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Estudo aponta que suicídio entre adolescentes pode ser contagioso

Ter colegas mortos ou que tentaram suicídio pode levar os adolescentes a cometer o mesmo ato

Por Galileu

Nestas últimas semanas de março, dois estudantes que sobreviveram ao tiroteio na escola de Marjory Stoneman Douglas em Parkland, na Flórida (EUA), cometeramsuicídio, ampliando a tragédia vivida pela comunidade – em 2018, um assassino entrou atirando no colégio, deixando 17 mortos e 15 feridos. Isso seria outro exemplo de um fenômeno que alguns apelidaram de “contágio suicida”?

Pesquisas mostraram que a ideia de suicídio tem potencial de se espalhar pelas redes sociais. Quem é exposto à tentativa de suicídio ou perde um amigo por tal maneira, tem mais riscos de ter pensamentos suicidas.

As consequências podem ser devastadoras para as famílias, colegas e até toda uma cidade, que se esforçam para entender por que suicídios seguidos ocorreram. Nos últimos anos, isso aconteceu em Newton, Massachusetts, e em Palo Alto, na Califórnia (EUA).

Mas o papel do contágio é, talvez, um dos aspectos menos compreendidos do suicídio. Isso nos coloca em uma desvantagem significativa quando se trata de criar estratégias para prevenir a sua disseminação.

Nosso estudo de 2015 examinou se quem sabia que um colega tentou suicídio foi influenciado a tentar tirar a própria vida. Usando dados longitudinais, descobrimos que os adolescentes que sabem sobre a tentativa suicida de um amigo são quase duas vezes mais propensos a tentar o suicídio um ano depois. E o jovens que perdem um conhecido para o suicídio correm ainda mais risco.

Curiosamente, os adolescentes cujos colegas não lhes contaram sobre as tentativas de suicídio não tiveram um aumento significativo no risco.

Prevenção

Nossa pesquisa tem várias implicações interessantes. Primeiro, saber da tentativa ou morte parece mudar o risco de maneira significativa. Estamos todos expostos ao suicídio em algum momento, seja lendo Romeu e Julieta ou assistindo aos noticiários.

Contudo, a exposição direta parece transformar a ideia distante de suicídio em algo muito real: um roteiro cultural significativo e tangível, no qual os jovens poderiam seguir para lidar com a angústia.

Em segundo lugar, seguindo o ditado “pássaros de uma pena voam juntos”, alguns argumentam que os adolescentes deprimidos podem fazer amizade uns com os outros, o que explica por que alguns grupos têm taxas de suicídio semelhantes – e que contradiz a teoria do “contágio suicida”.

No entanto, nossos dados indicam que o contágio não é somente um produto de jovens que fazem amizades com pessoas vulneráveis ​​ao suicídio. Se o contágio não importasse, saber sobre as tentativas também não importaria. Em vez disso, é aparente que, se os jovens souberem da tentativa de suicídio de amigos, o risco de tentar tirar a própria vida aumenta.

O que fazer?

O suicídio não é produto de uma doença psicológica. A exposição ao ato, mesmo que seja apenas uma tentativa, é emocionalmente devastadora. Os adolescentes precisam de apoio quando lidam com os complexos sentimenos que se seguem. Por isso, a prevenção – ou, como às vezes é chamada, “estratégias de pós-intervenção” – torna-se crucial.

Uma implicação do nosso estudo é que durante as exibições de risco de suicídio, os jovens sempre devem ser questionados se conhecem ou não alguém que tenha tentado ou morrido de tal maneira. Ferramentas confiáveis ​​para acompanhar adolescentes incluem perguntas sobre a exposição ao suicídio.

Isso parece razoável. Mas as coisas ficam obscuras. Dado o que nossa pesquisa mostrou, é natural se perguntar se alguém que tentou suicídio deve ou não ser desencorajado a falar sobre isso. Existe o medo de que, se falarmos sobre o tema, possamos estar inadvertidamente promovendo-o.

Ao mesmo tempo, se encorajarmos as pessoas a não falarem, podemos perder oportunidades de ajudar quem está sofrendo. Além disso, sentir-se pertencente a um grupo – apoiado por amigos e familiares, ter uma vida social saudável – é essencial para a prevenção. Se encorajarmos os jovens a não falarem sobre o problema, podemos, sem querer, aumentar os sentimentos de isolamento, o que contribui para o risco de suicídio.

Saúde

Devido ao estigma generalizado de doença mental e suicídio, muitas vezes é difícil para as pessoas admitirem que precisam de ajuda. Ao invés de encorajar o silêncio, pode ser melhor treinar os adolescentes para como responder quando um amigo revela uma tentativa ou pensamentos suicidas.

Além disso, é importante que pais, professores e especialistas se sintam à vontade para falar sobre suicídio; eles precisam ser bem versados nas respostas adequadas e perceber que uma tentativa de suicídio pode ter um efeito cascata que reverbera além de um indivíduo.

Afinal de contas, quando os adolescentes são deixados sozinhos para lidar com a angústia de seus colegas, eles se tornam mais vulneráveis a sucumbir à mesma ideação e comportamento.

Precisa de ajuda?

Se perceber que alguém apresenta comportamento suicida, não deixe a pessoa sozinha; remova álcool, drogas, medicamentos ou objetos afiados que possam ser usados em uma tentativa de suicídio; procure ajuda de um especialista em saúde mental ou em um pronto atendimento.

No Brasil, contate o Centro de Valorização da Vida pelo telefone 141 ou pelo email [email protected].

 

FOTO: PEXELS/CREATIVE COMMONS