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Pela 1ª vez, técnica CRISPR é injetada no sangue para tratar doença rara

Em ensaio com seis pacientes, procedimento foi capaz de reduzir em até 96% produção de proteínas tóxicas que podem causar problemas cardíacos e gastrointestinais

Por Revista Galileu

Pesquisadores das empresas norte-americanas de biotecnologia Regeneron Pharmaceuticals e Intellia Therapeutics conseguiram, pela primeira vez, aplicar o sistema de edição genética CRISPR na corrente sanguínea de pacientes com uma doença hereditária potencialmente fatal — a Amiloidose por Transtirretina (ATTR). Considerada rara, a condição é causada por uma mutação no gene responsável por codificar a proteína transtirretina (TTR), o que leva ao acúmulo de uma “versão tóxica” dessa substância em vários órgãos, sobretudo no coração.

Em um ensaio clínico, seis pacientes — quatro homens e duas mulheres —, de idade entre 46 e 64 anos, receberam uma partícula lipídica criada com o objetivo de desativar o gene que causa essa mutação. Os resultados, publicados no periódico médico The New England Journal of Medicine no último sábado (26), foram animadores: em três deles, a substância se mostrou capaz de quase interromper a produção dessas proteínas tóxicas.

A partícula lipídica injetada nos pacientes carregava dentro de si dois RNAs diferentes: um mRNA que codifica as chamadas proteínas Cas9 — a base do método CRISPR —, e um “RNA guia”, responsável por direcionar essas proteínas a “atacarem” o gene que causa a mutação por trás da doença. Semelhante à uma tesoura, essa técnica é alvo de inúmeros experimentos mundo afora, uma vez que é capaz de “cortar” ou editar mutações no nosso código genético.

Em 2020, por exemplo, esse mesmo grupo de pesquisadores usou a metodologia para corrigir a mutação que causa a anemia falciforme. Nesse caso, eles precisaram remover as células-tronco do sangue de pacientes com a doença, modificá-las e, em seguida, infundi-las de volta ao corpo dos voluntários. É a primeira vez, no entanto, que a técnica é aplicada diretamente na corrente sanguínea de pacientes com uma doença genética. E a amiloidose por transtirretina não virou alvo pioneiro dos cientistas por acaso: as proteínas tóxicas associadas à doença são produzidas no fígado, um órgão que, em comparação aos demais, é capaz de absorver partículas estranhas — no caso, a injeção com os dois RNAs — com maior facilidade.

De acordo com os resultados do ensaio clínico, no intervalo de 28 dias após a injeção da partícula lipídica, três homens que receberam a maior das duas doses usadas nos testes — 0,1 micrograma por quilo (mg/kg) e 0,3 mg/kg — tiveram uma queda de 80% a 96% nos níveis de TTR no fígado. O valor é um pouco acima da média de 81% do remédio patisiran, que, apesar de estabilizar a doença, só consegue silenciar a produção de TTR temporariamente, o que faz com que precise ser injetado regularmente.

Foto: ELLA MARU STUDIO/SCIENCE SOURCE

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