Profissional de Educação Física explica por que pandemia pode ser ainda mais prejudicial para crianças e adolescentes com comportamento sedentário
Por Globo Esporte
A experiência única que nossa geração está vivendo está servindo para inúmeras reflexões. Como Educador Físico, refleti muito sobre o impacto que o isolamento social e a consequente redução na movimentação diária causariam no desempenho acadêmico e na saúde mental dos estudantes. Nossa sociedade já vive uma pandemia de sedentarismo desde 2012, estando entre as cinco maiores causas de morte no mundo. Antes da pandemia, dados da Organização Mundial da Saúde informam que três a cada quatro crianças e adolescentes estão sedentários. Essa pandemia e as restrições sociais por ela determinadas impuseram uma redução acentuada na movimentação diária e na socialização, refletindo fortemente na saúde mental e na capacidade cognitiva dos estudantes, tornando-os mais suscetíveis a transtornos de humor e queda no rendimento acadêmico.
Um bom desempenho acadêmico depende de uma boa atividade cerebral e física, garantida pelo suprimento de oxigênio e nutrientes, alem de sono adequado, o que está diretamente ligado à forma como vivemos (estilo de vida). E essa pandemia alterou diretamente nosso estilo de vida.
O impacto do estilo de vida no desempenho acadêmico já foi evidenciado pela ciência antes do coronavírus e está sendo fortalecido durante este momento, demonstrando que crianças e adolescentes com alto tempo diário em comportamento sedentário e baixa aptidão física possuem menores desempenhos acadêmicos, quando comparadas às mais ativas.
Para confirmar essa tendência, pesquisadores americanos publicaram, em 2017, na revista cientifica Pediatric Exercise Science, um estudo que observou se a mudança na aptidão física estava relacionada ao desempenho acadêmico, demonstrando que a queda na aptidão aeróbica estava diretamente relacionada à redução do desempenho acadêmico em adolescentes. Eles destacaram em suas conclusões o quanto é importante ter uma vida ativa para bom comportamento estudantil e sua relevância na elaboração das políticas educacionais. Esta pesquisa pode ser uma boa referência para analisar o que pode estar acontecendo com os estudantes durante o isolamento social.
A ciência que nos mostra os problemas também nos aponta possíveis soluções para melhorarmos nossa vida. Um grupo de pesquisadores austríacos foi buscar maneiras de reduzir o impacto do excesso de tempo parado assistindo a aulas na fadiga e no desempenho escolar. Eles propuseram que fazer pequenos estímulos físicos de seis minutos (corrida no mesmo lugar e polichinelos) nos intervalos de 20 minutos entre aulas e foram capazes de reduzir a fadiga mental, aumentando a vitalidade durante as aulas. Esta pesquisa, publicada em 2018, nos apresenta uma forma simples de utilizar os intervalos entre aulas como potencializador do desempenho acadêmico, visto que o grupo de estudantes que foi orientado a ficar sentado durante o intervalo fazendo o que quisesse (ex: conversando ou no celular) apresentou fadiga maior e menor vitalidade no decorrer da aula quando comparado ao grupo que ‘’ativou’’ por seis minutos.
Como nós ainda não temos uma ideia clara do momento seguro para o retorno das aulas presenciais, as escolas, através dos educadores físicos e gestores educacionais, devem atuar de forma proativa para evitar que o excesso de tempo sedentário característico do isolamento social não cause redução no potencial das crianças e adolescentes, impactando seus futuros educacionais.
O papel dos pais e escolas na missão de reduzir o sedentarismo infanto-juvenil se apresenta, após essa experiência, como muito importante para que crianças e adolescentes se desenvolvam dentro do esperado, tornando-os saudáveis, resilientes, ativos e felizes.
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