Soldados preferem agora bebidas energéticas à companhia dos maços de cigarros. Mas os efeitos na sua saúde continuam a ser negativos
Por Diário de Notícias
Comportamentos agressivos, problemas de saúde mental e cansaço revelados por militares nos primeiros sete meses de regresso a casa, após estarem em missões de combate, estão “significativamente relacionados” com o consumo diário de duas ou mais bebidas energéticas.
Esta conclusão consta de um estudo feito por psicólogos militares dos EUA, publicado recentemente pela revista Military Medicine, que acompanharam 627 soldados – todos homens – durante os primeiros sete meses de regresso a casa, depois de estarem um ano no Afeganistão.
Esse é o dobro do tempo que os soldados portugueses destacados no Afeganistão e nos outros teatros de operações, onde o seu acompanhamento por psicólogos militares começa semanas antes de terminar a missão. Porém, “não há estudos” sobre o efeito das bebidas energéticas nos militares, disse ao DN o tenente-coronel Garcia Lopes, chefe do Núcleo de Apoio e Intervenção Psicológica (NAIP) do Exército.
“A bebida energética está disponível nos teatros de operações” e por isso “é natural” que os militares, em função do treino físico intenso e por fazerem turnos noturnos, consumam essas bebidas “como quem bebe dois cafés”, explicou Garcia Lopes.
“Não sei se [elas] são matérias viciantes”, mas o seu consumo “faz algum sentido no âmbito da atribuição de missões de elevada exigência e risco”, observou ainda o psicólogo clínico militar.
Estudar efeitos noutros grupos profissionais
Esse consumo diário de duas ou mais bebidas energéticas está “significativamente relacionado com problemas de saúde mental, comportamentos agressivos e cansaço” e, segundo a principal responsável da investigação, Amy Adler, importa compreender melhor o efeito dessas bebidas noutras áreas de atividade com elevados níveis de stress.
“Pode haver outros grupos de alto risco, como polícias, bombeiros, socorristas ou outros” em que o consumo da cafeína possa ter também efeitos negativos, admitiu Amy Adler, citada pelo canal ABC11. “São grupos a que queremos prestar atenção porque pode haver uma maneira de minorar os problemas de saúde mental” existentes, acrescentou.
Compreender melhor a fase de transição dos militares entre a fase da estada em áreas de combate e o regresso a casa foi o ponto de partida do estudo feito pelos psicólogos do Instituto de Pesquisa do hospital militar norte-americano Walter Reed (Exército).
Mas após os primeiros dias de observação, “questionámo-nos sobre a absoluta prevalência” do consumo de bebidas energéticas com cafeína em soldados “muito jovens”, referiu aquela psicóloga militar.
Do total de 627 soldados seguidos pelo hospital Walter Reed, 75,7% disseram consumir bebidas energéticas – dos quais 16,1% duas ou mais por dia. Neste universo em particular, a par dos problemas de saúde mental registava-se uma “associação paradoxal com a fadiga”, concluíram os investigadores.
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