Família alega indiferença de unidades e pede nova necropsia.
Estava tudo pronto para a chegada de Alife Miguel. O enxoval completo aumentava a ansiedade da família pelo nascimento do bebê. Mas o sonho de conhecer o rosto do filho foi interrompido por supostos descaso e negligência da rede pública de saúde do DF, segundo a atendente Leideane Sá de Matos de Jesus, 23 anos, mãe da criança. Na última quarta-feira, ela deu entrada no Hospital Regional do Gama (HRG) para dar à luz e saiu, no sábado, sem o bebê nos braços.
Leideane estava com 40 semanas e três dias de gravidez quando foi ao Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), onde foi diagnosticada alteração na pressão arterial. Ela foi internada e encaminhada para a unidade do Gama, como relata o marido da atendente, o garçom Juvêncio de Souza Lisboa, 22 anos. “Na quinta-feira, os médicos do HRG informaram que não realizariam a cesária, pois o centro cirúrgico deveria ficar desocupado para casos mais graves”, diz o pai.
Parto normal
Juvêncio conta que, à noite, a pressão dela estava controlada e, ainda assim, não fizeram a cirurgia, alegando que ela era uma mulher grande e deveria ser induzida ao parto normal. “Nos informaram que o bebê estava bem. O problema é que a minha esposa tinha indicação para a cesariana devido ao tempo de gravidez”, complementa.
O pai diz que os médicos medicaram Leideane várias vezes para estimular o parto normal e verificaram os batimentos cardíacos do bebê com frequência. “Mas, no início da madrugada de sexta-feira, eles não conseguiram mais ouvir os batimentos, mas afirmaram que era problema no aparelho. Em seguida, levaram ela para a sala de radiografia e para o centro cirúrgico. Ela ainda teve que esperar outras cirurgias. Quando fizeram a cesária, meu filho nasceu morto”, completa.
Ponto de Vista
Segundo a Organização Mundial de Saúde, um quarto das gestantes apresenta anemia. Frequentemente, a principal causa é a deficiência de ferro, mas apenas se for severa e não tratada, pode causar baixo peso, problemas de crescimento, partos prematuros e abortos. Tampouco há limite para induzir o parto normal. Em caso de hipertensão, cabe ao médico avaliar a viabilidade de parto normal ou cesáreo.
Laudo aponta problemas no pulmão do bebê
Após a morte do bebê, o laudo da necropsia, feita no hospital do Gama, relatou problemas no pulmão do recém-nascido, mas Leideane não acredita nisso. Segundo ela, durante a gravidez, todos os exames foram feitos e nada foi detectado. “Eu sei que tem alguma coisa errada. Eles não deixaram ninguém entrar na sala de cirurgia comigo e não deixaram ninguém ver o corpo do meu filho. Eu não conheci meu bebê e meu marido só conseguiu vê-lo no sábado, depois que teve ajuda da Polícia Civil. Os médicos só me levaram para fazer a cesária quando perceberam a situação. Eles diziam para eu me preparar para tudo”, conta.
Leideane ressalta que a pressão alta não estava exagerada e que, durante a gravidez, teve uma anemia, que foi tratada e não afetou a saúde do bebê. “Querem colocar a culpa deles no meu filho sadio. Os médicos tiveram a capacidade de falar para o meu marido que tinha acontecido um pequeno problema”, completa. Apenas ontem, o corpo foi liberado pelo HRG para o IML. “Agora, eu exijo outra necropsia. O hospital não queria liberar o corpo de maneira alguma. Tivemos que acionar a polícia”, conclui Leideane, abalada. O enterro não tem data definida.
Versão oficial
O JBr. tentou obter posição da Secretaria de Saúde, que afirmou: “Não temos como informar detalhes do caso hoje (ontem). Precisamos consultar a guia de atendimento, o que não é possível hoje (ontem)”. No sábado, a direção do hospital do Gama informou que, confirmada a morte, o bebê foi levado para o setor de anatomia patológica e que um enfermeiro foi autorizado a levar os familiares até a área. “A direção esclarece que o bebê tinha má formações pulmonar e cardíaca. O atestado de óbito não foi emitido porque o laudo da necropsia não foi concluído”, completou a assessoria.
Fonte: Jornal de Brasília, publicação de segunda-feira, 1º de junho de 2015.