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Benefícios da vacina AstraZeneca superam riscos, sugere modelo estatístico

Estudo europeu mostra que suspensão do imunizante na França e na Itália por três dias – sem substituí-lo por outro – causou mais mortes pelo novo coronavírus

Por Revista Galileu

Quando um pequeno número de casos de trombose venosa profunda (TVP) foi notificado entre europeus que receberam a vacina da AstraZeneca nos últimos meses, alguns países decidiram suspender o uso do imunizante contra a Covid-19. Mas não escaparam de um questionamento: será que os riscos associados ao produto são mesmo capazes de superar seus benefícios? De acordo com um novo modelo estatístico europeu, não – e a sua interrupção pode estar inclusive prejudicando o controle da pandemia.

No estudo, publicado na última terça-feira (27) no periódico científico Chaos, cientistas fizeram uso de um modelo epidemiológico clássico chamado SEIR. A partir dele, foi possível investigar se a pausa na aplicação da vacina, desenvolvida junto à Universidade de Oxford, mesmo por um curto período, poderia levar a mortes adicionais pelo novo coronavírus em dois países que optaram por interromper seu uso, França e Itália.

Já que a relação entre a vacina da AstraZeneca e casos de coágulo sanguíneos ainda é incerta, os pesquisadores compararam a estimativa ao pior cenário de efeitos adversos do produto. Assim, o modelo se baseou na hipótese de que todas pessoas que recebessem o imunizante seriam acometidas pela TVP, a fim de fornecer um “limite superior robusto” para a compreensão do panorama.

A análise concluiu que os benefícios da aplicação do imunizante superam “em muito” os riscos associados, especialmente onde a taxa de reprodução do vírus é maior – no caso, na Itália. “Nosso trabalho mostra que a suspensão da vacinação da AstraZeneca na França e na Itália por três dias, sem substituí-la por outra vacina, levou a cerca de 260 e 130 mortes adicionais, respectivamente”, relata Davide Faranda, cientista do Laboratório de Matemática de Londres (LML), no Reino Unido, em comunicado.

De acordo com o pesquisador, a diferença entre o número de óbitos estimado para os dois países se deve às particularidades epidemiológicas de cada região, como o número de reprodução R – que determina o potencial de propagação do vírus dentro de determinadas condições. À medida que se passavam os dias desde a proibição da vacina, decretada em 15 de março de 2021 na França e na Itália, o cenário de mortes por Covid-19 piorou.

O modelo estatístico também avalia que, mesmo na hipótese de retomada da administração da AstraZeneca, o excesso de mortes ainda ficaria na mesma ordem de magnitude que aqueles observados anteriormente por um período de dias igual ao de interrupção da vacina. Segundo o estudo, um “mecanismo de cascata” estaria por trás desse resultado, já que os cidadãos que não foram vacinados podem contaminar outros indivíduos antes do retorno. Para contrabalançear o cenário, os pesquisadores sugerem que será necessário “dobrar” o número de vacinas aplicadas diariamente nesses países.

Outra questão também exigiria “esforços de vacinação difíceis de definir em tempo oportuno”: a retomada da confiança da população na vacina da AstraZeneca após sua interrupção. “Nesse sentido, nossas estimativas tendem a ser conservadoras e podem subestimar o excesso de óbitos decorrente da descrença nas políticas de vacinação observadas nos maiores países europeus”, avalia o estudo.

Os pesquisadores esperam que os resultados sejam o ponto de partida para modelos estatísticos mais sofisiticados e novas coletas de dados, a fim de auxiliar na tomada de decisões e estratégias de combate à pandemia adotadas mundo afora, especialmente “em condições de grandes incertezas a nível de saúde e de resposta social.”

Foto: Ali Raza/Pixabay