Pesquisa com quase 3 mil mulheres mostrou que 43% tinham idade inferior a 50 anos no momento do diagnóstico do tumor
Por Gazeta
No Brasil, a mamografia de rotina é feita entre 50 e 69 anos de idade, de forma bianual, pela recomendação do Ministério da Saúde. Mas uma pesquisa feita com 2.950 mulheres, de 22 centros de saúde em nove Estados, que descobriram o tumor entre janeiro de 2016 e março de 2018, mostrou que 43% delas tinham idade inferior a 50 anos no momento do diagnóstico. Das que tinham menos de 40 anos, 36,9% estavam no estágio 3 da doença, considerado localmente avançado.
O estudo reacendeu o debate sobre a necessidade de se baixar esse limite de idade para o exame periódico, que é uma das principais formas de diagnóstico do câncer de mama. Uma mudança que é defendida pela maioria das entidades médicas. E também já colocada em prática nos consultórios médicos da rede particular. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), uma mulher só faz a mamografia antes dos 50 anos se for do grupo de risco.
A pesquisa foi realizada pelo Grupo Latino-Americano de Oncologia Cooperativa, uma organização não governamental que reúne 147 pesquisadores de 70 instituições, juntamente com o Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama e apoio do Instituto Avon.
O câncer de mama em mulheres abaixo dos 50 anos, de fato, não é tão comum. A estatística gira em torno de 10% dos casos. No entanto, quando ocorre nessa faixa etária, a doença costuma ser mais agressiva.
“De fato, existe esse conflito entre as sociedades brasileiras e o Ministério da Saúde, que vê de forma geral a saúde pública, vê o gasto. A incidência maior do câncer de mama é acima de 50 anos. Mas as sociedades brasileiras preconizam acima de 40 anos de idade sim”, afirma a oncologista Fernanda César de Oliveira.
A médica defende que o exame seja feito mais precocemente. “Eu acho que devemos lutar pela mamografia de rastreio início aos 40 anos . Apesar de eu ser uma apaixonada pelo estudo da medicina para países com menos recursos, eu considero investimento na medicina de base , rastreio a forma mais inteligente de economizar e ainda , ser mais efetivo no tratamento em si . Tratar uma doença inicial é mais barato e tem maior chance de cura”, comenta ela.
Carlos Rebello, rádio-oncologista do Instituto de Radioterapia Vitória (IRV), é da mesma opinião. “A ideia do rastreamento é pegar uma doença numa fase que a gente chama de subclínica, isto é, uma fase em que a doença está assintomática e, com, isso, aumentar a possibilidade de chance de cura. Acima de 40 anos de idade, a mortalidade de câncer de mama é de 30% para as pacientes. Por isso a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia recomenda o rastreamento a partir dos 40 anos anualmente. De forma geral, no dia a dia, a gente pede a partir de 40 anos de forma anual ou bianual dependendo da paciente. Aquelas com histórico familiar, a gente orienta que seja feito a partir dos 35 anos de idade”, diz ele.
A ideia, de acordo com o especialista, é descobrir a doença ainda numa fase assintomática para que a chance de cura seja maior e o tratamento, menos agressivo para a paciente.
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