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'Voltei da morte e me descobri presa em meu próprio corpo'

O coração de Rikke Schmidt Kjaergaard parou de bater por 40 segundos por culpa de uma bactéria mortífera – e, a partir de então, ela passou por um coma, ficou enclausurada em seu corpo e batalhou dia a dia para se recuperar

Por BBC

 

Imagine descobrir-se, subitamente, preso em uma existência em que você não consegue falar, se mover ou mesmo respirar sem ajuda alheia.

O seu coração parou de bater na ambulância a caminho do hospital, o que significa que você tecnicamente morreu, mas os médicos conseguiram ressuscitá-lo.

Agora, você tem de encontrar um modo de conviver com a nova realidade: estar “preso” dentro de seu próprio corpo, que não responde aos seus comandos.

Sua família, devastada, é avisada pelos médicos a preparar o seu velório, e seu marido decide que vai soltar as suas cinzas na cidade britânica de Cambridge, um lugar onde vocês compartilharam momentos especiais.

E seus três filhos têm de, imediatamente, tomar medicamentos para prevenir que eles se contaminem com a mesma bactéria mortífera que afetou você.

Foi esse o cenário vivido pela cientista Rikke Schmidt Kjaergaard, então com 38 anos, no primeiro dia do ano de 2013 – tudo em “um piscar de olhos”, frase que virou o título de seu recém-lançado livro de memórias (The Blink of an Eye, no original em inglês).

5% de chances de sobrevivência

“Em um intervalo de 12 horas, eu fui de me sentir mal a entrar em coma”, ela conta. “Tive falência múltipla de órgãos, choque séptico, centenas de coágulos no sangue. As minhas chances (de sobrevivência) eram muito, muito pequenas.”

Os médicos estimaram em 5% a possibilidade de ela sobreviver à meningite bacteriana que a acometera, causada pela mortífera bactéria Streptococcus pneumoniae.

Rikke – que é dinamarquesa e vive em Copenhague – ficou dez dias em coma, sob risco de danos cerebrais.

E, à medida que saía do coma, descobriu-se consciente, mas incapaz de usar seu próprio corpo.

Algo vai mal

Peter, seu marido, foi o primeiro a perceber que algo ia mal.

Tudo começou quando Rikke começou a se queixar de frio depois de um passeio familiar e foi se deitar. Mas logo começou a sentir febre e a vomitar.

“Peter percebeu antes de mim que as coisas não iam bem”, diz ela à BBC News. “Eu tentava dizer a ele que estava apenas gripada.”

Peter acrescenta, se voltando à mulher: “Você não estava em condição nenhuma de perceber o quão doente estava. A última coisa que você me disse antes de entrar em coma foi ‘Lembre-se de cancelar a sessão de massagem’.”

Não havia nenhuma sessão marcada – Rikke já estava delirando àquela altura. Sua temperatura havia subido de 35ºC a 42ºC em apenas 15 minutos.

A família chamou um médico, que prescreveu medicamentos para a gripe. Mas, na manhã seguinte, Rikke não conseguia sequer se sentar. Mais um médico foi examiná-la – e, a essa altura, sua sobrevivência já estava a perigo.

“Se (ele tivesse chegado) dez minutos depois, nós não estaríamos juntos hoje”, conta Peter.

‘Tudo escureceu’

No caminho ao hospital, o coração dela parou de bater por 40 segundos.

“É um tempo longo”, ela diz. “Não tenho nenhuma lembrança disso. Tudo havia escurecido – não havia nada.”

Peter conta que, a partir disso, ouviu da equipe médica que deveria se preparar para o momento em que seriam desligados os aparelhos que mantinham sua mulher viva. “Todo o mundo achou isso ia acontecer (a morte de Rikke).”

“Mas ela é muito teimosa”, ele acrescenta, sorrindo. “Ela não aceitou abandonar a vida.”

Piscar para se comunicar

Ao recuperar a consciência, a gravidade do quadro de Rikke começou a se formar.

“Com o tempo, fui percebendo o que estava acontecendo”, ela relembra. “Percebendo que eu não conseguia me mexer ou falar. É terrível a sensação de ficar presa ao seu corpo.”

Peter certo dia perguntou a Rikke se ela conseguia vê-lo, e notou que ela piscou. “Foi quando percebemos que ela ainda estava responsiva”, conta. “Saber que não tínhamos perdido ela… foi um dos momentos mais bonitos da minha vida.”

A partir daí, começaram a se comunicar com piscadelas: uma era “não”, duas eram “sim”.

“Foi um alívio descobrir que eu conseguia me comunicar”, diz Rikke. “Mas, ao mesmo tempo, era tão difícil conseguir fazê-lo.”

Leia a reportagem completa clicando aqui.

Foto: Kathrin Philip/BBC

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