Astrônomos encontram moléculas de H20 na atmosfera de K2-18b. Com a descoberta, o exoplaneta se torna o primeiro candidato provável a abrigar algum tipo de vida extraterrestre
Por Correio Braziliense
A vida como se conhece depende de um elemento-chave, que vem sendo buscado avidamente por astrônomos no restante do Universo: H2O. Agora, pela primeira vez, um grupo de pesquisadores da Universidade College London (UCL), na Inglaterra, detectou sinais de vapor d’água na atmosfera de uma super-Terra — planeta fora do Sistema Solar, maior que a Terra, mas menor que os gasosos — dentro da zona habitável de um sistema estelar. Isso significa que, ao menos teoricamente, ele tem condições físicas e químicas de abrigar algum tipo de vida extraterrestre.
Trata-se do K2-18b, exoplaneta descoberto em 2015 que tem massa oito vezes superior à da Terra e é orbitado por uma estrela anã vermelha a 110 anos-luz daqui, na constelação de Leão. Desde que ele foi identificado pela já aposentada sonda Kepler, os cientistas sabiam que o K2-18b poderia ser coberto por oceanos líquidos. Contudo, só agora, a partir de dados coletados pelo Telescópio Espacial Hubble, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), se confirmou que o planeta não apenas tem água, como ela está na atmosfera, e não congelada, como a detectada em Marte.
“O planeta está numa zona habitável. Isso significa que ele pode suportar água líquida. É o primeiro planeta conhecido que está fora do Sistema Solar, está na zona habitável, tem uma atmosfera e suporta água líquida, fazendo dele o melhor candidato para habitabilidade até agora”, afirmou, em uma coletiva de imprensa, Angelos Tsiaras, professor de física e astronomia da UCL e um dos autores do estudo. O artigo sobre a detecção de vapor d’água no K2-18b foi publicado na edição desta quinta-feira (13/9) da revista Nature Astronomy.
A maioria dos 4.109 exoplanetas detectados até o fim de agosto consiste em gigantes gasosos, semelhantes a Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Compostos basicamente por gás, eles não poderiam abrigar água, especialmente no estado líquido. Os melhores candidatos são os planetas menores e rochosos, com uma extensa atmosfera. Angelos Tsiaras ressalta: esse não é uma segunda Terra.
O K2-18b é oito vezes maior, leva 33 dias (contra 365) para dar a volta completa em sua estrela e tem uma composição atmosférica diferente. “Mas nos coloca mais perto de responder uma questão fundamental: a Terra é única?”, diz. Segundo o astrofísico, embora a estrela que ele orbita tenha metade do tamanho do Sol, o nível de radiação que chega ao planeta é similar ao da Terra, fazendo com que a temperatura do K2-18b seja semelhante.
Outros elementos
Para detectar o vapor d’água, os pesquisadores valeram-se de dados capturados pelo Hubble entre 2016 e 2017 e desenvolveram um algoritmo capaz de analisar a luz estelar filtrada através da atmosfera do planeta. Os resultados revelaram não apenas a assinatura de moléculas de vapor d´água, mas a presença de hidrogênio e hélio, embora a primeira, provavelmente, seja responsável por 50% da composição.
De acordo com os pesquisadores, é possível que outros elementos, como nitrogênio e metano, também estejam presentes, mas os métodos disponíveis de observação ainda não permitem confirmá-los. A expectativa é de que a nova geração de supertelescópios espaciais, como os esperados James Webb, da Nasa, e Ariel, da Agência Espacial Europeia, consigam decifrar detalhadamente a atmosfera de objetos distantes.
“Com tantas novas super-Terras que esperamos encontrar nas próximas décadas, é provável que essa seja a primeira descoberta de muitos planetas potencialmente habitáveis. Isso não só porque super-Terras como o K2-18b sejam os planetas mais comuns da nossa Via Láctea, mas também porque anãs vermelhas — estrelas menores que nosso Sol — são as estrelas mais comuns”, acrescenta Ingo Waldmann, astrofísico da UCL e coautor do artigo.
“Nossa descoberta faz do K2-18b um dos mais interessantes alvos para estudos futuros. Mais de 4 mil exoplanetas já foram detectados, mas não sabemos muito sobre sua composição e natureza. Ao observar uma grande amostra de planetas, esperamos revelar segredos sobre sua química, formação e evolução”, disse, em nota, a astrofísica Giovanna Tinetti, coautora do artigo e principal cientista do projeto Ariel, supertelescópio espacial que deverá entrar em órbita em 2028.
Foto: M. KORNMESSER/afp