Ao estudar a evolução do material genético humano, cientistas descobriram vestígios de uma doença que teria atingido atuais regiões como a China, a Mongólia e o Japão
Por Revista Galileu
Cientistas estudaram a evolução do genoma humano e identificaram vestígios de uma grande epidemia de coronavírus que eclodiu há 20 mil anos, na região da Ásia Oriental. A equipe de pesquisa utilizou dados do Projeto 1.000 Genomas, o mais detalhado catálogo sobre a variação genética humana já criado.
Os resultados do estudo foram publicados na quinta-feira (24) no jornal científico Current Biology. Contribuíram com a descoberta especialistas da Universidade do Arizona e da Califórnia, ambas nos Estados Unidos, e da Universidade de Adelaide, na Austrália.
Foram analisadas na pesquisa as mudanças nos genes codificantes das proteínas que interagem com o vírus Sars-CoV-2. Então, os cientistas sintetizaram tanto as proteínas desse coronavírus quanto outras que são comuns em seres humanos. Notaram, por fim, que as amostras davam sinais de como o agente infeccioso invade as células humanas.
Os pesquisadores descobriram, então, que os povos ancestrais do Leste Asiático sofreram de uma doença causada por um vírus semelhante ao que causa a Covid-19. Além do mais, notaram que a epidemia atingiu áreas que hoje correspondem a China, Japão, Mongólia, Coreia do Norte, Coreia do Sul e Taiwan.
Enquanto a doença se alastrava, uma seleção natural evolutiva acabou favorecendo genes humanos com mudanças adaptativas favoráveis. Possivelmente, isso fez com que a enfermidade atingisse a população de modo menos grave ao decorrer do tempo, segundo aponta Kirill Alexandrov, que contribuiu com o estudo, em comunicado.
“O genoma humano moderno contém informações evolutivas que remontam a dezenas de milhares de anos, assim como estudar os anéis de uma árvore nos dá uma visão das condições que ela experimentou enquanto crescia”, compara Alexandrov.
Ainda segundo o especialista, descobrir informações sobre vírus antigos pode ajudar a aumentar a percepção que se tem de como o genoma de populações humanas ancestrais se adaptou a outros invasores mais recentemente reconhecidos. “Isso, em princípio, nos permite compilar uma lista de vírus potencialmente perigosos e, em seguida, desenvolver diagnósticos, vacinas e medicamentos para o caso de seu retorno”, conta.
Além do Sars-CoV-2, nos últimos 20 anos, outros coronavírus causaram epidemias, como é o caso do vírus da síndrome respiratória aguda grave (Sars), que se originou na China em 2002 e matou mais de 800 pessoas. Outra ocorrência foi a do Mers-CoV, agente causador da síndrome respiratória do Oriente Médio, que matou mais de 850 pessoas, após ser identificada em 2012.
Foto: Gov.uk