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Ciência da Implementação: como garantir a adesão do paciente ao tratamento?

Nova modalidade de pesquisa clínica, a ciência da implementação ajuda a encontrar as respostas para aumentar a adesão ao tratamento

Por Futuro da Saúde

Tratamentos ótimos, com eficácia cientificamente comprovada, existem aos montes, para os mais diversos tipos de doenças. Idem para conhecimentos de fatores de risco que podem ser prevenidos, como os associados à obesidade, tabagismo, pressão alta e tantos outros que não só os profissionais de saúde, mas os próprios pacientes sabem de cor. Toda essa valiosa bagagem de pouco serve se não soubermos como fazer o paciente aderir ao tratamento ou qual a melhor forma de usar os recursos que temos para manejar a doença crônica. Encontrar respostas para desafios como esses é o foco de um novo tipo pesquisas: os estudos clínicos de Ciência da Implementação.

Como diz o nome, o objetivo é descobrir como implementar da forma mais eficiente, efetiva e abrangente uma solução de saúde. É identificar, por exemplo, qual formato de administração de uma nova droga vai permitir maior aderência ao tratamento ou quais as melhores diretrizes a serem seguidas pelos profissionais e instituições de saúde no cuidado do paciente.

Na sua rotina, os médicos vão desenvolvendo “fórmulas” de convencimento e engajamento do paciente. Por exemplo, 10% dos indivíduos que operam a vesícula têm diarreia quando comem algo mais gorduroso. Existe um quelante de sal biliar que é eficaz para este efeito. Só que a diluição é difícil, o pó não dissolve bem e o gosto não é lá muito agradável. Imagine o paciente tendo de fazer isso de três a quatro vezes por dia. Alguns vão preferir ficar com a diarreia. Mas se o médico já der a dica de colocar na geladeira e pingar limão, as chances de adesão aumentam.

Eu também me valho da tecnologia como aliada no processo de engajamento. No meu consultório, tenho uma grande tela onde eu mostro a imagem de tomografia e uso o zoom para focar detalhes a fim de que o paciente entenda por que estou indicando uma cirurgia para sua hérnia de hiato, por exemplo. Funciona muito bem e permite maior engajamento.

Como paciente, também sou disciplinado. Todo dia, religiosamente, tomo um medicamento para manter meu LDL (o colesterol ruim) abaixo de 80, pois tenho um score de cálcio alto, o que é risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas. Mas como incutir isso na cabeça dos indivíduos em geral que têm esse ou outros tipos de riscos cardiovasculares? Como mostrar que, embora não sintam absolutamente nada hoje, daqui a dez anos podem morrer de infarto se não cuidarem do problema?

As pesquisas de implementação são um recurso importante para entender esse “como” a partir de critérios científicos e dados objetivos, colhidos no front da prática assistencial, junto aos pacientes.

Estudo de ciência da implementação no Brasil
Um estudo pioneiro nessa modalidade será realizado no Brasil em uma colaboração que une o Einstein, por meio de sua Academic Research Organization (ARO Einstein), a healthtech epHealth e a farmacêutica Novartis. O estudo se concentrará em uma área muito relevante para a saúde populacional: os cuidados de pacientes com doença aterosclerótica. Essa enfermidade provoca o bloqueio das artérias, podendo levar ao infarto ou AVC. Representa a principal causa de morte e de incapacidade no mundo todo, inclusive em nosso país.

O estudo abrangerá cerca de 30 centros públicos e privados e acompanhará aproximadamente 3.700 pacientes durante 18 meses. Por meio de sorteio, os hospitais serão divididos em dois grupos. Um grupo trabalhará com uma estratégia inovadora de melhoria da prática clínica, com base em diretrizes, aplicativos para facilitar a consulta dos profissionais de saúde a essas diretrizes, sistemas de suporte à decisão clínica e aplicativos para ajudar os pacientes na adesão ao tratamento. O outro grupo de hospitais manterá o cuidado usual.

A pesquisa estudará quais mecanismos contribuem para a maior aderência ao tratamento e qual a melhor estratégia de prevenção, tratamento e manejo dessa condição crônica. E fará isso em diversos ambientes (unidades de saúde e hospitais públicos e privados), com diferentes perfis socioeconômicos de pacientes e de profissionais (médicos de família, cardiologistas etc.). Ou seja, conforme os resultados do estudo, essa estratégia poderá ser utilizada nas diversas formas de controle de doenças crônicas em qualquer ambiente, região ou nível de relacionamento entre profissional de saúde e paciente.

Pesquisas que levam à descoberta de novos medicamentos, dispositivos, tecnologias e geram novos conhecimentos sobre doenças são importantes motores dos avanços em medicina. Os estudos de implementação entram em cena para ajudar a entender os melhores caminhos e as intervenções que podemos fazer para que essas descobertas gerem o efeito desejado: proporcionar o melhor cuidado para as pessoas e impulsionar a saúde da população.

Foto: Futuro da Saúde