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Estudo avalia eficácia do exame de sangue na prevenção de infarto

Exame sanguíneo permitiria ao médico intervir na saúde do paciente antes de a doença avançar

Por Folha de Londrina

O infarto agudo do miocárdio é a primeira causa de morte no País e as doenças do coração têm levado muitos brasileiros a óbito. A cada hora, 40 pessoas morrem em decorrência de problemas cardíacos, ultrapassando o número de 300 mil vítimas ao ano. Em todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento do mundo, as doenças coronarianas, como ataques cardíacos e AVC (acidente vascular cerebral), lideram as causas de mortalidade entre a população. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2017 foram mais de 17 milhões de mortes no mundo.

Nem todos os problemas do coração apresentam sintomas e, atualmente, há apenas duas formas de diagnóstico. O mais acessível é o teste ergométrico, que avalia o sistema cardiovascular sob esforço, mas só é capaz de detectar a obstrução das coronárias, arritmia, falta de ar ou cansaço quando 70% a 80% das veias e artérias do coração já estão comprometidas, ou seja, em estágio avançado, resultando em pouca eficácia na prevenção.

A outra forma de diagnóstico é a tomografia de coronárias, bem mais eficiente porque consegue identificar a formação de placas na fase inicial. Mas além de ser caro por exigir equipamento especial e médico especializado nesse tipo de laudo, o que o faz acessível apenas a uma pequena parcela da população, o exame contém radiação. No Brasil e no mundo ainda são poucos os centros de diagnóstico que oferecem o exame.

Um estudo liderado pelo cardiologista Eduardo Pesaro, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, de São Paulo, aponta para uma nova possibilidade de diagnóstico de lesões arteriais que futuramente pode contribuir para evitar doenças como infarto do miocárdio. A fase inicial da pesquisa, realizada com 130 pacientes, mostrou que com uma pequena amostra de sangue é possível detectar a formação de placas de gordura e cálcio nas artérias do coração precocemente.

No estudo foram avaliados cem pacientes com doença inicial nas artérias do coração, identificada pela tomografia de coronárias, e 30 pacientes saudáveis, sem nenhum problema cardíaco. Foram comparadas oito proteínas da corrente sanguínea específicas entre esses dois grupos e os pesquisadores identificaram dois marcadores sanguíneos que estavam mais elevados nos pacientes com doenças do coração do que nos pacientes saudáveis. “Essas duas proteínas são proteínas reguladoras da calcificação das artérias, que é um dos componentes do entupimento das artérias do coração”, explicou Pesaro.

O cardiologista compara a atuação das duas proteínas a “bandido e mocinho”. A proteína RANKL seria o vilão porque predispõe ao depósito de cálcio nas artérias enquanto a MGP tem efeito contrário e age retirando o cálcio depositado. “Ambas, simultaneamente, estavam elevadas nos pacientes, mostrando a ativação exacerbada da regulação do cálcio em quem tem a doença precoce. Desse modo, a gente tem um resultado positivo e consistente em uma amostra entre pequena e moderada de pacientes”, concluiu Pesaro.

Segundo o médico, os resultados devem ser reproduzidos em estudos de escala maior, a partir de mil ou dois mil pacientes, para confirmação dos achados. Após essa segunda fase, que levaria de quatro a cinco anos para ser concluída, os exames feitos a partir de amostras sanguíneas poderiam vir a ser comercializados. “Como esses pacientes que nós descobrimos com doença do coração tinham cálcio já moderado, a gente vê que os exames de sangue estavam aumentados já na doença inicial para moderado, mas, seguramente, abaixo dos 50%. O exame de sangue é para pegar de zero a 50%, a primeira fase da doença”, destacou o cardiologista. No momento, os pesquisadores do Albert Einstein tentam captar recursos para avançar para a próxima fase do estudo.

Na prática, o exame sanguíneo permitiria ao médico intervir na saúde do paciente antes de a doença avançar, com a prescrição de remédios para redução do colesterol, medicação para diminuição da coagulação do sangue e também o convencimento maior e mais potente do paciente de que ele já tem uma predisposição para desenvolver a doença e deve mudar sua rotina. “O paciente vai ser mais rigoroso com os hábitos que nós sabemos que são benéficos: dieta pobre em gordura, exercício físico, interrupção de cigarro, adesão aos check-ups anuais etc.”

 

Foto: Folha Arte

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