Brasil, descreve o que o filme vai apresentar e detalha uma lista com 4 práticas obstétricas que já são consideradas obsoletas.

A busca de um “renascimento do parto” é uma narrativa que começou a se formar na última década, e é muito positiva, segundo especialistas – embora não seja realidade para todas as mulheres, em todas as classes sociais e regiões.

O número de cesáreas continua nas alturas: no Brasil, mais da metade dos nascimentos ainda são cirúrgicos, segundo a Organização Mundial da Saúde. De acordo com as evidências, a OMS considera que em torno de 10% a 15% dos partos têm indicação, de fato, para a cesárea; nos demais casos, o parto normal deveria ser a primeira orientação.

Embora haja maior visibilidade para denúncias de violências e de procedimentos considerados desnecessários em muitos casos – a opinião de especialistas é que há que se considerar os avanços, mesmo que eles não sejam tão promissores assim: entre 2014 e 2015, o número de cesáreas teve uma queda tímida (1,5 percentual) pela primeira vez no Brasil desde 2010.

“Os profissionais de saúde também começaram a considerar que algumas práticas podem ser entendidas como violência e estão mudando sua postura”, diz Ana Cristina Duarte, obstetriz e coordenadora do Siaparto (Simpósio Internacional de Assistência ao Parto).

As especialistas citam duas diretrizes como sinalizadoras para um possível começo dessa nova era do parto: as metas do Ministério da Saúde e de entidades médicas para a diminuição do número de cesáreas e as novas diretrizes da Organização Mundial de Saúde para o nascimento, lançadas no início desse ano.

A OMS publicou um documento com o intituito de diminuir o uso desnecessário de intervenções médicas – entre eles, a cesárea e o uso abusivo de oxitocina (veja mais detalhes abaixo). Ambos procedimentos “economizam” o tempo da equipe hospitalar, mas nem sempre indicam benefícios para mulheres e bebês.

Na época, Nohemba Simelela, diretora-geral assistente para família, mulheres, crianças e adolescentes da OMS, sinalizou esse novo direcionamento da entidade.

Na esteira dessas novas narrativas sobre o parto, também o documentário “O Renascimento do Parto”, de direção de Eduardo Chauvet, tem sua segunda versão com estreia prevista para esta quinta-feira (10). Lançado com financiamento coletivo, o vídeo traz essa contradição dos tempos em que novos discursos convivem com práticas não tão novas assim. Ao lado de experiências positivas, mulheres lembram com dor e ressentimento de um momento que para elas deveria ter sido único e feliz.

Em uma das primeiras cenas, uma das mães tenta tocar o bebê – no que o responsável pelo procedimento, exclama: “Ishi, contaminou tudo”, diz. “Desculpa, eu não sabia”, diz a mãe, preocupada. Mais à frente, a mesma tela é povoada com cenas de mães em suas casas, dando a luz em piscinas, pegando elas mesmas os bebês logo que nascem.

Enquanto o vídeo mostra esses dois extremos – e nem todos os partos podem ser como da duquesa Kate Middleton – o objetivo é que, pelo menos, o Brasil vá em direção a algo entre os dois mundos para a maioria das mulheres.

Um parto feito com respeito ao curso natural; em que a mulher encontre um leque de opções para lidar com suas dificuldades com base nas melhores evidências científicas. Essa é uma meta considerada digna, apontam especialistas.

O ideal seria que a mulher escolhesse ter o filho em casa se assim desejasse – como muitas indicadas no filme – mas para se colocar metas mais realistas diante do contexto brasileiro, especialistas indicam voltar par o básico: a melhora da assistência e dos índices de parto normal.

Práticas obsoletas e novas evidências científicas
Enquanto muito do avanço da medicina contribuiu para uma menor mortalidade materna e maior sobrevivência dos fetos, o entendimento agora é que procedimentos demais e desnecessários podem incitar o contrário. “Há uma sutileza aí que precisa ser alcançada. Não se trata de eliminar a medicina, mas de considerar quando ela não é necessária”, diz Ana Cristina.

A médica Simone Diniz também aponta que a tendência é para um direcionamento em que médicos apenas observem o procedimento, com alguns direcionamentos pontuais. “A tendência é para uma intervenção mínima, com grande admissão para acompanhantes e doulas”, diz.

Leia a matéria completa e veja algumas práticas consideradas desnecessárias em muitos casos.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil