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O risco de a longevidade feminina ficar em segundo plano

As chances de a mulher envelhecer numa situação de fragilidade são grandes

Por Mariza Tavares, G1 Rio de Janeiro

A longevidade feminina permanece em segundo plano, mesmo quando se sabe que a expectativa de vida da mulher é maior. É por esse motivo que o tema se tornou uma prioridade para a médica, geriatra e gerontóloga Andrea Prates, com mais de 30 anos de experiência e que trabalha como consultora nessa área. “Isso não significa que a expectativa de saúde acompanhe a longevidade, a mulher convive mais tempo com doenças incapacitantes. A desigualdade entre os gêneros acompanha todo o curso de vida e vai impactar não só a saúde, mas também a renda”, afirma. Ela alerta para a necessidade de políticas públicas e de mudança de cultura nas empresas que corrijam essa distorção: “as mulheres precisam de apoio em momentos críticos da sua trajetória”. Alguns períodos são especialmente sensíveis: na adolescência, quando se inicia a fase reprodutiva, a educação sexual fará toda a diferença para evitar uma gravidez precoce e o abandono da escola. No ambiente de trabalho, a desigualdade salarial compromete a capacidade de poupar para o futuro. “Além de serem preteridas em promoções, veem a carreira estagnar ou retroceder nas pausas da maternidade”, acrescenta.

As questões de saúde que acompanham a menopausa a preocupam: “na fase madura, as transformações hormonais são intensas e a perda de massa óssea é mais rápida nas mulheres”. Um bom exemplo da invisibilidade feminina está no fato de durante muito tempo terem sido excluídas dos estudos sobre doenças cardiovasculares, embora a menopausa traga um risco cardíaco maior. “Ainda se costuma pensar na mulher após a menopausa como um ser assexuado”, comenta a doutora, “e elas acabam desprotegidas. Muitas não fazem sexo seguro, porque não têm risco de engravidar, e, como são consideradas assexuadas, não são alvo de programas de educação sexual. O resultado é que os números de Aids cresceram nessa faixa etária. Entre 2004 e 2013, três grupos etários de mulheres registraram aumento de detecção de Aids no Brasil: adolescentes, de 15 a 19 anos, com crescimento de 10,5%; mulheres de 55 a 59 anos, com aumento de 24,8%; e, acima de 60 anos, a maior taxa do período, de 40,4%”. Também na saúde mental há diferenças significativas entre os sexos: “os homens têm mais eventos psiquiátricos, mas as mulheres sofrem mais de ansiedade e depressão”, diz a especialista.

A mulher é, por excelência, a cuidadora: de filhos, marido, pais idosos, parentes enfermos e até dos netos. Se não tiver uma rede de proteção, as chances de envelhecer numa situação de fragilidade são grandes. Some-se a isso o preconceito que envolve o envelhecimento feminino: “a mulher sofre primeiro com o sexismo e, depois, com o preconceito porque não é mais jovem. Se for negra, as dificuldades são ainda piores”, enfatiza a doutora Andrea Prates. Entretanto, o aspecto positivo é que elas têm a seu favor a versatilidade e a capacidade de criar e alimentar relacionamentos: “as mulheres têm nas suas conexões sociais um capital valioso”, avalia. E acredita que essa nova geração madura é capaz de provocar mudanças: “o grupo acima dos 50 anos tem uma renda 40% maior que a média brasileira e normalmente cabe à mulher o poder de decisão nas compras, por isso sou otimista. Não é à toa que a Lancôme recontratou a atriz Isabella Rossellini, aos 65 anos, como sua garota-propaganda. Ela havia sido afastada das campanhas da empresa de cosméticos aos 42 porque foi considerada velha, mas as coisas já mudaram muito e o aspiracional de permanecer jovem para sempre não tem a mesma receptividade. Há beleza em todas as fases da vida e o importante é que a pessoa se sinta confortável. Nem a velhice se caracteriza por ser um grupo homogêneo: os indivíduos são muito diferentes aos 60, 70, 80 ou 90 anos. É, ao mesmo tempo, desafiador e fascinante”.

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